Por Emanoel Lacerda
Doutor Estranho no Multiverso da Loucura estreou nos cinemas brasileiros na última quinta-feira (05). O filme é a sequência de Doutor Estranho (2016) e o lançamento mais recente do Universo Cinematográfico da Marvel (UCM). Na trama, o mago Stephen Strange (Benedict Cumberbatch), conhecido como Doutor Estranho, precisa ajudar América Chavez (Xochitl Gomez), uma jovem com capacidade de viajar entre universos, a fugir de um grande mal que busca tomar seu poder para si. Com ajuda de seu parceiro Wong (Benedict Wong) e de Wanda Maximoff (Elizabeth Olsen), Strange embarca em uma jornada através do multiverso que o fará enfrentar antigos medos de seu passado e colocar em risco a sua e outras realidades.
Com mais de 20 filmes lançados e um punhado de séries, muitas histórias já foram contadas no UCM – várias delas seguindo a fórmula do estúdio que consagrou a franquia – mas até então, pouco se viu do gênero terror nessas produções. Talvez, o maior flerte que houve com esse estilo foi na série ‘WandaVision’, que serve como complemento para esse novo filme onde o terror é encabeçado de vez pela direção de Sam Raimi. Para quem já está familiarizado com o terror de Raimi, as referências e o trabalho de câmera no filme são evidentes – para quem não o conhece, o diretor ficou no famoso no terror por filmes como os da trilogia Evil Dead (no Brasil, Uma Noite Alucinante), mas também se destacou ao dirigir os três filmes da aclamada trilogia do Homem-Aranha de Tobey Maguire. Com essa escolha na direção, a Marvel encontrou o potencial para o primeiro filme de terror deste universo, mas em alguns momentos falta potencial nessa história para conseguir entrar de cabeça nisso.
Como filme de super-herói, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura ainda tem um saldo positivo ao trazer grandes cenas de ação, participações inesperadas e destaque para novos e potenciais personagens. Os acontecimentos de outros filmes deste universo envolvendo o Doutor Estranho são bem utilizados para desenvolver mais ainda o personagem, que agora precisa questionar antigas escolhas do passado e seu papel como protetor do universo. Wanda Maximoff, agora carregando o nome de Feiticeira Escarlate é a janela para que o filme consiga trabalhar os momentos assustadores na direção de Sam Raimi, o que pegou algumas pessoas nas poltronas do cinema despreparadas na virada de rumo que o filme teve ainda no começo.
Infelizmente, apesar de novos ares na direção e situações que ainda não foram exploradas nessa franquia, o filme deixa a desejar no que diz respeito à trama – o diretor até tenta levar a história para um lado, mas o roteiro – o qual ele não participou – puxa para outro. Quando dirigiu os filmes do Homem-Aranha, o diretor conseguiu encaixar elementos de sua direção pois a história abria espaços para isso, especialmente através dos vilões daquele filme, mas em Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, o antagonista talvez não seja considerado um vilão aos olhos do público, especialmente àqueles que acompanham esse universo de filmes e séries, apesar de Raimi, através dos elementos técnicos do filme, como a fotografia e edição de som, tentarem criar esse clima de “um grande mal” sobre um vilão que talvez não seja tão mal assim.
Dito isso, ao propor um filme de escala multiversal, o longa acaba sendo bem fechado em sua aventura, com pouco mais de três cenários onde a história avança – e que pouco avança, pois essa ideia de infinitas possibilidades permite que qualquer coisa aconteça na história, mas ainda assim sem deixar nenhuma consequência no universo principal do filme. Parece mais que o filme buscou em si mesmo uma desculpa para acontecer e depois de encaixar todas as cenas de ações e participações especiais – que são bem empolgantes por sinal – busca soluções tão simples e acessíveis que, se fossem pensadas no início do longa, a história não duraria mais que uma hora.
Ainda assim, é um saldo bastante positivo ver a Marvel arriscando ao trazer mais autoralidade para seus filmes, como já aconteceu com Eternos, dirigido pela vencedora do Oscar, Chloe Zhao, e também buscando novos formatos de contar histórias, especialmente em suas séries para o streaming Disney+. Como filme, Doutor Estranho no Multiverso da Loucura pode deixar a desejar quem esperava que esse multiverso de possibilidades fosse mais explorado, mas como parte de um projeto maior, o longa é um corajoso passo para o que pode encorajar em uma reformulação do UCM.
Emanoel Lacerda é estudante do 5° período do curso de jornalismo e colaborou com a coluna esta semana