O Brasil inicia os testes clínicos da primeira vacina para hanseníase, chamada Lepivax, em uma iniciativa histórica conduzida pelo Instituto Oswaldo Cruz. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou os testes nesta semana, marcando um importante avanço no combate à doença que afeta milhares de pessoas no país.
A Lepivax é desenvolvida pela entidade filantrópica American Leprosy Missions, dos Estados Unidos, desde 2002, e o ensaio clínico no Brasil conta com o patrocínio do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos/Fiocruz) e financiamento do Ministério da Saúde.
Apesar de não ser uma vacina preventiva, a Lepivax busca impedir o desenvolvimento da bactéria Mycobacterium leprae durante o tratamento da hanseníase, reduzindo as chances de sequelas nos pacientes.
A hanseníase, embora curável com o tratamento fornecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), é uma doença negligenciada que afeta a pele e os nervos, causando lesões graves quando não tratada de maneira adequada. O Brasil é o segundo país com maior número de casos da doença, atrás apenas da Índia.
O coordenador estadual do Movimento de Reintegração das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Morran), Elson Dias, destacou o caráter histórico do estudo. “Para nós, do Morran, é mais uma conquista, principalmente porque estamos acompanhando o Comitê de Vacina a nível nacional. Temos uma voluntária do Rio de Janeiro participando, e isso representa um avanço significativo para as pessoas diagnosticadas com a doença”, afirma.
A hanseníase ainda enfrenta estigmas e preconceitos, com muitos casos sendo diagnosticados em estágios avançados. “Nos locais de difícil acesso, como o interior do Amazonas, temos pessoas que chegam aos centros de referência com o grau 2 da doença, o estágio mais grave, muitas vezes crianças já com sequelas em pleno século XXI, o que é inaceitável”, destacou o presidente do Morran. A falta de uma busca ativa por novos casos agrava o problema, deixando muitas pessoas sem tratamento precoce, o que aumenta as chances de complicações.
Se os resultados dos estudos com a Lepivax forem positivos, a vacina poderá futuramente ser incorporada ao calendário nacional de imunizações, contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Atualmente, o tratamento da hanseníase pode durar de seis meses a um ano, e a vacina tem o potencial de acelerar o processo de cura e prevenir sequelas, oferecendo uma nova esperança para as populações vulneráveis que são mais atingidas pela doença.
Matéria produzida pela repórter Wanessa Souza para a TV Gazeta.