A 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), maior mobilização indígena do Brasil se encerram nesta sexta-feira (11). O evento, realizado em Brasília desde o dia 7 de abril, marcou os 20 anos da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) e reuniu milhares de representantes de diferentes povos, etnias e regiões do país.
Entre os presentes, o acreano Mava vivenciou pela primeira vez a experiência de participar integralmente da assembleia — e define o momento como transformador. “Foi além do que eu previa. Me senti em casa novamente. A experiência foi tocante, emocionante, acolhedora”, relata Mava, que é militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e da União da Juventude Comunista (UJC).
Acreano de origem não indígena, mas profundamente conectado à cultura e à realidade dos povos tradicionais da região, ele afirma que estar no ATL foi um reencontro com suas raízes. “A primeira coisa que me deu foi um choque de saudade. O Acre tem uma forte cultura indígena e estar no ATL me fez lembrar disso o tempo todo”, diz.

Mais que protesto, um espaço de comunhão
O ATL é reconhecido como o principal espaço de articulação e mobilização do movimento indígena brasileiro. Durante cinco dias, o acampamento recebeu marchas, assembleias, oficinas, rituais, apresentações culturais e denúncias contra a violência, o racismo e o descaso do Estado brasileiro com os direitos dos povos originários.
Para Mava, além da denúncia, o encontro é também uma demonstração viva de resistência, sabedoria e comunhão. “A comida é coletivizada, as culturas se cruzam, os rituais são potentes. As comunidades indígenas vivem, de sua maneira, uma comunhão que inspira”.
Apesar do clima de acolhimento e mobilização, o ATL também foi marcado por momentos de tensão. Na noite da quarta-feira (10), indígenas que realizavam um ato pacífico em frente ao Congresso Nacional foram atacados com gás lacrimogêneo por policiais militares e legislativos. A ação feriu dezenas de pessoas, incluindo idosos e crianças, e provocou indignação entre os participantes e entidades.
A deputada federal Célia Xakriabá (PSOL-MG), que também foi atingida pelos gases, repudiou a repressão nas redes sociais. Para Mava, o episódio escancara o papel opressor do Estado. “A polícia é uma máquina burguesa. Enquanto no 8 de janeiro os golpistas foram acariciados, nós fomos recebidos com gás em uma marcha pacífica. É revoltante.”

A diversidade indígena
Outro ponto marcante da edição deste ano, segundo Mava, foi a visibilidade dada às pautas de indígenas com deficiência e dos coletivos LGBTQIAPN+. “Foi emocionante ver que essas pessoas estavam ali, sendo respeitadas. Ainda existem desafios nas aldeias, claro, mas no ATL essas pautas foram acolhidas. Isso quebra muitos tabus impostos pela sociedade.”
Ao longo do ATL, Mava também participou de atividades políticas como representante do PCB e da UJC. Ele destaca que a motivação para estar no acampamento vai além da solidariedade: é um compromisso com a luta coletiva e contra o projeto colonial que ainda oprime os povos originários. “A gente precisa estar ao lado dos parentes, se organizar, lutar juntos. O ATL é um espaço que grita por justiça.”
Com o encerramento previsto para hoje para Mava, a mensagem que fica é de esperança, mas também de urgência. “Enquanto houver terra a ser demarcada, crianças sendo ameaçadas, lideranças silenciadas, o ATL precisa continuar existindo. Quem puder participar no futuro, participe. É uma experiência que transforma”, conclui.
Produção feita pelo repórter do Agazeta.net Diogo José