Na Escola Rural Manoel Thiago Lindoso, localizada no Ramal União, dentro da Reserva Extrativista Chico Mendes, em Rio Branco, o cenário é de abandono. Para os alunos, ir à escola é, antes de tudo, um risco. As tábuas do piso estão podres, repletas de buracos que ameaçam ceder a qualquer passo.
O que foi construído em alvenaria também está deteriorado: reboco se desfaz das paredes, o piso está rachado e as portas de madeira se desfazem com o tempo e a umidade. “É um perigo. A gente tem medo de receber uma notícia de que uma criança quebrou a perna ou o braço. A escola tá feia, tá perigosa mesmo”, desabafa, por áudio, uma mãe de aluno.
A situação é agravada pelas condições do ramal. Em dias de chuva, o trajeto até a escola se transforma em um desafio. Recentemente, o ônibus escolar caiu em uma ribanceira, impossibilitando o transporte dos alunos. Em um dos áudios enviados pelas mães, outra denúncia:
“Hoje mesmo foi o primeiro dia de aula deles. Eles tiveram que ir montados a cavalo. São três quilômetros a pé ou montado até o ramal principal pra pegar o carro da escola. Isso não é nada fácil.”
A falta de acesso regular obriga muitas famílias a interromper a frequência escolar durante o inverno amazônico. E a precariedade da escola amplia ainda mais o sentimento de abandono vivido por quem mora na área rural. Para os pais, a educação é o único caminho possível para que os filhos tenham uma vida diferente.
“Nós queríamos melhoria para os nossos filhos. São tantas mães sofrendo por falta de transporte, por falta de atenção. Eu nasci e me criei no seringal. Hoje eu não tenho estudo, mas queria que meu filho tivesse. Pelo amor de Deus, eu queria dar o estudo que nunca tive.”
Em Capixaba, outra mãe percorreu longos quilômetros pelo ramal Zaquil Machado, pegou um ônibus na BR-317 e depois o coletivo até Rio Branco para ir pessoalmente à Secretaria de Educação. O objetivo: pedir que o ônibus escolar busque seus três filhos mais próximos de casa.
Ela trouxe vídeos que mostram a rotina das crianças chegando à noite em casa, após andar quilômetros no escuro. “Estou indo encontrar eles com a lanterna, porque eles estão vindo e só um deles está com a lanterna do celular, escondido, porque nem pode levar celular pra escola”, relatou em vídeo.
“Aí eles chegam na minha casa sete horas da noite, porque o ônibus não faz os três quilômetros até lá. Fui na Secretaria, falei com o motorista, ele disse que até podia ir, mas ele não ia porque ele ia tirar dinheiro do bolso dele para fazer esses três quilômetros.”
Para quem vive na zona rural, manter os filhos na escola virou um esforço diário — e solitário. A precariedade da estrutura, o transporte deficiente e a falta de resposta das autoridades transformam o direito à educação em um percurso de obstáculos.
“Se tratando de educação, é uma educação fantasma que a gente vive na área rural. Fico pensando o que as autoridades pensam quando assumem um cargo. Era pra ser pra fazer justiça, não pra deixar a gente esquecido.”
Com informações do repórter Adailson Oliveira para TV Gazeta