Ela veio, sim! Depois de especulações, lágrimas e, principalmente, muita humilhação de fãs, daqui a poucas horas, as areias da praia de Copacabana estarão molhadas, não pelas ondas do mar, mas pelo suor de mais de 1 milhão de pessoas dançando ao som da Mother Monster!
Lady Gaga criou estética, moldou uma geração sem medo de ousar e monstrou versatilidade, transitando pelos mais diversos gêneros, mas após escorregões no cinema e o esfriamento do que nem pode ser considerado uma era, Chromatica, ela volta com MAYHEM, um disco que entrega um som tão caótico quanto desconectado.
Lançado em março, seu oitavo álbum de estúdio, tropeça na própria proposta e tenta resgatar a Gaga provocadora, prometendo, e, de forma até duvidosa, entregando, hits como “Die With a Smile” e “Abracadabra”. Mas será que esse álbum consegue sustentar um show desse porte? Ou estamos apostando demais em hits do passado para mascarar um presente duvidoso?
Hoje, falaremos faixa a faixa sobre esse álbum fatídico que promete trazer alguns momentos de silêncio à Copacabana, tirando os fãs que tiveram coragem de colocar o tal caos no repeat.

Disease – 10/10
Bom demais pra ser verdade! Disease é uma obra-prima que precede uma maré duvidosa! Essa é para aqueles que sentem saudades da antiga Lady Gaga, é um dark pop pesado, e quando digo isso, falo da forma mais literal possível.
Com batidas que fazem você sentir seu coração pulsando, a música te leva pra baixo, e o refrão gritante te coloca lá em cima. Além de um coral envolvente e vocais de ópera, de certa forma demoníacos (para não dizer angelicais).
Se o álbum inteiro tivesse aprendido com a primogênita, e ela tivesse apostado na coragem de investir em uma era com essa premissa, e, principalmente, com essa qualidade, veríamos um possível melhor álbum da carreira.
Mas entendo que, devido à última música do álbum, Die With Smile, e pela corrida dos charts, o álbum precisou entrar em outros nichos pela coesão (que passou longe). Enfim, Disease é muito boa, a melhor do álbum, sem sombra de dúvidas.
Abracadabra – 9.5/10
Mantendo a estética densa de Disease, Abracadabra se destaca por sua pegada mais dançante, acessível, e comercial funcionando como um excelente single. Embora demande algumas audições para se tornar familiar, a faixa tem todos os méritos por ter alcançado o impacto que conquistou.
O ponto alto, sem dúvidas, é a ponte, onde os vocais, já destacados na faixa anterior, atingem seu clímax. É um momento de beleza pura, que contrasta com o caos do refrão, evocando um verdadeiro ritual sonoro. Uma Bad Romance da nova era, um hino digno de Lady Gaga.
Apesar de tantos acertos, a faixa peca um pouco na repetição e em versos que, por vezes, se contêm demais. Poderia ser a chama que dá vida ao álbum, mas faz seu papel sendo a luz no fim do túnel. E, diante da escolha entre dançar e morrer, escolhemos dançar, Lady in red!
Garden Of Eden – 8/10
Aqui começamos a entrar em um território mais arriscado: uma fusão de guitarras sintetizadas, camadas vocais e um coral que parece te chamar.
O refrão é grandioso, no melhor estilo Born This Way, mas o pós-refrão cai na repetição novamente. Garden of Eden é divertida e marca um certo distanciamento das faixas iniciais, abandonando o dark pop mais denso para apostar em um pop rock com a cara das garotas.
Não é uma música ruim, pelo contrário, o refrão gruda na cabeça e acaba sendo uma das mais memoráveis do álbum (o que não é tão difícil assim!)
Perfect Celebrity – 8/10
Nessa faixa, os versos são hipnotizantes, te puxam para dentro da música e vão criando uma expectativa intensa. A guitarra traz um tom de mistério envolvente, e tudo parece caminhar para algo grandioso… até que chega o refrão. E aí, a decepção: frases jogadas com o título da música, sem métrica clara, de certa forma repetitiva.
Perfect Celebrity tinha tudo para ser uma das melhores, mas tropeça justamente onde mais prometia. Ainda assim, os gritos sujos e a potência vocal salvam a faixa, entregando algo que, mesmo com falhas, ainda vale a pena ouvir.
Vanish Into You – 8/10
Com piano marcante e vocais que ainda flertam com o dark pop, Vanish Into You abre o álbum com uma melodia dramática,mas logo surge uma sensação estranha, por que essa faixa soa tão… alegre?
Ela funciona quase como um prelúdio, um alerta disfarçado do que está por vir no álbum, mudanças de tom, quebras de expectativa e certa inconsistência. Não é uma música ruim, longe disso. O refrão é muito bom e tem uma melodia envolvente, mas a produção no geral é básica, sem grandes riscos ou experimentações.
É genérica? Um pouco. Mas também é fofa, acessível e não compromete. Não merece uma nota baixa, mas também não deixa uma marca profunda.
Killah – 7/10
Fod*-se o dark pop e toda a estética construída até aqui, e tudo bem, ela nunca prometeu ser só isso. Mas pra quem caiu de paraquedas no álbum, estava começando a se acostumar com uma proposta mais coesa… até Killah surgir e, sem cerimônia, jogar uma pá de terra em tudo.
Sobre a música em si? Extremamente boa. Teatral, com pegada rock, toques de jazz e uma batida dançante e hipnótica. Se fosse analisada isoladamente, teria chances reais de levar um 10. Mas o problema é justamente esse: o que essa faixa está fazendo aqui? Ela parece vinda de outro universo. Se você ouvir Abracadabra e depois Killah, nunca imaginaria que pertencem ao mesmo álbum.
É como um descarte do álbum da Arlequina, do Joker 2. A partir daqui, o disco entra num território totalmente diferente do início, o que pode até ser bom, mas quebra completamente a proposta inicial.
E talvez o maior erro de um artista seja não sustentar a estética e o conceito que propôs. No fim, é frustrante. Seria mais interessante lançar vários mini EPs com 3 ou 4 faixas cada, mantendo a identidade de cada proposta, do que tentar amarrar tudo num álbum que claramente não quer se amarrar.
Zombieboy – 6.5/10
A produção é excelente, o refrão é ótimo, mas os versos… chatinhos, embora ainda toleráveis. O maior problema, no entanto, volta a ser a pergunta que começa aparecer com frequência no álbum, o que isso está fazendo aqui?
Zombieboy é animadíssima, quase uma trilha de festival, palmas, pulos, euforia. Mas essa alegria toda destoa tanto que soa deslocada. E isso é frustrante, porque seria incrível ter um álbum inteiro com essa pegada!
O problema é que a artista parece querer abraçar tudo de uma vez, jazz, rock, dark pop, e o resultado é um projeto confuso, uma salada sonora difícil até de avaliar isoladamente ou dentro do todo.
Espero, sinceramente, que ela aprenda com isso e que, no futuro, se liberte da obsessão por números e tendências, focando em criar obras com identidade mais definida.
LoveDrug – 4/10
Com uma vibe oitentista que foi reciclada até a exaustão no pop pandêmico de 2020, LoveDrug entrega um ritmo genérico e esquecível. A faixa simplesmente passa batida. Nem a Dua Lipa, especialista nesse estilo, conseguiria dar um jeito nisso.
A essa altura, criticar a falta de coesão do álbum já virou comum, mas é inevitável. E pra não dizer que tudo aqui é um desastre (apesar de quase ser), a guitarrinha no final tem seu charme, ainda que não salve muita coisa.
How Bad Do U Want Me – 4/10
“Pega esse descarte do Joanne, coloca umas batidinhas mais atuais e lança.” Consigo imaginar perfeitamente a Lady Gaga falando isso na produção de How Bad Do U Want Me.
A faixa até tem seu charme, mas duvido que não tenha sido feita com a intenção de soar country. Se fosse um pouco menos básica, talvez até hitasse no Brasil.
A sonoridade lembra algo da Taylor Swift, e não, isso não é um elogio aqui. Se a intenção era mirar nos charts, teria sido mais eficaz chamar ela pra um feat logo. No fim, o refrão baseado na repetição cansativa do título deixa tudo ainda mais previsível e sem criatividade.
Don’t Call Tonight – 4/10
A única coisa que realmente se salva aqui é a ponte, com uma vibe Daft Punk que até empolga. Mas o resto? Esquecível, genérico e cansativo, mais um obstáculo no caminho até o fim do álbum.
Não consigo imaginar uma plateia se mantendo animada com esse ritmo de trilha sonora de loja de departamento. E justo quando parece que ela vai entregar algo mais ousado… é só ilusão. Tudo volta pra mesmice.
Seria bem mais interessante se ela apostasse em uma faixa inteira no estilo da ponte. Pelo menos os vocais continuam sendo o ponto forte.
Shadow of a Man – 7/10
Aqui, Lady Gaga bebe direto da fonte de Jamiroquai e Modjo, dois artistas sublimes, e o resultado é, sim, uma boa música. É um respiro bem vindo no meio de tanta… coisa duvidosa.
Apesar de destoar bastante das outras faixas (e impor a repetição que já critiquei tanto), essa canção tem um toque diferenciado. É bem produzida, animada, e traz uma mistura interessante de rock antigo com soul. Funciona.
Mas existem outros artistas que fazem esse estilo com muito mais naturalidade e domínio. Ainda assim, é um acerto isolado no álbum.
The Beast – 6.5/10
The Beast tinha potencial, e bastante. Mas ficou só nisso. Consigo imaginar facilmente The Weeknd elevando essa faixa a outro nível.
O problema aqui está nos vocais, as escolhas não combinam com o tom sedutor que a música pede. A guitarra, por sinal, acaba tendo mais presença do que a própria Gaga.
A faixa escapa do esquecimento, mas por pouco. É tolerável, sim, mas dava pra ter sido muito melhor se houvesse mais cuidado na produção e na estrutura.
Blade of Grass – 9/10
Linda. Blade of Grass é uma das joias do álbum. É triste pensar que ela provavelmente foi feita apenas para introduzir Die With a Smile, servindo como ponte entre estilos. Isso, no fim, acabou sendo um tiro no pé, essa faixa merecia brilhar por conta própria.
A melodia tem ecos de sucessos recentes, como APT do Bruno Mars com a Rosé do BLACKPINK, e até um toque de Radiohead na ponte. É uma mistura refinada, onde Gaga mostra domínio absoluto desse estilo mais contido e emocional, algo que remete ao melhor de Joanne, só que mais maduro e bem executado.
Apesar de funcionar bem como transição, Blade of Grass é bonita o suficiente para se sustentar sozinha. Posso criticar o álbum em muitos pontos, mas aqui ela acerta.
Die With a Smile – 10/10
Falando em Bruno Mars… desde o início desta crítica venho mencionando Die With a Smile, porque acredito que ela é a grande responsável por mudar e definir o tom do álbum.
É como se Gaga tivesse prometido um tipo de experiência, mas, ao enfiar essa faixa, mudasse completamente a proposta, para o bem e para o caos conceitual do projeto.
Lançada entre dois gigantes já consolidados, a música parece ter sido jogada no álbum de forma quase aleatória, uma ideia típica (e louca) da Lady Gaga. Mas apesar dos pesares… que música, meus amigos!
Die With a Smile é uma obra-prima. Bruno Mars domina a faixa. Ele não é só protagonista do sucesso, mas também da produção, trazendo muito do DNA do Silk Sonic, projeto vencedor dele Grammy.
O charme, a melodia e o acabamento estão todos ali. Ainda assim, Gaga não desaparece, ela entrega um belting poderoso, com uma emoção crua, quase cinematográfica.
A guitarra é exuberante, o ritmo é viciante, dá vontade de sair por aí procurando alguém pra passar o fim do mundo junto. É uma música tão bonita, com um final mais lindo ainda!
Álbum MAYHEM, de Lady Gaga – 7,25/10
Enfim, é isso. O caos de MAYHEM estará presente na maioria das faixas no palco do Gagacabana, neste sábado (3), e minha visão geral é a seguinte, entre quedas e tropeços, Gaga entrega um álbum que, mesmo forçado e bagunçado, consegue manter uma certa coesão, no seu próprio estilo.
MAYHEM te leva por uma jornada de ritmos, referências e atmosferas diferentes, com uma capa que, como o som, parece estilhaçada. É definitivamente um projeto com a assinatura de Gaga, sendo ousado, teatral e com algumas músicas boas de ouvir.
Infelizmente, ele também traz faixas que soam esquecíveis e que, com o tempo, provavelmente não terão o destaque merecido. Agora, cabe a ela transformar esse material em um show digno, e, quem sabe, fazer o Brasil inteiro mergulhar nesse tal caos.
Dou nota 7,25. E não, isso não é algo ruim. Pelo contrário, mostra que é importante se reinventar, arriscar e seguir explorando novas estéticas. Tenho certeza de que quem é fã de verdade gostou bastante.
