Por Camila Holsbach para o Agazeta.net
Em Senador Guiomard, Quinari para os mais íntimos, cidade do interior do Acre, nasceu uma menina de olhos extremamente atentos às costuras, tinturas e histórias da vida real, daquelas que, assim como a de tantos acreanos, viram suas raízes brotar dos seringais. Denise Arruda é uma das filhas mais novas dos doze irmãos com quem a vida resolveu presenteá-la.
Rodeada de tecidos, retalhos e roupas doadas que ganhavam cara nova a cada toque da mãe, Denise cresceu em uma casa simples e sem muitas regalias, mas onde a fartura pode ser medida pela métrica do amor e da luta.
Filha de um seringueiro e de uma mulher incansável e multifacetada, que tinha inúmeros ofícios para poder dar conta das agruras da vida no interior – era doceira, lavadeira, costureira e tantas coisas mais -, Denise aprendeu cedo que viver é transformar. A metamorfose sempre fez-se necessária assim como o alinhavar dos tecidos.
“Mesmo ainda pequena, eu acompanhava tudo com atenção e encantamento. Ficava fascinada pelas roupas das filhas dos patrões quando via no varal estendidas e amava também ver o tingimento que minha mãe fazia”, relembrou com nostalgia. “Nossas roupas pareciam ‘novas’ de novo! Lembro das doações de calças com o fundo rasgado, que minha mãe transformava em jardineiras e shorts. Ela reaproveitava tudo com criatividade”, disse.
Hoje, ela mora em Rio Branco, mas carrega a cidade de Senador Guiomard no peito como quem leva consigo um escapulário valioso. Formada em Biologia, e criadora do Ecomoda Acre, Denise leciona por vocação; ela é o tipo de pessoa que costura, sem ziguezaguear, conhecimento com propósito e amor pelo meio ambiente.
Nasce o Ecomoda Acre
O projeto que nasceu em meio à feiras escolares e oficinas. Retalhos, corantes naturais e muita criatividade eram os ingredientes de uma ideia que deu muito certo, e hoje é uma importante rede de educação ambiental e moda sustentável. O croqui que começou com alunos e linhas coloridas virou movimento.
“Vi que os olhos dos alunos brilhavam quando mexiam com tecido, com arte, com reaproveitamento. Era mais do que ciência: era expressão, era pertencimento”, conta Denise.
“O Ecomoda Acre é isso: um projeto que reaproveita tecidos e transforma vidas”, explica. Mais de mil pessoas já foram alcançadas, direta e indiretamente, pelas oficinas, formações e eventos. São jovens, professores, costureiras e, recentemente, até idosos, como ela mesma celebra. “Ver pessoas com mais de 60 anos se empolgando com moda sustentável é a prova de que consciência ambiental não tem idade”.
Ecomoda e a tecitura com o Sebrae
A trajetória se tornou ainda mais sólida com o apoio do Sebrae, que ajudou Denise a se formalizar como MEI e entender o lado empreendedor. “Aprendi a profissionalizar o projeto sem perder a essência. Sou educadora, mas também empreendedora de um negócio com propósito”, afirma. “Foi através do Sebrae que entendi melhor os benefícios de abrir um MEI e como isso poderia ajudar a estruturar melhor o Ecomoda Acre como um negócio social sustentável”, reiterou.
Para Denise, o Sebrae tem um papel muito importante na trajetória como empreendedora. “Participei (e ainda participo) de reuniões, oficinas e formações promovidas pelo Sebrae, onde aprendi sobre empreendedorismo, gestão de pequenos negócios, formalização e a importância da mulher como protagonista nesse processo”.
Luz na passarela
No dia 19 de julho de 2025, às 19h, no Hotel Terra Verde, Denise e mais 20 participantes vão apresentar uma coleção feita com tingimento natural e retalhos frutos de reaproveitamento.
Com boas doses de esperança e sensação de dever cumprido, o desfile marca uma capacitação realizada através de um projeto pela Lei Rouanet Norte. O evento é gratuito e aberto ao público, que poderá, inclusive, constatar que estilo e sustentabilidade podem dividir o mesmo espaço sem nunca ficar dèmodé.
“É mais que um desfile. É uma celebração da beleza que nasce do cuidado com o planeta e com o outro”, finalizou, Denise.