Arte: Geovanna Moraes de Almeida
Você já ouviu falar em “Lugar de fala”? O termo se propagou nas mídias sociais e televisivas através de memes e entrevistas, uma delas foi a participação da atriz e influenciadora digital Kéfera Buchmann no programa Encontro com Fátima Bernardes1, onde o tema era a “quarta onda do feminismo”.
Durante o programa em um debate acalorado com um convidado que defendia a ideia de que o feminismo “era bonito no papel”, relatando logo em seguida um episódio não muito agradável que teve com uma mulher, Kéfera no calor da conversa, respondeu ao convidado “Isso que você está fazendo é mansplaining que é o homem explicar o feminismo para a mulher”. Mesmo ele tentando se defender, ela continua “Agora você está manterrupting, que é quando você tenta interromper uma mulher explicando feminismo para vocês. Não é seu lugar de fala, você pode ouvir, complementar e nos respeitar”, disse a influenciadora digital.
Com esse episódio, o tema tomou proporções gigantescas na mídia a respeito do conceito “lugar de fala”, sendo visto como uma pauta de feminista radicais.
Mas afinal, o que é esse tal lugar de fala?
Uma das grandes propagadoras desse tema no Brasil foi a filósofa Djamila Ribeiro, com seu livro O que é lugar de fala?2, na obra a autora parte da ideia de que o lugar de fala nada mais é do que nos posicionarmos, sobre determinado assunto ou fenômeno, a partir das nossas experiências sociais, nossas vivências. Para ela, o lugar de fala é
“pretende-se também refutar uma pretensa universalidade. Ao promover uma multiplicidade de vozes o que se quer, acima de tudo, é quebrar com o discurso autorizado e único, que se pretende universal.”3
Em outras palavras, o lugar de fala não vem para silenciar os sujeitos sociais, mas sim, possibilitar que todos possam ter seus posicionamentos ouvidos e compreendidos. É criar a possibilidade de que grupos silenciados realizem suas reivindicações em espaços de poder, onde possam ser vistas e ouvidas.
“O conceito não é um aviso de censura, mas sim um alerta para a construção de uma sociedade mais igualitária e favorece a participação de grupos historicamente marginalizados, excluídos e violentados.”3
Trazendo um diálogo em que a autora Patricia Hill Colllins4 nos apresenta o conceito de Ponto de Vista, tomamos conhecimento de que para um mesmo acontecimento podem ser produzidas várias interpretações. Tal fato nos possibilita entender que não precisamos ser a figura central do tema para participar do debate, pois nós como indivíduos sociais PODEMOS SIM falar sobre assuntos variados, mesmo que pareça não pertencermos a ele. Mas, também é necessário que nos coloquemos em um lugar de escuta, para que possamos ouvir e compreender as demandas sociais reivindicadas por outros grupos que há muito tempo foram silenciados pela sociedade.
REFERÊNCIAS:
[1] AQUARELA PAUSA. Kéfera Buchmann discute com participante do Encontro com Fátima Bernardes ao vivo. Youtube, 13 dez. 2018. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=uVvi6Y6ZpyY. Acesso: 27 jul. 2023.
[2] RIBEIRO, Djamila. O que é lugar de fala?. Belo Horizonte: Letramento, 2017. 112 p.
[3] VICENSO, Giacomo. O que significa lugar de fala? Conceito não é uma forma de calar as pessoas. ECOA Uol, 08 abr. 2021. Disponível em: https://www.uol.com.br/ecoa/ultimas-noticias/2021/04/08/o-que-significa-lugar-de-fala-conceito-nao-e-uma-forma-de-calar-as-pessoas.htm. Acesso: 27 jul. 2023.
[4] COLLINS, Patricia Hill. The black feminist thought London, Routledge, 2000.
Escrito por Jardel Silva França – Mestrando em Letras: Linguagem e Identidade pela Universidade Federal do Acre (PPGLI/Ufac). Especialista em Educação Especial Inclusiva pela Faculdade de Educação Superior Euclides da Cunha (Inec). Licenciado em História (Ufac). Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre (Neabi/Ufac).