Entre os meses de novembro e dezembro do ano de 2022 tivemos a Copa do Mundo FIFA ou Campeonato Mundial de Futebol FIFA. Essa edição do campeonato teve muitas particularidades, entre elas a data de realização do evento que aconteceu um tanto próximo às comemorações de final de ano (Natal) em consequência do clima (o período menos quente) do país que recebeu o evento, o Catar.
A escolha do país, o primeiro país no Oriente Médio a ser anfitrião da Copa, pela FIFA foi alvo de críticas. Não podemos negar que ocorreram choques culturais, acredito que muitas pessoas estranharam a proibição de venda de cerveja e outras bebidas alcoólicas nos arredores do estádio em que ocorria o jogo. Além disso, o país é conhecido por violar direitos humanos, principalmente a proibição da homossexualidade, os direitos das mulheres e a exploração de trabalhadores imigrantes.
Segundo o jornal inglês The Guardian mais de 6.500 imigrantes – de países considerados subdesenvolvidos como Índia, Paquistão, Nepal, Bangladesh e Sri Lanka – morreram nos últimos 10 anos, ou seja, desde que conquistou a posição de sediar a Copa do Mundo.
Apesar de tudo isso, a copa aconteceu, o Brasil não ganhou, e para a alegria de alguns e desgosto da maioria dos brasileiros quem ganhou a Copa de 2022 foi a Argentina. Mas, o que gostaríamos de destacar hoje com esse texto e que ficou muito expresso durante a Copa é como o futebol não é apenas um jogo, mas uma atividade que aponta posicionamentos políticos.
A FIFA proibiu durante os jogos que a Dinamarca usasse uniformes em apoio aos direitos humanos e que de alguma maneira fazia críticas ao país que sediava o evento; também proibiu a Bélgica de usar a palavra LOVE no uniforme; Inglaterra foi proibida de usar braçadeiras LGBTQIA+, não somente as equipes não podiam se expressar politicamente, mas também para reportes.
Mesmo assim, de alguma maneira, resistindo às ameaças da Fifa de imposição de sanções, jogadores, torcedores e profissionais do jornalismo que acompanhavam o campeonato deram um “jeitinho” de se posicionar frente às imposições da Fifa ou para criticar o posicionamento do país sediava o evento e que viola os direitos humanos.
Fotos: Reprodução/Intagram Midia Ninja Esporte
Para além da Copa, gostaríamos de lembrar também os acontecimentos recentes de casos de racismo que envolve o esporte. O atleta que tem sido alvo recorrente é o jogador brasileiro Vinicius Júnior, atacante do Real Madrid, que já sofreu mais de uma vez ataques racistas durante o Campeonato Espanhol, entretanto mesmo com as duas denúncias feitas pelo La Liga os casos foram arquivados pelo Ministério Público Espanhol. Assim como Vinicius Jr., sofreram racismo muitos outros atletas brasileiros e estrangeiros como o próprio Neymar, Mbappé, Daniel Alves, o goleiro Aranha, Balotelli, Lukaku, Marcelo, Marinho, entre MUITOS outros.
Esse fato não é novidade na Europa e também é realidade recorrente no Brasil. Mesmo diante das denúncias feitas, a maioria dos casos são arquivados ou os resultados dos processos não são favoráveis àqueles que sofrem a ação racista, e isso é resultado da nossa estrutura racista. As ligas organizadoras de campeonatos, assim como a Confederação Brasileira de Futebol não fazem “vista grossa” para os atos, são poucos ou ainda quase inexistentes as ações contra os atos criminosos (lembrando que Racismo ou Injúria Racial são crimes no Brasil!).
O Observatório da Discriminação Racial do Futebol traz os seguintes dados sobre o Racismo no futebol brasileiro:
Fonte: Observatório da Discriminação Racial no Futebol 2020
Fonte: Observatório da Discriminação Racial no Futebol 2020
Fonte: Observatório da Discriminação Racial no Futebol 2020
Para finalizar, ainda quero comentar com os leitores de um dos poucos – raros – atleta brasileiro que após aposentadoria falou abertamente sobre sua bissexualidade, Richarlyson ex-jogador do São Paulo (time que é associado com a homossexualidade, apelidados de “bambis”) e do Atlético Mineiro.
O futebol e outros esportes que são culturalmente associados à masculinidade acaba por inibir e excluir pessoas que não estejam dentro da heteronormatividade. No caso das mulheres ocorre o oposto, caso seja mulher e esteja em um esporte considerado “masculino” a sua feminilidade é questionada. O machismo é tão latente nos esportes que os campeonatos femininos não são tão divulgados quanto o masculino e nem as atletas e suas premiações são tão bem pagos ou reconhecidos. As meninas desde a infância não são estimuladas a fazer esportes, a ir para rua praticar brincar, correr… esperamos que em um futuro próximo o racismo, o machismo, LGBTQIA+fobia, a xenofobia e qualquer outro tipo de discriminação não sejam a realidade do esporte, em nenhum lugar, as resistências assinaladas anteriormente são exemplos de pessoas que querem tornar esses espaços mais democráticos e inclusivos.