Uma festa perdurando por mais de 120 anos sendo uma das mais antigas que Xapuri enquanto município, aprimora tradições e agrega pessoas de diversos lugares do mundo, com curiosidades e fé na tradição, tudo com um significado tão grande que pessoas saem a pé na procissão para devotar e pedir por milagres. Não sendo somente a fé que sustentava a crença, mas a necessidade de um Padroeiro que rogasse pelas necessidades do povo da floresta, visto a escassez da medicina e restando apenas o Santo como auxílio.
Em 1903, no auge das tensões, seringueiros e povos de outras colocações buscam o refúgio para a angústia e aflição de um possível ataque armado vindo a acontecer meses depois na região sul da Amazônia, rogando uma ajuda divina, um grupo com cerca de 100 católicos.
Procissão em Xapuri-AC, ano não encontrado .

saíram às ruas rogando para São Sebastião interceder por eles. Ocorreu então no dia 06 de Agosto do mesmo ano a revolta armada que seria vista como “Revolução Acreana” eclodindo na chamada Princesinha do Acre (Xapuri) o município que vivia em sua melhor fase econômica, sendo o local um dos maiores produtores do Ouro Branco (a borracha), atraía conflitos entre Bolívia e Brasil, sendo ainda território Boliviano, mas habitado por brasileiros os chamados homens e mulheres da floresta que trabalhavam na exploração do látex.¹
Segundo o artigo publicado pela Das Amazônias, revista escrita por discentes da área de História, da Universidade Federal do Acre, intitulado: “Milagre da Flecha”: Devoção a São Sebastião – AC² , o Santo é responsável por algumas proteções como a peste, fome e guerra. Denominado como o Santo da Floresta. Abaixo mostramos nossa foto mais antiga (encontrada sem datação) sobre a procissão e percebemos a mistura de diferentes classes, idades, mas unidos pela fé.
“Hoje, 20 de janeiro, Xapuri comemora o dia de São Sebastião, santo padroeiro da cidade. Conhecida como ‘Princesinha do Acre’, a cidade de Xapuri foi o principal motivo da disputa entre Brasil e Bolívia pelo território do Acre, pois era na época a região onde mais se produzia borracha no mundo, sendo lá que deu-se início, a 6 de agosto de 1902, a Revolução Acreana”⁴.
Procissão de 2015, Xapuri-AC

A imagem demonstra que por mais que a festa seja algo que acontece todo ano, não diminui a quantidade de fieis, mas firma a fé de inúmeras pessoas todos os anos. A cerimônia cultural acontece todo início do ano precisamente no dia 20 de janeiro, reconhecida pelo “vinte” e desde 1903 acarreta saberes desde o seu início e a fé que ela segue por anos.
O atual pesquisador sobre a Festa de São Sebastião e professor da Universidade Federal do Acre, professor Dr João Paulo Pacheco, afirma que, “a festa vai além de algo para demonstrar fé, mas um modo de fugir dos problemas e das opressões que viviam os moradores do local”.
Igreja de São Sebastião atualmente.

Em um artigo do Prof. Dr. ainda em produção, ele descreve “Como um evento importante no panorama cultural, religioso e político da região Norte do Brasil, em especial daquela área, funcionando como espaço de socialização não apenas de fé, mas, também como constructo das práticas de resistência dos caboclos, seringueiros, posseiros e ribeirinhos às transformações de seus modos de vidas e culturas com a desconstrução do sistema heveicultor decorrente da Ditadura Civil-Militar Brasileira da última metade do século XX”. Sendo reconhecido como um patrimônio imaterial (tudo aquilo que remete à memória de práticas, tradições etc) , atualmente uma das maiores festas da região norte e com um potencial para se tornar um patrimônio, percebemos que os modos de resistências vão além de algo material como armas, mas em conjunto, com a fé e os saberes adquiridos no meio social e com o passado histórico de lutas, e silenciamentos daqueles que sofreram com o trabalho exploratório, aos que passaram por condições de doenças sem auxílio que eram obrigados a enfrentar e os obrigados a participarem de um conflito sem nem ao menos saberem o real motivo da hostilidade que aconteceu.
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[1] Fundação Elias Mansour : A tradicional festa de São Sebastião de Xapuri completa 120 anos, disponível em : https://www.femcultura.ac.gov.br/a-tradicional-festa-de-sao-sebastiao-de-xapuri-completa-120-anos/ . Acesso: 29 set. 2024.
[2] LIMA, Ramon Nere de; FRANÇA, Jardel Silva. “Milagre da flecha”: devoção a São Sebastião em Xapuri -Ac. Das Amazônias, Rio Branco, v. 3, n. 2, p. 103-112, ago./dez. 2020.
[3] Imagem 1 disponível em: MAIA, D. Memórias do Acre. Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/groups/439444132814466/permalink/767542556671287/?app=fb. Acesso em: 20 set. 2024.
[4] Imagem 2 disponível em: MAIA, D. Memórias do Acre. Facebook. Disponível em: https://www.facebook.com/groups/439444132814466/permalink/767542556671287/?app=fb. Acesso em: 20 set. 2024.
Por Sara Thalita Monteiro Cordeiro, bacharelanda do curso de Bacharelado em História, pela Universidade Federal do Acre e Graduanda em Letras Português pela Universidade Estácio de Sá. Bolsista do Projeto de Iniciação Científica (Pibic) intitulado: Devoção e Patrimônio: A Festa de São Sebastião em Xapuri-AC (1903-2023).