“A memória é um fenômeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a história, uma representação do passado. Porque é afetiva e mágica, a memória não se acomoda a detalhes que a confortam; ela se alimenta de lembranças vagas […]” – Pierre Nova.¹
Sob essa perspectiva de Pierre Nova, podemos compreender o papel fundamental da memória na construção historiográfica de algo ou alguém, ainda mais quando passa a ser um fenômeno coletivo e social. Além disso, quando tais memórias são construídas através de acontecimentos vividos, individualmente ou coletivamente, onde posteriormente nos trazem a ideia de pertencimento a um grupo ou lugar.
Assim nasce um Centro Acadêmico Pedro Martinello, onde a construção da memória vai se constituir por quase uma década, pois segundo Michael Pollak, a memória é constituída por pessoas e personagens e sobre elas que dedico esta coluna, a fim de manter a memória de Pedro Martinello e das pessoas as quais passaram no Centro Acadêmico vivas!
Centro Acadêmico do Bacharelado em História
Primeiramente, um Centro Acadêmico (CA) é uma entidade com o objetivo representar todos os discentes do curso. E para contar a história deste grande Centro Acadêmico, nada melhor do que ser pelos relatos daqueles os quais fizeram parte do movimento de criação da maior instituição representativa discente de um curso. Portanto, para isto trago os relatos de Fernando Ferreira, professor, arqueólogo, historiador e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Diversidade Sociocultural (PPGDS), no Museu Paraense Emílio Goeldi e que fez parte da criação do CABHA.
Segundo Fernando, O ano de criação do Centro Acadêmico do Bacharelado é bem confuso… quando eu entrei em 2011 já havia reuniões para discutir a criação de um CA Bacharelado, apenas, pois eles tentaram fazer junto com licenciatura, que já havia um CA, porém, havia rixas entre alunos. Havia um aluno chamado Jorge Neto, hoje professor do estado, que tentava puxar isso e nunca foi para frente…
Sobre as motivações para criação de fato do Centro Acadêmico ele diz, No ano de 2012, surgiu o Encontro Nacional de Estudantes de História (Eneh) e a gente teve a ideia de fazer esse encontro, então reunimos alguns alunos na época, final de 2012 e início de 2013, que foi o Carlos Leandro, o Adonay Tamaia, eu né (Fernando Ferreira) e alguns outros alunos… começamos a debater para ir nesses encontros que aconteceriam no Rio de Janeiro, na Uerj, inclusive era numa época de 10 anos da implementação das cotas raciais e as manifestações de 2013, que iam acontecer, não é por 20 centavos e aquelas questões todas.
Dessa forma, pensamos em criar o Centro Acadêmico, então puxamos reuniões e inclusive consegui alguns prints do Facebook. Falando sobre a busca de uma sala, a gente tentava com o chefe de Centro, que era o prof. Jacó, o qual era muito resistente, porém conseguimos a sala para reuniões. Fizemos um grupo forte e consolidado, com isso conseguimos a viagem de ônibus e fomos pela recente então Proaes, Conseguimos ir para essa viagem no Rio de Janeiro e isso foi fundamental para tudo!

Chegando lá vimos outra realidade, um movimento estudantil ativo, discussões sobre universidade laica e de qualidade, sendo outro nível. Lá eles tinham uma revista e um jornal totalmente discente de História, aí decidimos criar na Ufac também. Procuramos o professor Dourado, que na época estava na Proex, para criar uma revista discente e outros professores, mas devido às demandas do curso não foi possível realizar.
Voltamos animados da viagem e decidimos formar a primeira chapa para eleições do Centro Acadêmico. “Formamos as chapas e oficializamos o Centro Acadêmico, que na época não tinha nome, apenas era CABHA. Com isso começamos a organizar sarais e festas para ganhar força. Inclusive, em 2014 organizamos um debate político de senadores, com a Perpetua Almeida, Gladson, Roberto Duarte e o falecido Prof. Fortunato, Glason e Perpétua faltaram e foi uma confusão.”


No meio disso solicitamos uma sala para prof. Aline que era Pró-reitora, porém ela disse que não tinha salinha, mas achamos uma no bloco de enfermagem onde funcionava o posto do Sindicol, era bem minúsculo, fomos lá e nos apropriamos da sala e oficializamos ela. Posteriormente teve novas eleições e eu me tornei secretário e o prof. Dourado se elegeu no CFCH, com isso pedimos outra sala, que ficava no Bloco Walter Félix perto do antigo CFCH. Ele nos deu e mandou limpar, pintar e organizar a sala para nós. Arrumamos banners, bandeiras e um designer e montamos a carinha do prof. Pedro Martinello e assim então oficializamos o Centro Acadêmico Pedro Martinello. Chamamos os professores e alunos para assinatura, foi muito bonito, fiz um discurso e comemoramos muito isso. Era a criação de um primeiro movimento estudantil do Bacharelado que não tinha
Portanto, são esses tais acontecimentos coletivos e/ou individuais que fazem a construção historiográfica da memória, marcadas na história de uma instituição, sendo lembrada e explorada constantemente, como uma vez disse Marc Bloch, a história são os homens no tempo”²

Professor Pedro Martinello
Primeiro doutor a lecionar na Universidade Federal do Acre (Ufac), Pedro Martinello faleceu já faz mais de uma década, porém seu legado marcante no magistério ainda permanece vivo e forte no curso de história, principalmente no Bacharelado, onde é sempre lembrado pelos professores que outrora dera aula ou orientação, ou por suas grandes obras como “A batalha da borracha na segunda guerra mundial e suas consequências para o vale amazônico” ainda estudadas dentro da universidade e até mesmo fora do Brasil, como Harvard.

Nascido em Criciúma/SC, Pedro chegou ao Acre com para ser pároco da Catedral de Rio Branco, convite realizado pelo bispo Dom Giocondo Grotti. Mas logo se viu nas salas de aulas, lecionou na escola Lourenço Filho e na Universidade Federal do Acre, onde posteriormente dedicou-se inteiramente para a disciplina de História. Pedro Martinello se tornou o primeiro a se tornar doutor e lecionar na Ufac, algo raro na época, sendo seu mestrado em Berkeley e seu doutorado pela Universidade de São Paulo (USP).


Posteriormente levou seus ensinamentos para a Uninorte, onde também foi homenageado com seu nome intitulado a biblioteca da faculdade, inaugurada em 2005. Seu nome também é homenageado numa escola no bairro Montanhês, inaugurada em 2010, pelo governo interino de Edvaldo Magalhães.
Segundo o Filósofo Sérgio Cortella, morrer na verdade é ser esquecido, portanto, sem dúvidas alguma a figura de Pedro Martinello segue vivíssima dentro das salas de aula do curso de Bacharelado em história, seja pelas lembranças trazidas dos seus alunos e orientandos, os quais posteriormente se tornaram professores, seja por sua boina e o seu inseparável companheiro cachimbo, por suas obras lidas e relidas pelos alunos e professores em monografias, artigos ou dissertações ou por suas enormes contribuições para o curso de história da Ufac e o magistério acreano. Pedro Martinello segue vivo!


Por fim, agradecimentos especiais a Fernando Ferreira pelos relatos de criação do Centro Acadêmico do curso de Bacharelado em História e pelas fotos. Também a Valéria Martinello, filha de Pedro Martinello, a qual me cedeu as fotos utilizadas nesta coluna.
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Referências
[1] NOVA, Pierra. Entre História e Memórias. São Paulo, 1993.
[2] BLOCH, Marc. Apologia da história ou ofício do historiador,Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
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Por Ruimar Cavalcante do Carmo Junior – Bacharelando em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac) e presidente do Centro Acadêmico Pedro Martinello, 1° Secretário da Associação Atlética Acadêmica dos Cursos de História – Perversa e bolsista do Projeto de Iniciação Científica (Pibic) do Observatório de Fronteiras.