Oposição deve tomar cuidado porque ela pode ter que dar mais explicações do que exigi-las
É preciso estabelecer algumas referências para se falar da crise fundada em Brasília pela postura do ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República general Gonçalves Dias: a primeira é que no dia 8 de janeiro de 2023 houve uma tentativa de golpe; segunda referência: os ataques foram contra a democracia e as instituições que a representam; terceira referência: a tentativa do golpe foi arquitetada e custeada por muitos e muito antes de janeiro; quarta: o general foi omisso ou incompetente. São premissas básicas.
A ideia de que o vídeo do general G. Dias, andando no Palácio do Planalto enquanto os golpistas quebravam tudo, coloca suspeição de que o governo de Lula promoveu ou facilitou a baderna para criminalizar Bolsonaro e o bando beira o delírio.
Mas é um delírio que os opositores de Lula querem provar na CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito). Assim como também querem demonstrar a omissão do presidente em relação à performance de G. Dias no planalto naquele domingo, 8 de janeiro.
A situação é surreal. O governo legitimamente eleito em um pleito conturbado, tenso, polarizado, passa a ser acusado de ser autor dos ataques que atentaram contra as instituições democráticas e os prédios públicos.
O general G. Dias, nas imagens que foram divulgadas, parece mais um tiozão sem rumo, saído do churrasco de domingo. A grande imprensa fala que parte do GSI ainda estava contaminada por bolsonaristas. O que, em si, já é um erro do governo, uma vez que já se tinha a definição do comando do GSI antes mesmo da posse de Lula. Se o general não sabia que rumo tomar e quais comandos ordenar naquele caos, então, estamos diante de um problema de evidente incompetência. Isto é uma coisa. Outra bem diferente é o delírio de que, agora, o governo é o suspeito da vez.
Em declaração à repórter da Rede Globo Délis Ortiz, G. Dias reclamou que o vídeo foi editado. E tudo leva a crer que foi mesmo. Quem vazou o vídeo para a CNN tomou cuidado de só identificar o general G. Dias. Por qual motivo? Isso, sim, merece suspeição. Tanto merece que o ministro Alexandre de Moraes já determinou a íntegra das imagens, sem cortes e sem mosaicos.
O governo deverá ter muita competência na articulação política. A munição para a oposição foi oferecida. E a eficácia deve ser tamanha que não abarca somente a “Crise do GSI”. A tropa de choque governista deve cuidar para que a CPMI não contamine votações importantes, com destaque para o Arcabouço Fiscal, uma peça fundamental para que as contas públicas tenham algum equilíbrio sustentável e reconstrua um cenário econômico mais atrativo para investimentos. Nesse início de governo Lula, o paço vacila muito, justamente na Política onde sempre transitou com intimidade.
Mas a oposição deve tomar cuidado porque ela pode cair em diversas armadilhas durante a CPMI. Por exemplo, o capitão do Exército José Eduardo Pereira, que aparece nas imagens oferecendo água aos bolsonaristas, foi auxiliar do ex-presidente Bolsonaro e do ex-vice-presidente Hamilton Mourão. Acompanhou o ex-presidente até mesmo no período eleitoral. Há muitos “copos d’água” a serem explicados por Bolsonaro e os bolsonaristas.
Na Economia, tirando um ou outro percalço, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem dado demonstrações de cuidado e cálculo. O recuo estratégico que deu em relação à taxação do e-commerce, por exemplo, já lhe rendeu a perspectiva de que a Shein invista R$ 750 milhões em projeto que pode gerar até 100 mil empregos com nacionalização de parte da produção da gigante chinesa.