“Foi um ato emocionante e histórico”, disse o senador
Na igreja São Sebastião, de Xapuri, foi realizada na manhã de domingo, 22, uma missa especial para lembrar os 25 anos da morte do líder seringueiro Chico Mendes, assassinado a 22 de dezembro de 1988. A missa foi celebrada pelo atual arcebispo de Porto Velho e ex-bispo do Acre e Purus, D. Moacyr Grechi, amigo do líder seringueiro, amado pelo povo da floresta.
“Foi um ato emocionante e histórico!” – declarou o senador Jorge Viana (PT-AC), que este esteve presente na companhia do pai, Wildy Viana, e do irmão Tião Viana, governador do Acre.
D. Moacyr chegou a Xapuri de carro, às 10h15, com o cabelo desarrumado durante a viagem de duas horas e trinta minutos desde Rio Branco, onde pernoitara vindo de Porto Velho. Trajava uma calça marrom com suspensórios e uma camisa creme, e caminhava com a ajuda de uma bengala. Há 25 anos ele rezara a missa de corpo presente após a morte de Chico Mendes. Depois foi transferido para Rondônia, contra sua vontade, pelo Papa Bento XVI.
Ao entrar na Igreja, apoiando-se numa bengala, foi cercado por religiosos e amigos seringueiros que ali mesmo, trataram de pentear seus cabelos e vestir a batina com outros paramentos que o aguardavam sobre uma banqueta. Então, devagarinho (ele caminha com dificuldade desde que sofreu acidente grave em Rondônia e precisou de estrutura metálica para sustentar a parte superior do corpo), Dom Moacyr chegou ao altar.
Durante a cerimônia, na hora do sermão, demonstrou porque é tão amado pelo povo acreano. Com enorme e enternecedora simplicidade, identificou velhos amigos presentes e referiu-se ao valor humana, à ternura, à singeleza dos companheiros de Chico Mendes que, nos anos 70 e 80, ajudaram a salvar o Acre do desmatamento e do fogo.
Mesmo quando se referiu a textos da Bíblia manteve o tom coloquial e transparente: falou de Maria, mãe de Jesus, como uma jovem simples, analfabeta, de 16 a 17 anos que se uniu ao carpinteiro José e engravidou gerando Jesus por obra do Espirito Santo.
No Acre desde 1971, D. Moacyr é de Santa Catarina, nascido na pequena cidade de Turvo. Antes de ser transferido para Porto Velho, já nos anos 2000, declarou: “Foi o povo do Acre que me ensinou a ser cristão, a ser bispo, a me comprometer com o lado justo”.
Tal qual fazia durante a organização das Comunidades Eclesiais de Base, que serviram de base para a criação dos Sindicatos de Trabalhadores Rurais e mais tarde, do Partido dos Trabalhadores, alternando no sermão as histórias da Bíblia com aquelas que viveu no contato com as famílias que lutavam para permanecer na floresta acreana.
Ele lembrou que, lá pelos anos 70, um grupo de mães o procurou e pediu que fosse visitar um seringal perto de Rio Branco, o Ipiranga, onde o dono estava sendo denunciado por cometer atos de violência contra os seus filhos e maridos.
Elas voltaram a procura-lo, até que, na terceira vez, um senhor de 80 anos que as acompanhava olhou para ele e disse: “D. Moacyr, o senhor é o bispo, o senhor é a autoridade, o senhor é quem sabe; mas eu sou mais velho e, se eu fosse o senhor, eu já tinha ido lá conferir se o que estamos falando é verdade ou não”.
-Eu, pra não ficar de frouxo fui, e essa visita mudou muito minha vida – disse D. Moacyr.
A missa contou com a participação dos filhos de Chico Mendes, Sandino e Elenira, que leram passagens da liturgia. O senador Jorge Viana e o governador Tião Viana foram chamados a dar testemunhos. Ao senador, Dom Moacyr pediu que falasse da visita que ambos fizeram ao Papa Francisco no Vaticano, recentemente.
Jorge Viana disse que viu na simplicidade de Francisco, o papa, a mesma simplicidade do Francisco seringueiro. E que a atitude de ambos ecoa no mundo e faz bem a humanidade. O papa tem surpreendido o mundo com suas atitudes. Atitudes simples que questionam muita coisa errada, de um modo geral, inclusive a Igreja. O Francisco de Roma não nos recebeu como Papa, mas como seguidor de São Francisco, que segundo D. Moacyr é a pessoa da igreja que mais se aproximou daquilo que Jesus representa.
Após a missa, o senador comentou que Dom Moacyr levantou uma questão que precisa ser melhor discutida pelas pessoas que conceitua o desenvolvimento sustentável. Ele referia-se as expressões coragem, persistência, fé, solidariedade etc. que o bispo citou como sentimentos identificados nos discursos de Chico Mendes e no cotidiano da vida dos povos da floresta, mas que perdem força diante da argumentação mercadológica.