Por Dandara Cesar Dantas
Os espaços de preservação de memórias e historiografia acreana constantemente tem sido alvos de debates no meio acadêmico, principalmente pelos historiadores e historiadoras do nosso Estado. Porém, há algo em comum na visão de todos, a ausência de profissionais qualificados nesses espaços, tal como o Museu dos Povos Acreanos, localizado em Rio Brano, tem um quadro de zero profissionais formados ou graduandos em História como guias.
Vamos focar especificamente no Museu dos Povos Acreano o qual tem como guias, estudantes de cursos variados como Agronomia e Nutrição, esses cursos não têm nenhuma disciplina na grade curricular voltada para preservação de arquivos, acervos patrimoniais ou mesmo voltadas para área de história. Entretanto, são esses estudantes que ocupam os espaços de memórias, cultura e divulgação historiográfica. Com isso, faz surgir uma reflexão acerca da ausência de historiadores nesses locais, bem como a propagação dos mitos acreanos, a contínua divulgação de um Acre que “lutou para ser brasileiro”. Segue foto tirada no museu:

No dia 27 de julho de 2023 tornou se público a realização do processo seletivo para estágio supervisionado para o Museu dos Povos Acreano tendo os nomes dos candidatos divulgados no dia 25 de agosto de 2023, mas os estudantes do curso de História não foram inseridos nessas instituições patrimoniais, digo isso pela reclamação dos estudantes que não foram chamados para o estágio mesmo estando na lista. A confirmação disso aconteceu no dia 01 de dezembro, quando o Centro Acadêmico Pedro Martinello realizou uma visita ao Museu dos Povos Acreano. No primeiro momento houve estranheza pela falta de guia no local, mas por meio de uma funcionária que nos informou os horários que tinha a visitação guiada. Aproveitamos a oportunidade para questiona se tinha algum estudante da área de história como guia? Ela relata que não tinha nenhum estudante de história servindo como guia e disse que os guias não eram estagiários.
Portanto, como foi feito o processo para contratar esses guias? Fica o questionamento. Acredito que os profissionais mais adequados para essas instituições são historiadores e museólogos, pois “Nós, historiadores, sabemos que, mais do que preservar, a memória constrói o passado, que ela o inventa, no sentido de conferir-lhe sentido, que ela monta e remonta, esquece e recalca os vestígios pretéritos”¹. Lutamos muito para conseguir a regulamentação da profissão de historiador, sendo a Lei 14.038 de 2020³ que poderá ser historiador aquele que tem o diploma, mestrado ou pós-graduação em história. Além disso, no curso de história tem disciplinas específicas para a preservação dos arquivos, acervos e a valorização do patrimônio de memória, além do estágio supervisionado em arquivos. A exclusão de historiadores nesses espaços acaba provocando a desvalorização do profissional e desmotivação para seguir carreira na área. Mas como diz Marc Bloch “a incompreensão do presente nasce fatalmente da ignorância do passado”². E finalizo dizendo que o lugar de historiador também é nos museus.
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[1] SCHIMDT, Benito Bisso. Os historiadores e os acervos documentais e museológicos: novos espaços de atuação profissional. Anos 90 15.28 (2008): 187-196.
[2] BLOCH, Marc. Apologia da história ou ofício do historiador. Rio de Janeiro: Zahar, 2002
[3] BRASIL. Lei n°14.038, de 2020. Publicada lei que regulamenta a profissão de historiador. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/08/18/publicada-lei-que-regulamenta-a-profissao-de-historiador. Acesso em: 27 nov. 2023.
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Dandara Cesar Dantas – Bacharelanda em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Integrante do Centro Acadêmico Pedro Martinello.