Uma denúncia envolvendo o Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Acre trouxe à tona questionamentos sobre a condução de atividades escolares e o respeito aos direitos de alunos com deficiência. A mãe Eloilma Chaves, professora especializada no ensino de crianças com deficiência, relatou uma série de desconfortos com a apresentação de uma atividade referente ao Dia da Consciência Negra, além de um suposto caso de abuso de autoridade contra a filha, que é autista.
O episódio ocorreu durante uma apresentação que fazia parte da avaliação bimestral dos alunos. Segundo Eloilma, a música escolhida para a atividade, Pagu, de Rita Lee, causou constrangimento. “Na primeira estrofe, percebi algo errado. Minha filha estava cantando algo ofensivo, com palavrões, e imediatamente comecei a gravar. Não aceitei o que estava acontecendo diante de crianças, pais e idosos”, disse a mãe. Eloilma afirmou que ficou profundamente abalada ao ouvir a filha proferir palavras que, segundo ela, eram inadequadas e desrespeitosas.
A mãe questiona ainda a pertinência da canção em relação ao tema proposto, alegando que a letra não tinha conexão com o Dia da Consciência Negra. Ela também destacou que, pela condição da filha, que é autista, deveria haver uma mediação pedagógica adaptada. “Ela poderia ter realizado uma atividade em casa, adequada às necessidades. Foi uma exposição desnecessária”, declarou.
Além do episódio da apresentação, Eloilma trouxe à tona uma denúncia de abuso de autoridade que teria ocorrido há cerca de um mês. De acordo com a mãe, uma professora impediu a filha de sair da sala de aula em uma situação de emergência, o que levou a menina a um estado de choro e estresse. A aluna não teria relatado o ocorrido por medo de represálias, já que ainda teria dois anos com a mesma professora.
“Eu soube por terceiros. Minha filha me disse que não queria problemas, mas eu não posso permitir que isso continue. Quero que medidas sejam tomadas, pois ela tem direito a um ambiente adequado”, afirmou Eloilma.
Após os incidentes, a mãe procurou o Conselho Tutelar e registrou dois boletins de ocorrência: um relacionado à apresentação e outro à conduta da professora em sala de aula. Eloilma informou ainda que irá buscar ações judiciais na esfera federal, bem como protocolar uma nota de repúdio à reitoria da universidade.
A direção do colégio foi procurada, mas não pôde atender à reportagem devido a uma reunião em andamento. Em resposta, o Conselho Racial da instituição afirmou que a escolha da música foi feita pelos próprios alunos e que a atividade não era obrigatória. A direção também mencionou que não recebeu queixas formais da professora ou da aluna sobre os supostos episódios em sala de aula.
O caso segue em análise, com o envolvimento de órgãos como o Conselho Racial e o Conselho Tutelar. A denúncia levanta debates sobre a inclusão e o preparo das instituições educacionais para lidar com alunos com deficiência, especialmente em atividades de caráter cultural e social.
Matéria produzida pela repórter Wanessa Souza para a TV Gazeta.