Aos 27 anos, Dieyne Nascimento de Paula pode ser definida em três palavras: mãe, confeiteira e resistente. Residente de Rio Branco, ela adaptou a vida ao redor da filha Kimberly, de 4 anos, que nasceu com paralisia cerebral em decorrência de uma encefalopatia hipóxica crônica não evolutiva adquirida durante o parto.
Desde então, a maternidade atípica se impôs como uma missão de tempo integral, exigindo da jovem mãe criatividade, força física e emocional, e muita fé.

Com a impossibilidade de trabalhar fora de casa devido aos cuidados contínuos com Kimberly, que usa traqueostomia para respirar e gastrostomia para se alimentar, Dieyne transformou a própria casa em um ponto de produção de bolos e doces.
“Tentei ser manicure em casa, mas com a traqueostomia da Kimberly, era inviável receber pessoas. A confeitaria foi um caminho que encontrei para gerar renda e continuar por perto dela”, conta. Aprendendo sozinha pela internet, conquistou a clientela do bairro e conseguiu um modelo de trabalho adaptado à sua rotina.


Entre atividade física e maternidade
Mas os desafios não pararam aí. Sempre ativa, praticante de esportes desde a adolescência, Dieyne sentiu falta da atividade física, tanto pelo bem-estar quanto pela necessidade. Kimberly é uma criança acamada e sem sustentação de tronco ou cabeça, o que exige força para os cuidados diários.
“Cheguei a tentar ir à academia às 5h da manhã, enquanto ela dormia. Mas as crises convulsivas dela mudaram tudo. Foi quando pedi ajuda ao meu marido para montar uma estrutura em casa”, relata.
Com barras improvisadas, pesos feitos de cimento e alguns acessórios comprados, nasceu sua “academia doméstica”. Os treinos agora fazem parte da rotina, principalmente durante as horas de sono da filha.

A chegada de Kimberly
A trajetória dos pais de Kimberly foi marcada por superação e uma reinvenção constante da vida familiar. Dieyne e o marido engravidaram da menina dois meses antes do início da pandemia. Foi uma gestação planejada, cercada de cuidados. A notícia da condição de saúde da filha, revelada logo após o parto, foi um choque.
“Foi muito frustrante para nós, porque nós planejamos com uma criança de uma forma, e Deus nos entregou de outra forma. A gente lutou pra fazer com que ela não fosse dependente dos aparelhos e a gente acabou esquecendo a Kimberly como a criança, como nossa filha, então, foi muito ruim no início”, relata.
A conexão entre mãe e filha se fortaleceu a partir do primeiro ano de vida da pequena. Mesmo com respostas mínimas, olhares, gestos sutis, Kimberly começou a se expressar, e isso trouxe um novo sentido à jornada da família. “Começamos a ver nela uma criança, e não só uma condição médica. Hoje, ela é a minha vida. Não existe opção de desistir”, afirma a mãe.
Dificuldades e superação
Além das dificuldades emocionais, a logística do dia a dia é um desafio. A família precisa sair sempre com o aspirador de secreções da filha. Ir a um restaurante ou a qualquer lugar público exige tomada por perto e postura diante de olhares curiosos.
“No começo era desafiador, agora já não me abalo muito. Mas buscamos tratamento para essa questão da secreção porque interfere na nossa qualidade de vida”, enfatiza.
Ao refletir sobre a maternidade, Dieyne é direta: ser mãe sempre foi um sonho. ser mãe atípica foi inesperado, mas segundo ela, a filha nunca foi um fardo. “Minha filha é uma bênção na minha vida, porque através da Kimberly eu me reconheci, eu me reconectei, eu me refiz e ser mãe pra mim hoje, principalmente ser mãe atípica é uma, é um privilégio muito grande e uma missão muito linda”.
Apesar de corajoso e muitas vezes romantizado, o papel de mãe vai além de cuidar e proteger seus filhos. Fala sobre escolher viver, amar, e principalmente aprender diariamente com uma parte externa à você. Para o Dia das Mães, Dieyne deixa uma mensagem especial para outras mulheres:
“Não se cobrem tanto, principalmente quem é mãe jovem de primeira viagem. Nós sempre achamos que não estamos fazendo o suficiente, especialmente sendo mães atípicas. Mas estamos sim. A missão de ser mãe é divina, e a gente precisa lembrar todos os dias que é incrível estar viva e podendo amar um filho”, finaliza a mãe de Kimberly.
