Nos últimos anos, a presença feminina na política tem ganhado crescente destaque no Brasil, refletindo uma conscientização sobre a importância da igualdade de gênero nas esferas de poder. No estado do Acre, dados recentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam uma tendência significativa: as mulheres compõem 51% dos 612.448 eleitores aptos a votar nas próximas eleições, representando uma maioria que levanta questões sobre representatividade.
No entanto, apesar dessa maioria no eleitorado, ainda não há mulheres encabeçando chapas na disputa pela prefeitura de Rio Branco, o que suscita reflexões sobre as barreiras existentes. A doutora em Ciências Políticas, Sabrina Areco, destaca que essa lacuna pode ser atribuída a uma combinação de discriminação e estrutura partidária. Segundo Areco, embora a afiliação de mulheres a partidos políticos tenha crescido, muitas não alcançam posições de liderança dentro dessas organizações. “Existem formas de contenção indireta dentro dos partidos que dificultam a indicação de mulheres para cargos majoritários”, afirma.
Essa situação é corroborada pelos números: das 24 cadeiras da Assembleia Legislativa do Acre, apenas 3 são ocupadas por mulheres, e das prefeituras municipais, apenas 3 são lideradas por mulheres. Essa sub-representação levanta preocupações sobre a eficácia das leis de incentivo à participação feminina na política, instituídas desde a década de 1990.
Adriana Alves, acadêmica de Biologia, ressalta a necessidade de maior visibilidade e oportunidades para mulheres na política. “Falta representação feminina no popular. As pessoas não enxergam a mulher na política, muitas vezes por causa da desigualdade de oportunidades e distribuição de deveres sociais entre homens e mulheres”, observa.
Eleitoras jovens, como Ana Luisa, de 17 anos, e Ana Paula, de 21, que cursa Jornalismo na Universidade Federal do Acre, também manifestam preocupação com a falta de representatividade. Elas enfatizam a importância de ter vozes femininas que possam defender os direitos das mulheres e enfrentar questões como a violência de gênero. Ana Paula sugere que uma candidata mulher poderia trazer uma nova perspectiva e lutar por direitos que muitas vezes são negligenciados.
Maria Clara, de 16 anos, que votará pela primeira vez este ano, vê a questão sob uma ótica cultural. Ela acredita que é necessário que mais mulheres se envolvam na política para romper com a predominância masculina. “A mulher tem que procurar entrar nesses cargos, defender as causas femininas”, afirma.
A maioria feminina no eleitorado é um indicativo claro de que as mulheres estão prontas para assumir mais espaço e influência no cenário político, e essa transformação exige um esforço conjunto de sociedade e instituições.
Matéria em vídeo produzida pelo repórter Marilson Maia para TV Gazeta.