O que levou a essa discussão?
A indústria da moda com o passar do tempo e da evolução das técnicas de confecção de roupas em larga escala (o que recebe o nome de prêt-à-porter, expressão francesa que significa “pronto para vestir”) tem aumentado em grande quantidade a produção de lixo têxtil, que é descartado de maneira imprópria na natureza. Recentemente a questão ambiental tem sido uma pauta fortemente discutida na mídia por grupos sociais diversos, no qual a moda, por sua vez, pode ou não entrar como alvo de críticas e denúncias por inviabilizar o meio ambiente. Pensando nesse ponto, a indústria da moda se tornou um fardo de milhões de toneladas de lixo têxtil e outros materiais que são nocivos para a natureza. Essa realidade vem crescendo a cada ano, com a busca por compras online em lojas que utilizam desses tecidos e materiais plásticos para fazer roupas de baixa qualidade, que com algumas utilizações perdem seu potencial de uso.
De que forma a arte pode atuar nessa questão?
Pessoas que criam para o mundo da moda tem o poder de escolha, tanto em participar do grupo que está de fato preocupado com a atual situação, ou o grupo que desconsidera a pauta como algo relevante no momento, o que se tornou uma bola de neve que está resultando em uma avalanche de reações naturais como enchentes pelo excesso de chuvas, deslizamentos de terra e a própria seca. Pensando nisso, a arte se encontra em um lugar de grande potencial atuante de denúncia contra essa realidade, através dela é possível levantar esses questionamentos e fazer com que milhares de pessoas voltem seus olhos para uma situação delicada e alarmante como essa.
Telas criadas a partir de roupas para descarte
A partir dessas questões e de estudos feitos para compreender melhor esse contexto, a ideia seria criar obras que revelassem qual o significado e importância em se discutir essa situação e que fosse de fácil entendimento, para assim chegar ao alcance do máximo de pessoas possível. Dessa forma, a confecção de telas com roupas que seriam destinadas para o descarte surge como uma forma de não somente buscar alternativas para a reutilização desses materiais que iriam contribuir com essas verdadeiras agressões ao meio ambiente, mas também é uma forma de denunciar essa realidade de descaso por parte de grandes grupos da indústria da moda atual com a questão ambiental.
A tela “Casal seringueiro” foi feita a partir de retalhos de tecidos de roupas antigas que iriam para o lixo por ter perdido seu potencial de uso, no qual as camisetas foram cortadas, costuradas no formato de tela e também com a silhueta de objetos que compõem o cenário criado para a tela. A obra foi exposta durante a Primeira Semana Cultural do Parque Capitão Ciriaco, e permanece como acervo artístico do parque.
O que esperar do coletivo Errantes sobre essa pauta?
A preocupação com a questão ambiental tem se firmado como um dos pilares do processo criativo dos Errantes, e para o futuro há projetos que vão de encontro a essa questão. Para o coletivo, a moda pode ser algo consumido e criado de forma sustentável e equilibrada, e a necessidade de se pensar essa realidade enquanto um grupo de origem situado na Amazônia se torna algo de maior relevância. Pensando assim, se dará a continuidade na criação de obras que reflitam sobre esse contexto em que o coletivo está inserido, buscando levar a quem quer que busque saber sobre nosso trabalho, de modo a entender sobre o que estamos falando, para que assim a arte no nosso ponto de vista seja utilizada como ferramenta de pensar o social de maneira coletiva.
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Licenciando em História pela Universidade Federal do Acre (Ufac). Compõe o grupo de bolsistas do Pró-Cultura Estudantil da Universidade Federal do Acre. Artista visual e membro do Coletivo Artístico Errantes.