Rotina: crianças chegam à escola sujas de lama
Produtores rurais do ramal da Cigana, na região do Catuaba, a 25 quilômetros do centro de Rio Branco, estão isolados e deixaram de produzir por causa das péssimas condições do ramal.
O sofrimento das 23 famílias que vivem na região começa nas primeiras horas da manhã, quando as crianças vão à escola. Os alunos com idades entre 8 e 12 anos precisam passar pelos atoleiros em um percurso de quase quatro quilômetros. Os pequenos sofrem, a lama cobre quase toda a perna. É preciso força para não ficar com os pés atolados. No final da travessia, estão todos sujos. Alguns pais acompanham os filhos com medo de algum acidente.
Depois do ramal da Cigana, eles entram no ramal principal do Catuaba. Com as sandálias nas mãos, eles caminham mais meio quilômetro até chegar à escola. A estudante Tainá de Souza, 12, reclamou que não aguenta mais tanta gozação. “A gente chega e as pessoas ficam mangando da gente. Esse pessoal bem que poderia ajeitar esse ramal”, exigiu.
A direção da escola sabe das condições dos ramais e montou um trapiche com chuveiros. Os alunos tiram a lama antes de entrar em sala de aula.
Enquanto as crianças ficam na escola, os pais resolveram mostrar mais um pouco das condições do ramal da Cigana.
Carro, nem mesmo traçado, entra mais. Até a pé está difícil. Quem tem cavalo se sai melhor.
A falta de condições do ramal mudou a vida econômica das famílias. A região era produtora de goma para tapioca. Mas, sem condições de tirar o produto, as famílias reduziram as áreas plantadas ou simplesmente abandonaram a atividade. Caminhando no ramal é possível ver roças deixadas de lado e casas de farinha abandonadas.
Algumas famílias insistem e continuam plantando macaxeira porque precisam se manter. Segundo o produtor Jesus Ferreira, para quem planta, a única saída é tirar o produto nas costas ou com carroças de boi até o ramal principal. “Estamos perdendo nossa renda porque a prefeitura não tem coragem de fazer a recuperação do nosso ramal”, concluiu.
As frutas que não são consumidas se perdem. As famílias já não sabem o que fazer. Há dois anos, a prefeitura enviou máquinas que fizeram a manutenção no ramal. Mas a obra mal feita e as chuvas fortes acabaram com a estrada. Os moradores mostram como um dos bueiros foi construído de forma errada, está fora do canal do igarapé e acima da estrada.
Criança especial presa à cama
Numa das casas do ramal, está a família que mais sofre na região. A produtora Dejanira Nascimento tem uma filha especial, a Francisca Gilda. A garota não anda e não fala. Os médicos determinaram que a garota de 16 anos faça exercícios de fisioterapia toda semana. No entanto, ‘sem o ramal’ não tem como a mãe levar a filha até um hospital.
A Gilda nasceu com esse problema e sem fisioterapia está definhando. A mãe da adolescente precisa levá-la uma vez por mês para exames, e com o ramal em péssimas condições é obrigada a tirar Gilda nos braços ou em lombo de cavalos.
Solução?
Nesta quinta-feira (11)n a Câmara de Vereadores de Rio Branco fará uma sessão na sede da região do Belo Jardim. Os produtores do Catuaba vão estar presentes e levarão aos parlamentares a situação em que vivem. O vereador Rabelo Góes já vem acompanhando de perto o drama das famílias e quer preparar um documento para levar até a prefeitura.
O QUE DIZ A PREFEITURA DE RIO BRANCO
De acordo com a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Rio Branco, ela entrou em contato com o chefe do departamento de ramais da Prefeitura, Ozias Bezerra. Ele garantiu que o ramal da Cigana está na lista das obras previstas para o segundo semestre do ano e que a partir do dia 1º de julho uma equipe estará no local para iniciar a obra.