Em um espaço improvisado, no meio de um terreno que há 30 anos era apenas mato, a aposentada Maricília, 67 anos, dedica a vida a resgatar e cuidar de cães abandonados em Rio Branco. Hoje, mais de 79 animais vivem sob os cuidados dela, que fornece comida, abrigo e assistência por conta própria, sem receber nenhum tipo de ajuda do governo.
O amor pelos animais começou ainda no bairro São Francisco, onde morava. “As pessoas jogavam filhotes na rua e eu tinha dó, pegava para cuidar. Quando cheguei a 18 animais, os vizinhos não aguentaram e denunciaram. Tive que sair da minha casa e vim morar aqui. Na época, não tinha nada, nem energia. Vim por amor a eles”, conta.
Mas a dedicação não paga as despesas. Todos os dias, os cães consomem cerca de 25 quilos de ração, o equivalente a um saco inteiro. O custo é alto e sem incentivo público, manter a causa se torna cada vez mais difícil. “Fui a primeira protetora de animais a procurar o prefeito. Ele me disse que não podia fazer nada, porque foi eleito para cuidar de pessoas, não de animais. Disse que quem tivesse bicho tinha que criar, mas eu não crio, eu cuido. É diferente”, desabafa.
Segundo estimativas, mais de 15 mil animais vivem em situação de abandono na capital acreana. Rio Branco não tem hospital veterinário público e a promessa de campanha para construir um abrigo municipal de animais e um laboratório veterinário no Centro de Zoonoses nunca saiu do papel.
Na última semana, a Câmara Municipal aprovou a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) de 2026 com a previsão de implantação de uma clínica ambulatorial veterinária. A proposta é do vereador João Paulo, que também apresentou um anteprojeto sobre a causa animal. “O abandono é realidade e o poder público precisa agir. Nós, do legislativo, estamos fazendo nossa parte, mas precisamos do apoio do executivo e da população para que Rio Branco tenha um serviço público de referência no atendimento aos animais”, afirmou.
O vereador alerta, no entanto, que a proposta ainda depende da aprovação da prefeitura. “Se o executivo vetar, nada avança. É hora de unir forças para que o município tenha, pelo menos, um ambulatório especializado, que ofereça castração, vacinação, vermifugação e outros serviços básicos. Vacinação é obrigatória, mas não é suficiente. Cuidar de animais vai além.”
Enquanto a discussão política segue, milhares de cães e gatos continuam vagando pelas ruas da cidade. Muitos sofrem maus-tratos, fome e até morrem sem assistência. No quintal de dona Maricília, o esforço individual tenta suprir a ausência de políticas públicas. “Eu vim pra cá por eles. Se não fosse por amor, eu não teria aguentado até hoje”, conclui.
Com informações do repórter João Cardoso para TV Gazeta