Ela tentou de todas às formas, por mais de dez anos concretizar esse desejo de ser mãe
“Eu nunca pensei na possibilidade de viver, de ter a minha passagem na Terra, sem ser mãe”. Uma frase dita pela mamãe Kamila Costa, de 37 anos, Produtora Cultural, e que tinha desde de criança, o sonho de ser mãe. Apesar do desejo, ela teve que sofrer por muitos anos com o principal impasse que a impedia de realizar essa conquista, a infertilidade. Ela tentou de todas às formas, por mais de dez anos concretizar esse desejo.
Com 16 anos de idade ela descobriu problemas no sistema reprodutor, após fazer alguns exames, foi diagnosticada com a síndrome do ovário policístico.
“Além da síndrome, o endométrio estava comprometido, um ciclo menstrual muito irregular, e desde os 16 anos a médica falou, olha, se você engravidar um dia, você vai ter muita dificuldade, porque o seu sistema reprodutor é muito falho. E eu naquele momento num imaginei que fosse ser tão difícil, mas me deu um medinho desde então”, contou.
Até que Kamila casou aos 22 anos de idade, o desejo no início do matrimônio, era aproveitar o casamento, e quando estivesse estabilizada financeiramente, ela tentaria engravidar. Após cinco anos de casamento, a família e o companheiro começaram fazer cobranças para que ela gerasse filhos, contudo, mesmo ela suspendendo todos os métodos contraceptivos, Kamila ainda não conseguia gerar filhos.
E foi no meio dessa tensão e cobranças, que ela decidiu fazer algo. “Eu escrevi um texto na rede social que na época era o Facebook falando dessa cobrança da sociedade em cima da mulher que quer ou que tenta ser mãe, sobre a mulher infértil, e o que isso faz a gente sofrer, o quanto que é difícil e como que as mulheres que tem infertilidade sofrem por não ter assistência. Além do governo não ter assistência no sistema de de saúde, para causa da infertilidade”, conta Kamila.
A publicação foi feita em 2015, e gerou uma grande repercussão, com diversos depoimentos de mulheres passando pelo mesmo problema, muitos compartilhamentos, além de ganhar uma visibilidade nacional. Logo em seguida, a produtora cultural decidiu entrar em contato com essas mães, e saber mais sobre suas histórias.
“Algumas delas já tinham grupos formado, de mães tentantes, mulheres inférteis, e aí todas entraram em contato, e como eu estava focada naquele momento na tentativa de fertilização, engravidar mesmo, eu não me envolvi muito com com esses grupos, mas segui falando sobre isso, acabei me tornando referência”, afirmou.
Toda Mulher Tem o Direito de Ser Mãe
Por meio do texto publicado na rede social, ela criou a campanha “Toda Mulher Tem o Direito de Ser Mãe”, apesar de ter vivido e conhecido diversas histórias, ela precisou se afastar por um curto tempo da ação. “Aquilo estava me adoecendo, eu estava absorvendo aquelas histórias, aquelas muitas mulheres que sofriam abuso, que sofriam críticas da família da sociedade, que já tinham trilhado caminhos de fracassos, aquilo estava me deixando doente, então eu decidi me afastar um pouco da campanha”, afirmou.

Mesmo afastada, ela chegou a levar propostas a alguns deputados, alguns até se propuseram a criar projetos e ações de amparo à mulher infértil, mas depois de aprofundar nos estudos percebeu que já haviam alguns projetos aprovados, mas que só estavam no papel.
Além disso, ela usou esse tema no seu mestrado . “A Invisibilidade da mulher infértil”, debati sobre o assunto, pesquisei, levei o assunto para academia, e ficou bem legal. Nunca gerenciei um grupo de mulheres sobre esse tema. Elas foram personagens da minha dissertação, e tive que manter o anonimato, muitas delas não gostam de aparecer”, conta.
Mais tentativas para engravidar
Após ela suspender os métodos contraceptivos, e tentar engravidar, ela não conseguiu, e decidiu buscar outras formas para chegar nesse objetivo.
“Comecei a tratar o ovário policístico com remédios menos invasivos, nenhum nunca deu resultado, depois eu passei pra uns remédios mais invasivos, tratamentos mais invasivos, com medicação de indução de ovulação, mas nenhum funcionou comigo, aí foi quando fui fazer exame fora e identifiquei que eu tinha outros problemas como a endometriose”, explicou.
Após descobrir esse outro problema, ela acabou passando por uma gravidez anembrionária, que apresenta os mesmos sintomas da gravidez normal, porém, ao realizar a ultrassonografia, o embrião não é visualizado, mesmo com a presença do saco gestacional. Após isso, ela teve que passar por uma curetagem no útero.
“Foi nessa curetagem que lesionaram o meu útero, essa lesão criou feridas e a meu estado que já era ruim, fez com que o meu sistema reprodutor piorasse. Eu tinha endometriose, síndrome do ovário policístico, útero lesionado, endométrio bastante comprometido. Dessa forma, com a junção dessas muitas dificuldades fizeram com que a gravidez pra mim fosse impossível”, disse.
Com isso, somaram dez anos de diversas tentativas, com os mais variados tratamentos, gravidez anembrionária, e a idade avançando. Kamila buscava entender o porque dessa situação , pois ela conta que estava com a vida estabilizada, casada, tinha a vontade de ter filhos, mas parecia que o sonho ficava cada vez mais distante.
“Eu me questionava muito para Deus, questionava muito o universo, questionava o porquê que eu não merecia ser mãe, porque comigo, porque eu. Já que eu desejava muito, porque que outras mulheres nem desejavam ter filho, tinha filhos e maltratava, não criavam”, relembra.
Até que ocorreu uma situação que fez com que Kamila entendesse que não era o tempo certo. “E chegou um momento que depois desses dez anos tentando, o meu ex-companheiro me traiu, engravidou outra mulher, nós nos separamos e esse episódio foi o que agravou ainda mais a minha situação psicológica, eu fiquei muito abalada emocionalmente”, conta.
Mediante a esse fato que abalou sua vida, ela decidiu se conformar com a ideia de que não era para ser mãe, mas o desejo era vivo dentro de si.
“Acreditei que Deus tem algo melhor pra mim no futuro, vou esperar e decidi não mais lutar pela gravidez ou por ser mãe, foi algo que eu internalizei, eu tive que me conformar mesmo e passei a desejar uma outra vida pra mim, a desejar a ter um próximo companheiro ou estar com alguma pessoa que já tivesse filhos, que não viesse a me cobrar, porque já estava internalizado dentro de mim que eu não seria mais mãe”, afirma.
Reviravolta
Depois de um período sozinha, com outros desejos, e ficar bem emocionalmente, ela conheceu outra pessoa, e decidiu entrar em um relacionamento. Ela não buscava mais métodos ou tratamento para engravidar, não esperava mais por uma gestação, mas o desejo de ser mãe permanecia vivo.
Até que um certo dia, no ano anterior, para sua surpresa, o dia tão sonhado e esperado, parecia não ser real, aconteceu quando menos esperava. Kamila descobriu que estava grávida. “Eu estava muito emocionada, chorava muito, olhava pra barriga e não acreditava, foi a gravidez inteira assim, olhava e não acreditava, e eu sei que ela já estava ali”, relembra.

Em 2020, foi o ano em que ela comemorou o dia das mães com a Maria Fernanda dentro da sua barriga, e como era uma gravidez muito esperada, ela seguiu todos os procedimentos médicos, para que nada acontecesse com a sua gestação.

“Quando a pessoa tenta por muitos anos, tem muito comprometimento quando engravida, então eu estava sempre com muito cuidado, a gente estava em período de pandemia bem acentuado. E eu tinha muito medo, não saía de casa, muito de perder, mas do ponto de vista clínico foi uma uma gestação tranquila não tive nenhuma alteração”, conta Kamila.
Maria Fernanda
No dia 31 de maio de 2020, foi a data em que Maria Fernanda nasceu, apesar de nascido com oito meses, não sofreu nenhuma complicação. Para Kamila, o momento mais esperado a sua vida. “Ela nasceu bem, nasceu perfeita, quando tiraram ela da barriga que eu olhei, eu vi ela perfeita, deu tudo certo, ela está aqui, eu chorei, estive muito feliz e em seguida fui fazer todos os exames pra ver se esse fato da prematuridade não tinha dado nenhum problema. Está tudo certo”, disse.

Nesse ano de 2022, Kamila comemora pela primeira vez o dia das mães com Maria nos seus braços, com quase 1 ano de vida, a Produtora Cultural se sente completa após o seu nascimento.
“Não há nada que eu quisesse mais do que ter ela na minha vida, nada. Eu ia ser uma pessoa incompleta. Eu nunca estaria conformada, teria vivido nessa terra sem saber o que era esse amor, e eu não nunca estaria conformada. Eu poderia ter aceitado, mas não estaria conformada. Sempre ia ter aquele vazio. E agora eu me sinto plena, preenchida de tudo, completa, porque eu tenho ela na minha vida”, concluiu a mamãe.
