Nos últimos meses, os brasileiros, como eu e você que me lê, têm sentido no bolso o impacto do aumento dos preços em produtos essenciais, como ovos, café e carne. A pergunta que fica é: o que está por trás desse encarecimento? Muita gente ainda acredita que a inflação acontece porque as pessoas estão consumindo demais, mas a realidade é bem diferente. O que vem pressionando os preços no Brasil não é um aumento descontrolado da demanda, e sim um fator cada vez mais evidente: o clima.
A inflação climática ocorre quando eventos extremos, como secas prolongadas, ondas de calor e chuvas intensas, prejudicam a produção de alimentos e elevam os custos em toda a cadeia produtiva. Esse fenômeno já está em curso no Brasil e tem impacto direto na mesa da população.
Um exemplo claro disso é a disparada do preço dos ovos, que já subiram até 67% em 2025. O calor intenso afeta diretamente as galinhas, reduzindo a postura e tornando a produção menos eficiente. Além disso, o custo da ração também aumentou, já que ingredientes como milho e soja sofreram perdas devido ao clima extremo. Com menos ovos disponíveis no mercado, os preços sobem rapidamente.
Outro produto essencial que sofreu impacto foi o café. O Brasil, um dos maiores produtores do mundo, viu suas lavouras castigadas pela seca e pelo calor excessivo, o que reduziu a produtividade e encareceu o grão. O efeito disso foi um aumento nos preços internos, tornando o café mais caro para os brasileiros do que para os mercados internacionais. Muitos produtores preferem exportar, onde conseguem um retorno maior, o que reduz ainda mais a oferta interna e agrava o problema.
Mas os alimentos não são os únicos afetados. A inflação climática também tem impacto no transporte e na logística. Chuvas intensas podem destruir estradas e dificultar o escoamento da produção – vide exemplo recente da BR-364 em nosso estado – enquanto períodos prolongados de seca reduzem a oferta de água para irrigação, prejudicando ainda mais a produtividade agrícola. Com menos produtos chegando ao mercado e custos logísticos mais altos, os preços sobem não só nos alimentos, mas em diversos outros setores da economia.
A consequência direta desse cenário é a perda de poder de compra da população. Se antes um salário já era apertado para cobrir as despesas básicas, agora a situação se torna ainda mais difícil. Famílias de baixa renda são as que mais sofrem, pois gastam uma parte maior de sua renda com alimentação. Com o preço dos alimentos em alta, sobra menos dinheiro para outras necessidades, como moradia, transporte e saúde.
Diante desse quadro, fica evidente que a inflação climática não é um problema passageiro. Com as mudanças climáticas se intensificando, eventos extremos devem se tornar mais frequentes, tornando a produção de alimentos ainda mais vulnerável. Por isso, o Brasil precisa pensar em formas de mitigar esses impactos e evitar que a população continue pagando essa conta sozinha. Investir em tecnologias agrícolas mais resilientes, fortalecer a infraestrutura de transporte e armazenamento e incentivar a produção sustentável são algumas medidas que podem ajudar a reduzir os efeitos da inflação climática.
Enquanto isso, os brasileiros seguem enfrentando preços cada vez mais altos sem uma solução clara no horizonte. O clima mudou, e a economia está sentindo o impacto. E a grande pergunta que fica é: estamos preparados para lidar com essa nova realidade?