A pandemia alterou diversos aspectos das nossas vidas. Para cerca de 3,8 milhões¹ de brasileiros, uma das coisas que mudou foi o jeito de trabalhar – agora, remotamente.
E embora a região Norte corresponda a modestos 3,3% desses trabalhadores em home office, convenhamos: altas são as chances de que você, que me lê, tenha trabalhado assim em algum momento nos últimos quase dois anos.
Parte fundamental do dia a dia de quem trabalha remotamente são as famigeradas videoconferências. Não à toa os downloads do Zoom – o mais popular aplicativo para a realização dessas reuniões -, saltaram de 10 milhões (em dezembro de 2019) para incríveis 300 milhões em abril de 2020.
E é neste contexto de reuniões virtuais que o termo “fadiga do Zoom” foi criado.
De acordo com a revista Psychology Today, a fadiga do Zoom consiste no “cansaço, ansiedade ou preocupação resultantes do uso excessivo dessas plataformas virtuais” [de videoconferência]. Apesar do nome, o fenômeno não se limita ao uso do aplicativo Zoom – se estendendo também ao uso de ferramentas similares, como Google Meet e Skype.
Se você usou esses apps, provavelmente já sentiu a fadiga do Zoom. Em verdade, a sensação não é exatamente nova. Em 2018, pesquisa publicada no International Journal of Information Management² já falava na chamada “fadiga das mídias sociais”: a exaustão mental sentida após uma sobrecarga de estímulos tecnológicos, de informação e de comunicação causados pelas redes sociais – e que aumentam as chances de doenças como ansiedade e depressão.
O fato é que as reuniões virtuais intensificaram o problema. E, ao que parece, os pesquisadores finalmente chegaram à raiz da questão.
Uma pesquisa publicada no Journal of Applied Psychology³ e divulgada mês passado pela revista Harvard Business Review⁴ identificou correlação positiva entre a sensação de fadiga e o uso da câmera. Curiosamente, o mesmo não foi identificado entre a sensação de fadiga e o número de horas despendidas em reunião. Nas palavras do estudo:
“[…] isto indica que manter a câmera ligada de forma consistente durante as reuniões está no cerne do problema da fadiga”
Os pesquisadores fazem outro apontamento interessante: a fadiga do Zoom também diminui a sensação de engajamento das pessoas, o que faz com que elas se manifestem menos durante as videochamadas.
Ou seja, aquela prática tão comum de estimular que as pessoas liguem as câmeras – para que participem mais – não parece surtir o efeito desejado.
Também foi identificado que as mulheres e os funcionários mais recentes das empresas são especialmente vulneráveis a essa sensação de fadiga. Supostamente, a câmera ligada implica numa maior carga mental e física – relacionada à autoimagem e à expectativa de se estar fisicamente bem apresentável -, carga esta que, para esse público, é naturalmente mais alta.
A moral da história é simples: desligue a câmera! Em especial quando você começar a se sentir fadigado.
E você, empregador, deixe que seus funcionários participem das reuniões apenas por voz, se assim desejarem! Uma alternativa interessante, mencionada num estudo de Stanford⁵, é a realização de “reuniões caminhadas” – chamadas por voz em que os funcionários são estimulados a levantar da mesa de trabalho e se mexer.
Por fim, teorizo que a mesma lógica se aplica a professores e alunos em aulas remotas – razão pela qual, aliás, nunca exigi que meus alunos ligassem as câmeras.
Dito isto, até o próximo texto, estão liberados!
Gustavo Cardial é especialista em Computação Forense, mestrando em Ciência da Computação e professor do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Acre (Ifac)