Poderemos viver dias sombrios em relação à violência no estado
A cada dia que passa, os números de contaminados pelo novo coronavírus vem aumentando em nosso estado. O cenário incerto da pandemia nas áreas da saúde e economia tem provocado uma sensação de angústia na população, que convive com os fantasmas das futuras sequelas, em especial, o grande número de mortes, o colapso das empresas privadas, desemprego e, tantas outras adversidades sociais.
As discussões sobre as medidas de contenção e efeitos da Covid – 19 são cercadas, na maioria das vezes, por critérios políticos e individuais, por isso, a necessidade de compreender de maneira sistemática uma perspectiva com consequências críticas para o acreano, o provável aumento descontrolado dos índices de violência.
No início do mês de Abril, o governo do Acre divulgou, através da Secretaria de Justiça e Segurança Pública (SEJUSP), estatísticas que demonstraram a queda dos índices de homicídios no estado entre os meses de fevereiro e março de 2020, apresentando como motivação supostas novas estratégias da agências de inteligência e, o trabalho integrado das forças policiais ( Disponível em: https://agencia.ac.gov.br/seguranca-apresenta-reducao-de-mais-de-40-em-indice-de-homicidios-na-capital/ Acesso em: 17.04.2020.), situação digna de comemoração, caso não estivéssemos vivendo uma realidade catastrófica de proporções mundiais.
Tratando-se de números relacionados à violência no contexto atual muitas outras regiões consideradas as mais violentas no Brasil e, no mundo, é que deveriam comemorar, contudo a realidade demonstra outro panorama.
Para ilustrarmos a aparente diminuição da prática de crimes graves como as divulgadas pelo governo do acre, citamos a redução de 65% dos latrocínios, 37% dos homicídios dolosos e, 30% dos roubos de veículos no mês de março de 2020 no Rio de Janeiro, fato similar também ocorreu na capital da Venezuela, Caracas, que alcançou no ano de 2018, segundo relatório do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o lugar de cidade mais violenta do planeta e, no mês de março de 2020 experimentou a taxa de criminalidade quase zero.
Apesar do declínio da violência em alguns estados, outros já vivem momentos críticos como o Espírito Santo, que teve o aumento de 66,27% no número de homicídios no mês de março de 2020. Também é importante mencionar o aumento considerável de infrações penais diversas, como a violência doméstica, que em nosso estado subiu em 26% no mês de março.
E o que realmente devemos esperar da violência no Acre, depois de refletir sobre as estatísticas contraditórias e, que não demonstram os verdadeiros reflexos da Covid – 19 para a sociedade?
Através de uma análise dos fatores criminológicos provocados pela crise econômica – social, podemos encontrar algumas respostas viáveis.
Os crimes graves seguem uma lógica associada ao custo-benefício. Por exemplo, o enfraquecimento do mercado ilícito de entorpecentes pela dificuldade de exportação/importação impõe ao criminoso à necessidade de esperar um melhor momento para a comercialização, já que falta produto para a venda, restando-se como opção futura de capitalização financeira a prática de crimes contra o patrimônio.
Outra condição é a dificuldade estatal de manutenção do isolamento social que acaba proporcionando a transmissão comunitária do novo coronavírus atingindo a curto prazo os efetivos das forças policiais, inclusive com casos já confirmados na Polícia Militar e Polícia Penal acreana. O pouco efetivo e a sobrecarga de ações obrigará os gestores a priorizarem a atuação dos policiais para a prevenção e repressão dos principais crimes, reduzindo drasticamente a frágil eficácia das instituições do sistema de segurança pública. De outro lado, o fiel respeito ao isolamento social cria um aumento dos conflitos de âmbito doméstico provocando mais infrações, circunstância nítida na maioria dos estados do país.
Também não podemos esquecer a emergente crise econômica. Os seus efeitos poderão determinar a mudança dos anseios de grupos e organizações criminosas, havendo uma alternância relacionada as disputas de territórios, antes ligadas ao tráfico de drogas, para crimes como extorsões, sequestros e até cibercrimes.
Acreditamos ser importante cultivar o otimismo, entretanto, as concepções propostas nos mostram que poderemos viver dias sombrios em relação à violência no Acre. O poder público deve imediatamente enfrentar o problema apresentando dados reais e definindo planos estratégicos para impedir antecipadamente uma onda de crimes provocada pelos impactos da Covid – 19, capaz de atormentar ainda mais a população acreana.