Djavanderson de Oliveira Araújo, de 20 anos, é acusado de feminicídio pela morte da acreana Juliana Valdivino da Silva, de 18 anos, em um crime ocorrido em 9 de setembro de 2024, em Paranatinga, próximo a Cuiabá. Ela foi queimada viva e sofreu ferimentos em 90% do corpo, o que resultou no falecimento 15 dias depois no hospital.

A mãe da vítima, Rosicleia Silva, compartilhou que a filha havia manifestado intenção de pedir uma medida protetiva contra o marido. Ela sugeriu à filha que tomasse essa medida e que voltasse para o Acre, onde já planejavam uma mudança de vida. Porém, o telefone da vítima foi clonado, o que levou a situação que culminou na tragédia.
“Eu fui a sugerir a ela a medida protetiva. Os planos dela já eram para voltar para o Acre, porque a gente estava vendo trabalho, vendo passagem. Eu trabalho aqui em Rio Branco, eu vou e venho todos os dias. Ela disse, que se eu consigo, ela também poderia. Então tinha já um plano de uma mudança de vida. Mas o telefone foi clonado e ele viu isso. Isso foi um dia antes do acontecido. Ele viu e fez o que ele fez. Ele não queria ela longe de jeito nenhum”, esclarece.
A mãe explicou que a filha e o acusado se conheceram enquanto estudavam juntos, e já havia descontentamento dela em relação ao relacionamento. Ela afirmou que a relação apresentava sinais de problemas e que não era saudável. Além disso, esclareceu que sempre teve muita preocupação, principalmente ao notar que Oliveira estava frequentemente em casa, o que a deixava constantemente incomodada.
“E relacionamento que dava sinais de que não era sadio. Quando saía para trabalhar, às vezes encontrava ele lá em casa ao chegar. E eu não gostei. Conversei com ele e disse que deixava minha filha para ela ficar só em casa, não é pra vir ninguém aqui. Então, a partir daquele dia, eu fiquei chateada com ele, falei umas coisas muito sérias pra ele, que ficou um pouco chateado comigo também. Ele nunca me desrespeitou. E também nunca vi ele falar algo com a Juliana”, comenta a mãe.
A mãe também explicou sobre o ciúme excessivo de Oliveira, que controlava até mesmo a forma como a vítima se vestia e tinha um comportamento possessivo. Silva tentou alertar a filha sobre essa situação, mas ele se mostrava firme com uma postura de completo controle.
“O problema é que ele era muito ciumento. Tinha muito ciúme dela. Então, ele vestia a Juliana da forma que ele queria. Eu dizia que não gostava da Juliana nessas roupas e ele falava que era bonito e por isso deveria ser mostrado, pois ela andava com ele. Então, ele tinha esse possessivo domínio. Queria dominar”, enfatiza Rosicleia Silva.
Silva destacou a independência e os sonhos da filha, e explicou que a ela tinha aspirações de se formar em medicina veterinária. Ela se recordou de conversas em que Juliana expressava a determinação de seguir os objetivos, mesmo diante das dificuldades do relacionamento.
“A Juliana foi criada com autoridade. Uma menina independente. É tanto que ela trabalhava e ele às vezes ficava em casa. O sonho da Juliana era se formar em medicina veterinária. Eu até perguntei pra ela se aquele sonho lá que tinha acabou e ela disse que não e que realizaria esse ano. Eu vou fazer 18, é o ano que eu posso andar pra onde eu quiser sozinha”, destaca a mãe.
Além disso, a mãe revelou o medo em relação ao rapaz e a família, com a afirmação de que não confiava neles e que tinha preocupações sobre a segurança da filha. Essa desconfiança foi exacerbada pelo histórico problemático da família do acusado.
“E com ele eu não tinha essa confiança. Principalmente quando estava do lado da família. A família dele não é pessoas de confiança. Eu não confiava na mãe dele. Eu até falei pra ela mesmo lá no hospital que eu não confiava nela. Porque tem histórico mal resolvido. Tem pessoas desaparecidas. Faz parte do problema lá dos pais dele”, diz.
Ela lamentou a perda da filha e expressou dor ao refletir sobre a tragédia que impactou sua família. Além disso, sobre a noite do crime, ela acredita que a intenção do acusado era matar a filha e que ele não a ajudou após o incêndio.
“Então eu tinha medo de ele desaparecer com a minha filha. E pelo depoimento que eu vi, até de vizinhos. A intenção dele era matar minha filha, deixá-la dentro da casa pegando fogo e sumir, para dizer que foi um acidente. Ele não salvou a Juliana para levar para o hospital”, explica.
A mãe falou sobre o vínculo profundo que tinha com a filha e o sacrifício que fez para cuidar dela ao longo dos anos. Ela descreveu a força dela, que conseguiu entrar no carro mesmo após ser gravemente queimada, e como isso impressionou os médicos.
“A Juliana pulou dentro do carro por impulso. Mesmo toda queimada dos pés à cabeça, ela entrou dentro do carro com as pernas dela. Quando eu cheguei no hospital, os médicos diziam que ela era muito forte. Ela chegou andando dentro do hospital. Ela desceu da maca e andou. Uma criança queimada dos pés à cabeça, caminhar. Eu conversei com a minha filha durante nove dias”, fala.
Sobre o julgamento, a mãe da vítima expressou esperança por justiça. Ela enfatizou a gravidade do feminicídio no Brasil e alertou as mulheres sobre os perigos de relacionamentos abusivos. Ela afirmou que é fundamental que as mulheres se cuidem e evitem relacionamentos que as humilham.
“Que a justiça seja feita. E que a sociedade veja a situação que se encontra o feminicídio no Brasil. Está além do limite. E para as mulheres, se cuidem, se cuidem. Porque viver ao lado de um homem que te coloca para cima, que te ajuda, é bom. Mas ao lado de uma pessoa que te humilha, que te maltrata, pelo amor de Deus, mantenha a distância. Nós, mulheres, sobrevivemos sem precisar de homem nenhum. É isso que eu digo”, enfatiza.
Como a defesa vai proceder
A advogada Elenira Mendes, que atua como assistente de acusação no caso, comentou sobre o início do julgamento, que deve se estender devido à quantidade de testemunhas que precisam ser ouvidas. Ela destacou a importância de cada detalhe que será levantado durante o processo e que a acusação pretende provar a premeditação do crime.
“Então, esse julgamento que inicia hoje, provavelmente deve se estender. Nós estamos iniciando agora o júri do caso da Juliana e temos muitas testemunhas para serem ouvidas, informantes, a família, tanto do réu como da vítima. Então, existem muitas informações nos autos, muitas perguntas, peculiaridades que a gente precisa extrair das testemunhas. Então, acredito que vai ser um longo julgamento e que requer tanto da defesa, essa atenção em cada caso específico que vai ser levantado pelas testemunhas, como da acusação”, explica a advogada.
Ela alertou sobre a crescente incidência de feminicídios, e enfatizou que as mulheres devem estar atentas aos sinais de relacionamentos abusivos, que incluem não apenas agressões físicas, mas também psicológicas. Ela incentivou mulheres em situações semelhantes a procurarem ajuda e denunciar qualquer abuso.
“Nesse julgamento, queremos deixar claro que houve sim a premeditação do crime, desde o momento em que o réu continuou com o veículo que ele utilizou para o trabalho no dia anterior, a aquisição dos elementos que foram adquiridos aproximadamente duas horas antes dele cometer o crime. Então, a acusação vai bater nessa tecla sim. O feminicídio aumenta cada vez mais no nosso país, principalmente aqui no nosso estado. Então, mulheres, fiquem atentas aos pequenos detalhes do relacionamento abusivo, que não é apenas a agressão física, mas são as agressões psicológicas, a insistência em manter aquele relacionamento. Procure ajuda”, conclui.
Canais de Ajuda
As vítimas podem procurar a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (Deam) pelo telefone (68) 3221-4799 ou a delegacia mais próxima.
Também podem entrar em contato com a Central de Atendimento à Mulher, pelo Disque 180, ou com a Polícia Militar do Acre (PM-AC), pelo 190.
Outras opções incluem o Centro de Atendimento à Vítima (CAV), no telefone (68) 99993-4701, a Secretaria de Estado da Mulher (Semulher), pelo número (68) 99605-0657, e a Casa Rosa Mulher, no (68) 3221-0826.
Estagiário supervisionado por Gisele Almeida