Em entrevista ao programa Gazeta Entrevista nesta quarta-feira (28), o presidente do Serviço de Água e Esgoto de Rio Branco (Saerb), Enoque Pereira, revelou os desafios enfrentados pelo sistema de abastecimento da capital acreana. Segundo ele, a infraestrutura antiga, a falta de investimentos e o alto índice de inadimplência dos usuários colocam em risco a eficiência do serviço — e até mesmo abrem espaço para debates sobre uma possível privatização.
Pereira destacou que a rede de distribuição de água da cidade apresenta problemas frequentes, especialmente nos tubos antigos, que não suportam a pressão total das bombas e quebram com frequência. Um dos trechos mais críticos fica no segundo distrito, onde a tubulação precisa ser constantemente reparada, causando transtornos à população.
“A gente tem uma rede de ferro fundido que já estava só a casquinha. Quando ela rompe, o sistema inteiro é afetado. O custo de manutenção é alto e ainda há o transtorno de faltar água nas casas”, afirmou.
Além da estrutura precária, o presidente do Saerb também apontou o desperdício como um grande problema. De acordo com ele, 80% das perdas de água ocorrem por mau uso dos próprios moradores, seja por falta de boias nas caixas d’água, ligações irregulares ou pelo hábito de jogar água em poços na tentativa de melhorar sua qualidade.
“Tem usuário que chega a pagar R$ 500 de água porque deixa a torneira aberta 24 horas. Isso é um problema sério. Estamos implementando hidrômetros e conscientizando a população sobre o uso responsável”, disse.
Inadimplência e risco de privatização
O Saerb fatura cerca de R$ 8,4 milhões por mês, mas arrecada apenas R$ 5,2 milhões, o que representa um índice de pagamento de 60%. Pereira enfatizou que a inadimplência prejudica a capacidade de investimento do serviço público e alertou para um risco iminente: a concessão da água para a iniciativa privada.
“O pagamento da fatura é um pré-requisito para evitar que a concessão seja discutida. O prefeito Bocalom é contra, eu também sou, mas a inadimplência força esse debate. Há parlamentares que defendem a privatização porque acreditam que isso resolveria o problema”, declarou.
Para evitar essa possibilidade, o Saerb planeja medidas como a instalação de 7 mil hidrômetros até abril, a realização de um mapeamento completo da rede e a obrigatoriedade de boias de controle de vazão em todas as residências a partir de agosto deste ano.
Pereira também criticou a falta de apoio de parlamentares federais para o setor. Segundo ele, do orçamento de quase R$ 1 bilhão disponível entre emendas individuais e de bancada, apenas R$ 1 milhão foi destinado ao Saerb. No entanto, ele afirma que há um esforço contínuo para buscar recursos e melhorar o abastecimento.
“Estamos planejando melhorias para que mais bairros tenham água 24 horas por dia. No ano passado, conseguimos avanços no Calafate e em outras regiões, mas ainda há muito a ser feito”, disse.