Uma pesquisa realizada pela psicóloga Edila de Aguiar, especialista em saúde mental, revelou dados preocupantes sobre o estado emocional de policiais militares que atuam no Acre. O levantamento, que ouviu 212 profissionais lotados nos quartéis de Rio Branco e Senador Guiomard, aponta que mais da metade dos militares enfrentam algum tipo de transtorno emocional decorrente da rotina estressante e da exposição constante a situações de risco.
O estudo buscou compreender os impactos psicológicos da atividade policial e trouxe à tona questões sensíveis que ainda enfrentam resistência dentro da própria corporação. Quando questionados sobre o estresse no trabalho, 52% dos entrevistados afirmaram sentir-se estressados “às vezes”, enquanto 40% disseram que o estresse é constante. Além disso, 62% afirmaram que a atividade os torna insensíveis em certos momentos, e 47% relataram episódios de agressividade.
A psicóloga observa que esses dados revelam não apenas a presença de transtornos emocionais, mas também as consequências deles na vida pessoal dos policiais. Segundo o levantamento, 61% dos entrevistados afirmaram que os problemas emocionais afetaram o relacionamento familiar. “A profissão exige frieza e força, mas muitos não conseguem fazer essa separação entre o trabalho e a vida pessoal, o que resulta em comportamentos truculentos fora do ambiente de serviço”, explica Edila.
Outro dado que chama a atenção é a contradição entre a percepção da importância do acompanhamento psicológico e a busca efetiva por esse apoio. Embora 63% reconheçam que o acompanhamento profissional é necessário, 73% admitiram que nunca procuraram ajuda psicológica. O receio, a vergonha e o estigma ainda são barreiras significativas para o enfrentamento dessas questões.
A pesquisa também indica que 54% dos militares sentem que o trabalho interfere em seu emocional com frequência, enquanto 49% afirmaram que a atividade prejudica diretamente a saúde mental. Além disso, 33% disseram que nunca se sentiram valorizados na profissão, e 32% relataram que raramente se sentiram reconhecidos.
As horas extras foram apontadas como o fator que mais contribui para o cansaço e o estresse, com 52% afirmando que são sempre prejudiciais. Esse excesso de carga horária, aliado à falta de valorização profissional, contribui para o agravamento dos sintomas emocionais, podendo evoluir para quadros clínicos mais graves, como transtornos de ansiedade e depressão.
Um dado alarmante levantado pelo estudo foi a resposta à pergunta sobre ideação suicida: 6% dos policiais entrevistados afirmaram já ter pensado em tirar a própria vida. A psicóloga ressalta que esse é um alerta para gestores públicos e autoridades de segurança. “Tudo começa com uma ansiedade que evolui para depressão. No Brasil, morrem mais policiais por suicídio do que em confrontos diretos contra o crime. É fundamental cuidar da mente desses profissionais”, destaca.
O chefe do setor de psicologia da Policlínica que atende militares reforçou que o tratamento psicológico pode reverter muitos quadros em poucos meses. Segundo ele, qualquer distúrbio emocional pode ser amenizado com o acompanhamento adequado, melhorando significativamente não apenas o desempenho no trabalho, mas também a convivência familiar e a qualidade de vida do policial.
A pesquisa destaca a urgência de políticas públicas voltadas à saúde mental dos profissionais de segurança, que precisam de suporte constante para exercerem suas funções com equilíbrio e segurança, tanto para a sociedade quanto para si mesmos.
Matéria em vídeo produzida pelo repórter Adailson Oliveira, para TV Gazeta.