É chegado o momento de a sociedade encampar um grande movimento para que esses pontos da agenda ambiental avancem
O que nós vamos fazer com as cenas que as cheias de 2023 geraram aqui no Acre? Seja o senhor idoso salvado pelo telhado por dois jovens; os gêmeos abraçados pelo pai que se esforçava contra a correnteza; ou até mesmo o prefeito estivador, carregando dois sacolões (para delírio dos assessores)… o que faremos com essas imagens? Ou melhor: o que faremos, a partir delas? O que elas nos ensinam?
Não foi o ciclo inverno/verão que mudou. Faz tempo que isso existe. O que mudou foi a nossa intervenção nesse ciclo. Ela tem sido cada vez mais radical e intensa no desrespeito a tudo o que se relaciona com preservação ou conservação do Meio Ambiente. As consequências naturais têm chegado também cada vez mais radicais e mais intensas.
Sejamos práticos: no que se refere ao Igarapé São Francisco, por exemplo. No Ministério do Meio Ambiente, há um projeto de autoria do senador Marcio Bittar (União Brasil/AC) que trata de urbanização ao longo de todo o igarapé. Orçado em R$ 200 milhões, o projeto prevê o desassoreamento, construção de casas para populações que hoje moram na APP ao longo dos 18 bairros por onde ele passa.
Dois ministros do Meio Ambiente após a apresentação do projeto, caiu no colo da ministra Marina Silva a possibilidade de executar a ideia. Tudo está por fazer nesse projeto. Certamente, melhorá-lo, ajustá-lo, realizar estudo de impacto ambiental, cumprir a legislação naquilo que é necessário, justamente para evitar os problemas que hoje se tenta resolver.
Ocorre que é chegado o momento de a sociedade encampar um grande movimento para que esses pontos da agenda ambiental avancem. Por aqui, a qualidade da gestão pública está com turbidez alta. A Secretaria de Estado de Meio Ambiente abandonou o debate público e os líderes políticos ou manchetam noticiário policial ou tentam lacrar nas redes sociais. A condução está conosco. Somos nós que temos que induzir.
O presidencialismo à brasileira pariu um burro na copa da samaúma e agigantou o parlamento na execução do orçamento público. Nem cabe aqui discutir neste momento o porquê de o burro estar na copa da samaúma. Ocorre é que os parlamentares acrianos terão, em conjunto, R$ 700 milhões para oferecer ao Estado este ano.
Um gargalo evidente é que a capacidade de executar obras públicas na atual gestão, tanto do Governo do Estado quanto da prefeitura da Capital, é esta que se vê. Até mesmo o secretário de Estado de Obras Públicas foi afastado da Seop por envolvimento na Operação Ptolomeu.
E isso aumenta a responsabilidade da imprensa, das universidades, organizações não governamentais, coletivos ambientais, associações de moradores, igrejas, movimentos sociais. A intervenção é nossa. Ou deveria ser.