Animais podem estar sendo contaminados pela usina
Produtores que trabalham próximos à usina Álcool Verde, na BR-317, em Capixaba, denunciaram ao Ministério Público que o inseticida jogado nas canas está matando porcos, galinhas, peixes e vacas, além das plantações.
A equipe de reportagem da TV Gazeta foi até uma das propriedades afetadas e verificou a carcaça de uma vaca que morreu há 15 dias. O proprietário da área, João Alves Miranda, disse que não enterrou os ossos e o couro para mostrar que a pulverização está acabando com sua criação.
Ele apontou ainda uma outra vaca está cheia de feridas de tanto ficar deitada quando estava doente. “Agora ela está recuperada, depois de gastar mais de mil reais com medicamentos, mas ainda tem um problema: a vaca deixou de produzir leite”, afirmou João.
De 15 vacas da propriedade, sete já morreram. As que sobraram estão produzindo apenas quatro litros de leite por dia. Antes, eram 12 litros.
Com medo de o inseticida atingir a família, ele levou a mulher e os três filhos para a casa de um amigo. “A gente é adulto: se defende melhor, mas uma criança ficar doente assim, é melhor evitar”, reclamou o produtor.
A pulverização da Álcool Verde é feita mensalmente. Muitas propriedades ficam lado a lado com os canaviais. Quando o inseticida é jogado por avião atinge os animais e as plantas.
Caso no MP
O caso está na coordenação de Defesa do Meio Ambiente do Ministério Público. A promotora Meri Cristina montou um processo e está preparando a denúncia. Ela contou que, durante uma viagem a Brasileia, flagrou o avião fazendo a pulverização sem a licença do Instituto de Defesa Florestal o IDAF.
“Depois de um levantamento, se descobriu que os produtores alegam ter perdido animais que morreram na hora, ou que, por ação do veneno, estão abortando. Tem ainda várias plantações destruídas’’, disse a promotora.
O Ministério Público alega que precisa de provas para ajuizar a ação. “É preciso retirar amostras das carcaças dos animais para saber se a causa da morte foi o inseticida usado. Aí teremos como agir mais seguros”, completou.
A gerência da empresa no Acre disse que não poderia falar sobre o assunto, somente a direção em Goiânia pode passar uma posição.
Mais denúncias
O Ministério Público também está investigando outras denúncias de crime ambiental contra a Álcool Verde. A usina mantém um tanque onde é jogado um líquido chamado de “vinhoto”, um resíduo da cana de açúcar. Como o tanque não é impermeabilizado, o líquido se infiltra no solo e atinge os açudes dos produtores que ficam próximos à usina.
Existem várias denúncias de mortandade de peixes. Todos esses casos já estão na mesa da promotora Méri Cristina, que já vem de olho na empresa desde a sua reinauguração sem o devido processo de licenciamento.
Para a promotora há outro risco maior na região: os incêndios nos canaviais. “Muitas propriedades estão próximas da plantação. O fogo, que é benéfico para a empresa, pode destruir e levar mais prejuízos aos moradores”, reclamou.
Atualmente a Álcool Verde está parada, não produz nada. Os funcionários apenas acompanham a evolução da cana plantada ao redor da usina.