Na semana passada o tricampeão mundial de surfe (2014, 2018 e 2021), Gabriel Medina anunciou em suas redes sociais que não iria participar da primeira etapa da temporada da modalidade que acontece em Pipeline no Havaí, que foi iniciada no último sábado (29) e se estende até o dia 10 de fevereiro. O atleta alegou estar em seu limite físico e mental e precisava de um tempo para se recuperar. A notícia pegou todos de surpresa, pois Medina é o atual campeão da categoria e teve em 2021 um dos melhores momentos de sua carreira.
O brasileiro entrou para a elite do surfe mundial em 2011, com apenas 17 anos, sempre competindo em alto nível e em poucos anos atingiu o lugar mais alto do pódio. Além de ter que lidar com uma rotina intensa de treinos Medina ainda teve alguns problemas de ordem pessoal, como atritos familiares e recentemente uma separação. O conjunto de fatores contribuiu para que ele tomasse a decisão, que ele considerou uma das mais difíceis que foi a de dar uma pausa em tudo.
O assunto sobre a saúde mental de atletas de alto rendimento volta a ser discutido novamente com força total. Desde que a ginasta norte americana Simone Biles, abandonou a disputa das finais nas Olimpíadas de Tókio no Japão em 2021. Considerada a melhor do mundo em sua modalidade e favorita para a conquista do ouro olímpico, a jovem ginasta relatou em suas redes sociais que não teve a menor ideia de como caiu de pé na execução de um dos saltos quando se classificou para a final dos jogos. Após uma avaliação médica da equipe americana, chegaram a conclusão de que Simone não teria condições emocionais para continuar na disputa, por apresentar “twisties”, uma espécie de bloqueio mental que pode fazer com que ginastas percam o controle de seus corpos no ar.

Em 2016 Michael Phelps declarou que tinha sérias crises de ansiedade e depressão e que chegou a utilizar drogas em alguns momentos da carreira. O nadador americano que é o maior medalhista da história dos jogos olímpicos, tendo conquistado 28 medalhas, sendo 23 de ouro e ainda foi responsável por estabelecer 39 recordes mundiais ao longo de sua carreira.

A coragem de atletas como Medina, Biles e Phelps, têm sido um grande avanço no mundo dos competidores de elite. Falar abertamente sobre vulnerabilidades emocionais é quebrar um tabu que durante anos existiu nesse meio profissional. Admitir um problema psicológico por vezes era encarado como fraqueza ou até mesmo “frescura”. No entanto, de cinco anos pra cá, entidades como o Comitê olímpico internacional (COI) têm dedicado mais atenção ao assunto, confeccionando cartilhas para tratar do assunto e também chamando atletas e membros das comissões técnicas para o debate.
Existe uma característica bastante comum à maioria dos atletas de alta performance. Rotina intensa de treinamentos, alimentação regrada e muita disciplina para a conquista dos objetivos, além de na maioria das vezes terem o início de suas carreiras profissionais muito jovens. O tripé que se exige de um atleta é o seguinte: Técnica, preparo físico e controle emocional. Para que se atinja o auge, é necessário que estes três ingredientes estejam bem ajustados. A técnica apesar de ser um elemento nato, pode e deve ser aprimorado assim como o preparo físico. O controle emocional também deve ser trabalhado dia a dia. Saber perder é tão importante quanto saber ganhar, e se deve ter muito cuidado com o deslumbre a prepotência e arrogância, que podem enterrar uma carreira promissora os primeiros dias de vida.
Recentemente surgiu para a grande mídia o jogador Endrick, atleta das categorias de base do Palmeiras que teve muita visibilidade com a conquista da Copinha 2022. Com apenas 15 anos, o jovem talento já desperta o interesse de gigantes do futebol mundial, e o clube em que ele atua já trabalha para estabelecer os valores da multa, no caso de alguma equipe europeia tentar compra-lo. O valor chega a 100 milhões de euros, cerca de R$ 615 mi.

Com a disputa do mundial de clubes, prevista para fevereiro deste ano, parte da torcida, da imprensa esportiva e também alguns ex-jogadores, declararam que gostariam de ver o garoto na equipe que irá participar do torneio. Para outros, como o técnico Alviverde, Abel Ferreira, é preciso dar tempo ao tempo, e não se podem pular etapas, pois o garoto é muito novo e isso pode atrapalhar o seu desenvolvimento.
O sucesso muito rápido, a mudança de vida de forma brusca e a pouca idade podem ser fatores que comprometam o desenvolvimento psicológico de qualquer um. No caso de Endrick, o mais recente, até pouco tempo a família que é do Distrito Federal, não tinha sequer dinheiro para o básico, em um relato do pai do garoto, teve diversas vezes que juntar as poucas moedas que tinha para comprar macarrão instantâneo para matar a fome da família.
Tudo deve ser muito bem planejado, apesar de que as boas oportunidades sempre devem ser aproveitadas. Uma base familiar sólida e o acompanhamento profissional desde o início é fundamental para o bom desenvolvimento, seja de atleta de elite ou de uma pessoa normal.
Conviver com a fama, com os milhares de seguidores nas redes sociais traz prós e contras. Parafraseando a bela musica de Caetano, podemos dizer que “…cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é…”. como já dissemos, quer seja um Medina, um Neymar ou uma Biles, caso se perceba qualquer alteração emocional, por mais simples que seja, se deve procurar imediatamente uma ajuda profissional. Novamente vou me utilizar de mais um trecho da música de Caetano. “…cale a boca, só não cale na boca notícia ruim…”. Parabéns a todos os corajosos que conseguem falar o que sentem que em um mundo cada vez mais embrutecido existe essa esperança, pois com essa atitude destemida ajudam inúmeras pessoas que atravessam o mesmo problema.
Fico por aqui meus amigos e amigas. Se cuidem e até a próxima!