Na última quarta-feira, 29 de janeiro de 2025, o Banco Central anunciou mais um aumento da taxa de juros, a Selic, que subiu de 12,25% para 13,25% ao ano. Essa foi a quarta vez seguida que o BC decidiu aumentar os juros. O objetivo é claro: tentar segurar o aumento dos preços, ou seja, controlar a inflação. A ideia é que, com juros mais altos, as pessoas e as empresas peguem menos dinheiro emprestado, gastem menos e, assim, a demanda por produtos e serviços caia. Com menos demanda, os preços tendem a parar de subir.
A teoria parece fazer sentido, mas, na prática, será que isso funciona mesmo? A resposta não é tão simples, e pra entender por quê, precisamos olhar para o que realmente está por trás da inflação no Brasil.
Quem sente no bolso o efeito da inflação sabe que o salário parece cada vez menor, mesmo que o valor não tenha mudado. Mas o que está fazendo os preços subirem tanto? A resposta não está só no consumo, como muita gente pensa.
No Brasil, 54 milhões de pessoas dependem do Bolsa Família, e 30% da população vive com apenas um salário mínimo. Ou seja, não dá pra dizer que a inflação está sendo causada por um “consumo excessivo”. Na verdade, o que está acontecendo é que problemas climáticos, como secas e enchentes, estão afetando a produção de alimentos. Além disso, os preços internacionais de energia e alimentos também estão subindo. E adivinha? Nenhum desses problemas se resolve com juros altos.
Além de não resolver a inflação causada por esses fatores, o aumento da Selic traz um monte de efeitos colaterais ruins, especialmente para quem já está sofrendo com a alta dos preços. Juros altos significam empréstimos mais caros, financiamentos mais pesados e juros do cartão de crédito nas alturas. E quem mais sente isso? A população mais pobre, que muitas vezes depende dessas linhas de crédito pra conseguir se virar no dia a dia.
E não para por aí. Juros altos também afetam as empresas. Empréstimos caros desestimulam investimentos, e muitas empresas acabam tendo que cortar custos – o que, na prática, significa demitir funcionários. Com mais gente desempregada, o consumo cai ainda mais, e a economia entra num ciclo vicioso que só piora a situação.
Mas então, quem se beneficia de juros altos? Aqui é que tá o pulo do gato. A insistência em manter os juros lá nas alturas também mostra uma coisa que muita gente desconfia, mas nem sempre fala abertamente: o Banco Central tá mais preocupado em agradar o mercado financeiro do que em resolver os problemas reais do país. Desde que virou “independente”, em 2021, o BC tem seguido a cartilha de bancos e fundos de investimento, focando tanto em controlar a inflação que acaba esquecendo de outras coisas importantes, como gerar empregos e fazer a economia crescer. Isso faz com que os bancos aumentem seus lucros em detrimento do que já foi dito anteriormente – financiamentos mais caros, mais juros no cartão de crédito.
Então, qual é a solução? Não existe uma resposta fácil, mas dá pra pensar em alternativas melhores do que só aumentar os juros.
A primeira é um investimento em infraestrutura, pois melhorar estradas, portos e energia pode reduzir os custos de produção e transporte, o que ajuda a baixar os preços. A segunda é subsidiar a pequena produção agrícola, reduzindo problemas que podem ser causados por catástrofes climáticas, isso ajudaria tanto o pequeno produtor, que em alguns casos não consegue escoar sua produção, quanto a população em geral, já que teoricamente, haveria aumento da oferta de alimentos.
Com a troca recente de presidente do Banco Central, muita gente esperava uma gestão mais atenta aos problemas reais do país. Mas, até agora, o que se vê são as mesmas medidas de sempre, que não resolvem a inflação e ainda prejudicam os mais pobres.
Enquanto a política monetária continuar focada em aumentar juros sem olhar para as causas reais da inflação, os problemas vão continuar. É hora de pensar em soluções que levem em conta a realidade do Brasil e que não deixem os mais vulneráveis pagarem a conta.
A pergunta que fica é: com quem o Banco Central está realmente se preocupando?