Ser mãe é entrelaçar os sonhos da própria vida aos dos filhos, é ser o alicerce firme em meio às tempestades, a luz que guia nos momentos de escuridão. Uma mãe é a personificação do amor incondicional. Ela sacrifica, ela persiste, ela supera. Nos olhos dela, vemos a determinação de uma guerreira.
Nesse contexto, temos Fátima Araújo, mãe, aposentada e empresária, que compartilhou em entrevista ao Agazeta.net a visão sobre a maternidade, descrevendo-a como uma bênção e um amor incondicional. Natural de Natal, Rio Grande do Norte, Araújo mudou-se para o Acre aos 15 anos, onde construiu uma vida, criou quatro filhas e se estabeleceu como empreendedora de sucesso.

A mudança para o Acre nos anos 70 foi marcada pela perda da mãe e a criação ao lado de familiares, até se casar. Ao longo da jornada, ela atuou como funcionária pública por 35 anos, tornando-se aposentada, mas mantendo-se ativa na empresa. Com o apoio das filhas e netos, a empresária se considera uma pessoa realizada e feliz.
Como mãe solo, criou as filhas praticamente sozinha depois que o pai das meninas saiu de casa, quando eram ainda muito jovens. Determinada a oferecer uma boa educação e proteção, ela sempre esteve presente na vida das filhas, para garantir que elas não precisassem trabalhar em outro lugar, mas sim juntas. A mãe acredita que apesar das dificuldades da ausência paterna, sempre incentivou as filhas a buscarem a independência.
“Olha, para as mães que criam filhos sem pai, as minhas filhas eu criei praticamente só, pois o pai dela saiu de casa, elas eram tudo pequenas, tinha dois, três e cinco anos. Mas como eu tinha muito desejo de ser mãe, fui presente até hoje. As minhas filhas nunca precisaram trabalhar em nenhum lugar, elas trabalham comigo e eu acho que não é porque não tem o pai, que a mãe não possa dar uma boa educação, dar uma proteção, ensinar”, explica a matriarca.
A empresária relembra a trajetória, desde o início da vida de empreendedora até a formação da família. Inicialmente trabalhava no salão de outra pessoa, mas posteriormente decidiu montar o próprio salão na residência onde morava e hoje funciona o negócio familiar. Com as quatro filhas ao lado no trabalho, a empresária adquiriu casas para todas elas no condomínio onde residem, onde manteve um ambiente familiar e profissional unido.

“Comecei a trabalhar no salão de outra pessoa, mas depois quando as minhas filhas foram ficando adolescentes, resolvi montar aqui na minha casa, que hoje em dia não é mais a minha casa, é só o salão, e todas minhas filhas trabalham comigo, além disso, comprei casas no condomínio, moramos todos lá”, enfatiza.
A empreendedora relembra os desafios para engravidar e destaca a importância de ter formado uma família unida e envolvida no negócio, enfatizando que, se pudesse voltar no tempo, teria optado por ter mais filhos para expandir a empresa. A entrevista revela a história de superação, trabalho árduo e amor familiar que marcam a vida de Fátima Araújo.
“Eu me casei com 17 anos, morava com a minha avó, casei com meu primo e foi difícil para me engravidar. Eu passei cinco anos pelejando para engravidar e quando eu engravidei foi uma atrás da outra. Mas, se eu tivesse a mentalidade que eu tenho hoje em dia, eu teria tido mais filhos pra formar a minha empresa maior”, destaca.
Filhas
A matriarca tem quatro filhas: Perlla, Sammya, Luanna e Ciane, com idades entre 41 e 45 anos, e vários netos. Criadas com independência, todas trabalham com ela no salão. Essa união resultou em seis netos homens e duas mulheres.

As filhas de Fátima desempenham papeis essenciais na empresa, cada uma contribui com habilidades únicas. Luanna é cabeleireira e maquiadora, Perlla atua no caixa, Sammya é cabeleireira, e Ciane é designer de sobrancelhas e cabeleireira. Juntas, elas formam uma equipe de 11 pessoas, sendo sete delas mães, o que evidencia a força e a união que permeiam a história dessa família empreendedora.

Trabalhar lado a lado com as filhas é uma experiência especial para a mãe, onde juntas compartilham aprendizados e atualizações profissionais. No salão de beleza familiar, a rotatividade de clientes entre elas é natural, embora alguns sejam fiéis por mais de três décadas, e mudam ocasionalmente entre as cadeiras dos diferentes profissionais.
“Ser rodeadas por filhas e mulheres de visão… Dar uma profissão para todas para que nunca dependessem de homem, e delas vieram seis netos homens e duas mulheres. Trabalhar com elas é muito especial para mim, pois somos muitos presentes na vida de uma das outras, aprendemos juntas e fazemos cursos de atualização juntas”, comenta.
Ela descreve a convivência no salão como delicada e intensa, com as mulheres presentes na vida umas das outras em todos os momentos. A união familiar é essencial, e a presença constante é um presente que a matriarca valoriza, pois cuidam umas das outras e dos clientes com carinho e atenção.
De acordo com a filha, Sammya Araújo, o salão, que era inicialmente um sonho da mãe, se tornou realidade à medida que a família crescia e o espaço se transformava para acomodar a todos. Com funcionários que se tornaram parte da família ao longo dos anos, o ambiente acolhedor e familiar é desafiador, porém gratificante, com resultados que compensam todo o esforço investido.
A filha descreve o salão como não apenas um local de trabalho, mas um símbolo tangível da união e comprometimento dessa família empreendedora.
“Então, eu acho que para a mãe é um presente, isso de poder compartilhar todos os dias junto com a família”, diz a filha.
Orgulho das filhas
Sammya, destaca um aspecto interessante da vida da mãe. A matriarca foi professora de cabeleireiro na antiga Fundação do Bem Estar Social do Acre (Fumbesa), onde conheceu inúmeras mães solteiras que lutavam para se capacitar e sustentar as famílias.

“Eu acho uma das fases mais bonitas, foi ela ter ensinado muitos cabeleireiros de bairro. Ela dava aula no Mocinha [ Magalhães ], dava aula na Fumbesa, na Estação vão lembrar dela, porque o governo dava curso profissionalizante”, explica.
Com generosidade, Fátima doava equipamentos de salão de beleza para aquelas que demonstravam grande vontade de progredir. A experiência como professora foi fundamental para a família, pois capacitou as filhas para trabalhar no salão, dando-lhes independência financeira.
A história de Sammya, mãe de Gerlan, cujo pai faleceu quando ela estava grávida, ressalta a importância da independência e profissionalização ensinada pela mãe. Luanna, outra filha de Fátima, criou o filho Lucas sozinha após se separar. O compromisso de Fátima em capacitar as filhas para que não dependessem de ninguém foi fundamental para o sucesso e união dessa família empreendedora.
Legado
No salão de beleza de Fátima, a história se desenrola de forma única e inspiradora. Com uma clientela fiel e uma equipe dedicada, a trajetória desse estabelecimento é marcada não apenas pela excelência em serviços, mas também pela generosidade e capacitação de profissionais.
Como professora de cabeleireiro na antiga Fundação do Bem Estar Social do Acre (Fumbesa), ela impactou a vida de inúmeros alunos, especialmente mães solteiras em busca de autonomia financeira. O compromisso em capacitar essas mulheres foi além das aulas, muitas vezes oferecia até mesmo equipamentos e oportunidades de emprego para aqueles que demonstravam determinação em progredir.
De acordo com a filha, Sammya Araújo, a história do salão é permeada por casos como a da Graça, uma manicure que há 27 anos frequentou o curso de cabeleireiro ministrado por Fátima. Mesmo sendo aconselhada a seguir outra carreira, Graça persistiu e se tornou uma presença constante no salão, não apenas como profissional, mas também como mãe. Esse exemplo de superação e dedicação é apenas um dos muitos que enriquecem a trajetória do local.
“Até hoje ela tem pessoas que ensinou no curso, como a Graça, pois ela foi fazer o curso de cabeleireiro , e a minha mãe disse que ela não tinha jeito para cabeleireiro, e ela disse que ia fazer esse de manicure, então ela está no salão há 27 anos, e é mãe também”, comenta a filha.
Ela explica que o salão se destaca pela abordagem inclusiva e acolhedora. A maioria dos funcionários entra sem experiência profissional, mas com uma vontade genuína de aprender e trabalhar. A profissionalização é um processo contínuo, liderada por Fátima, os colaboradores, como a talentosa manicure que se tornou uma referência no salão.

“Aqui no salão, a maioria das pessoas não entram profissionalizadas, elas entram cruas mesmo. A única coisa que elas têm é vontade, tem que ter vontade de trabalhar, porque essa parte de profissionalizar funcionários sempre ficou para minha mãe e para essa manicure, que foi a aluna da minha mãe”, fala.
No salão de Fátima, a jornada profissional se entrelaça com histórias de superação, generosidade e dedicação. Cada cliente que entra pelas portas deste estabelecimento se depara não apenas com serviços de alta qualidade, mas com uma atmosfera de acolhimento e comprometimento que reflete o legado de uma mãe forte e empreendedora.
Produção: Gisele Almeida