E chegamos à Quaresma. Tempo de meditar, pensar, jejuar e preparar o corpo e o espírito para a Páscoa da ressurreição.
Muitos evangélicos colocam a quaresma em segundo plano e relativizam sua importância achando que trata-se de um período eminentemente católico.
Mas não é beeeem isso.
Quaresma é um período cristão. Não é um período para sermos piedosos. Devemos ser piedosos todos os dias. O que nos molda como cristão não é se abster de peixe na sexta-feira. E isso faz uma grande diferença.
Segundo John D. Witvliet, nós que somos chamados a “julgar todas as coisas” (1 Ts 5.21), a “discernir as coisas excelentes” (Fp 1.10), devemos também ter em mente que Quaresma tem mais a ver com Cristo que com Carnaval.
Em texto publicado no Media, Witvliet lembra que no ano 313, o imperador romano Constantino converteu-se ao cristianismo e tornou legal (ou mesmo preferível) que os cidadãos romanos se tornassem cristãos.
“De repente, a Igreja tinha muitos Batismos de adultos para celebrar! Mas isto criou um desafio: como a Igreja poderia se assegurar de que as pessoas que queriam ser batizadas estavam levando Jesus a sério? E o que ela precisava fazer para moldar estas novas vidas cristãs? O Batismo, sozinho, não era o suficiente. Era preciso mais para formar esses novos cristãos como discípulos de Jesus”.
Li esse texto e o cito porque uma parte dele me quebrou no meio. Em 313, portanto ainda na igreja primitiva, muito antes da reforma, dos movimentos pentecostais e neopentecostais, a igreja já tinha uma preocupação tão 2022, ao menos para alguns: até que ponto estamos levando Jesus a sério?
E do que adianta levar Jesus “a sério com jejum de palavrão, trocar carne vermelha por carne branca”, se depois de se empanturrar de chocolate no domingo pascal seguimos nossa “vida louca” até o próximo Carnaval?
Quaresma deve ser “um tempo para cristãos novos e veteranos vivenciarem (“exercitarem”) os passos básicos da vida cristã: negar-se a si mesmo, voltar-se para Jesus, despir-se da fofoca e do rancor e vestir-se de paciência e compaixão. Assim como os atletas precisam ensaiar jogadas básicas e os músicos precisam treinar escalas, também os cristãos precisam exercitar a auto-negação e a auto-doação em amor”.
E em tempos onde Jesus é o centro do abuso do uso para conquistas eleitorais, se abster de gente que faz disso profissão é um bom exercício para os dias que precedem o memorial da morte e ressurreição do filho de Deus.
E se puder se abster até outubro, melhor ainda. Porque Jesus não foi cabo eleitoral nem dele mesmo, imagine dessa gente que transformam sua Casa em feira eleitoral do quem dá mais.
Vou parar porque esse assunto me enerva.
Que possamos olhar para Cristo, autor e consumador da nossa fé, como centro e não como meio, na certeza que não há nada mais importante, seja no final, no meio ou no começo do ano, tão importante para a nossa identidade quanto a morte e ressurreição de Jesus.
Boa Quaresma para todos!