Querida Antonieta,
Faz um tempo que você partiu para outro plano, mas a saudade e a admiração pela sua luta em prol da educação permanecem vivas em meu coração. Sinto que preciso compartilhar contigo algo que me aflige, na esperança de que minhas palavras, de alguma forma, cheguem até você.
Sabe, Antonieta, andei refletindo sobre o valor de um professor de história, especialmente no contexto da nossa querida Universidade Federal do Acre. Recentemente, fui pego de surpresa com a notícia de que fui impedido de participar de uma ação institucional do curso, simplesmente por não ter um vínculo formal com uma instituição de ensino superior.
Acredita, Antonieta, que essa notícia me deixou bem chateado! Me lembrei de tantas conversas que tive com os alunos da universidade, sobre a importância do diálogo entre o conhecimento acadêmico e os saberes populares, aqueles que vêm da experiência e da tradição. E aí me pergunto: de que adianta eu ser Mestre em Letras, ter um título tão valorizado pela academia, se meus conhecimentos são desprezados por eu ser um professor da Educação Básica?
Sinto, Antonieta, que a universidade, nesse caso, está se distanciando da sociedade. Afinal, é na Educação Básica que as licenciaturas atuam, é ali que falamos da importância do chão da escola e do contato direto com os alunos. Será que a Educação Básica se tornou apenas um objeto de estudo para o Curso de História, nada além disso?
E a situação se agrava ainda mais quando penso nos movimentos sociais. Será que o saber de um indígena mais velho, que aprendeu com a vida e a experiência, será invalidado simplesmente por ele não ter um diploma universitário? É revoltante, Antonieta!
E o que me deixa ainda mais indignado é perceber que o tratamento não é igual para todos. Tenho certeza de que o curso jamais vetaria a participação de um historiador aposentado de renome, mesmo que ele não tenha mais vínculo institucional. Afinal, ele já construiu um nome, já é consagrado.
Ah, Antonieta, espero que um dia os historiadores sejam valorizados pelo lugar que os formou. Que não sejamos apenas uma vitrine, acionada quando o Ministério da Educação aparece para elogiar nossas experiências profissionais… ou quando precisam de nós para alguma coisa, mas nos vetam quando não convém.
Espero que você esteja bem, onde quer que esteja.
Com carinho,
Um Professor de História da Educação Básica.
Jardel Silva França – Mestre em Letras: Linguagem e Identidade pela Universidade Federal do Acre (PPGLI/Ufac). Licenciado em História (Ufac). Professor de História da Educação Básica do Estado do Acre. Membro do Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas da Universidade Federal do Acre (Neabi/Ufac).