Para os jovens negros que estão lendo esta coluna, direi que a vida como universitário não é fácil. As cobranças que estamos sempre a receber, os olhares interrogadores sobre a nossa presença nesse ambiente nos afligem e atravessam nossos corpos. Esses olhares não são apenas de curiosidade; carregam questionamentos sutis, singelos e, muitas vezes, duros, como: “Será que ele ou ela merecia estar aqui? Ah, com certeza esse não tem mérito de estar aqui. Será que ele não entrou por cotas?”
Ao entrarmos na faculdade, esse lugar nos traz muitos desafios, ainda mais se você vem de escola pública, que não tem um professor para literatura, um para gramática e outro para língua portuguesa, até mesmo outro somente para redação. Isso parece uma realidade muito distante.
Apesar de todos esses obstáculos, nossa presença na universidade é, em si, uma conquista poderosa. Cada um de nós traz uma história rica, repleta de superação, e estamos abrindo portas não apenas para nós mesmos, mas para as futuras gerações que também merecem sonhar com esse espaço.
Estar na universidade não é apenas adquirir conhecimento; é também se tornar um símbolo de resistência e transformação. E, ao contrário do que muitos pensam, não estamos sozinhos. Existem professores aliados, amigos que nos incentivam e coletivos que acolhem nossas vozes e fazem ecoar nossas lutas. Esses espaços de apoio e troca nos lembram que não somos estranhos aqui; estamos apenas ampliando as fronteiras das possibilidades.
Lembro-me bem de quando pisei na universidade pela primeira vez, cheio de sonhos e medos na mesma proporção. O peso de representar minha família e a mim mesmo parecia estar sobre meus ombros. Houve momentos em que me senti pequeno diante das cobranças e das expectativas. Mas, com o tempo, percebi que esses desafios eram também uma forma de descobrir minha própria força.
Em meio a tudo isso, encontrei pessoas que se tornaram essenciais para minha trajetória: professores que ofereciam palavras de incentivo quando eu mais precisava, e amigos que, assim como eu, tinham vindo de longe, com histórias de luta semelhantes a minha. Tais encontros tornam a universidade um espaço menos solitário, mostrando que, mesmo com as dificuldades, eu tinha ali um lar.
Com o passar do tempo, os questionamentos dos outros foram dando lugar a uma certeza dentro de mim: eu mereço estar aqui. Cada conquista, por menor que fosse, me lembrava disso. Cada trabalho entregue, cada prova realizada, cada novo aprendizado, tudo era uma resposta àqueles olhares que duvidavam de mim. Hoje, tenho orgulho de estar onde estou e de saber que minha presença não é em vão.
Para finalizar este meu singelo primeiro texto para a coluna, encerro com uma citação de Bell Hooks que escreveu: “A educação como prática da liberdade é uma forma de nos libertarmos de estruturas opressoras.” Saber que estamos ocupando espaços que nossos antepassados sonharam é uma força que nos impulsiona. Estar na universidade vai além da individualidade; é um ato coletivo, e nossa presença aqui é prova de que não apenas merecemos, mas estamos prontos para transformar e enriquecer esses espaços.
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HOOKS, Bell. Ensinando a Transgredir: A Educação como Prática da Liberdade. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2017.
Paulo Silvestre Machado Junior – Graduando do curso de História na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Bolsista do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid/UEM), com área de atuação no Colégio de Aplicação Pedagógica da Universidade Estadual de Maringá (CAP/UEM).