Em 2024, a Mostra Viver Ciência chega à 10ª edição, consolidando-se pelo papel fundamental na popularização do conhecimento científico entre estudantes e educadores acreanos.
Realizado pelo governo do Acre, por meio da Secretaria de Estado de Educação e Cultura (SEE), o evento promove um espaço onde é possível compartilhar saberes e estimular a criatividade dos jovens da região.
A mostra deste ano está marcada para os dias 21 e 22 de novembro no Colégio Armando Nogueira, em Rio Branco, e vai reunir 162 trabalhos de alunos das redes estadual, federal e privada. Com o tema Tecnologias e Saberes Tradicionais para uma Amazônia Sustentável, vai contar também com a participação de estudantes do Amazonas e de Rondônia.
Como tudo começou
A história da Viver Ciência começou em 2015 com o tema Luz, Ciência e Vida. A edição foi inspirada pela 66ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em Rio Branco no ano anterior.
“Após a SBPC, sentimos a necessidade de criar algo grandioso, que pudesse continuar estimulando a ciência entre os jovens acreanos. Foi então que começamos a planejar a primeira edição da Viver Ciência”, relata Anne Ruela, uma das idealizadoras do projeto e que hoje é coordenadora-geral da mostra.
Já nos primeiros anos, a mostra foi se consolidando como um evento anual de grande destaque no estado, expandindo-se para além da capital acreana. Em 2017, por exemplo, o evento começou a incluir o Ciência Itinerante, com ações que antecediam a mostra principal e levavam oficinas, exposições e atividades científicas a escolas de outras regiões do Acre.
Em 2018, além da edição de Rio Branco, que teve a participação de 130 escolas, 308 projetos e parcerias internacionais, recebendo caravanas de alunos do Peru e da Bolívia, o tema Amazônia Viva contou com um evento secundário em Cruzeiro do Sul, segunda maior cidade do estado, com uma programação de 25 projetos, oficinas e atividades interativas.
A edição de 2019 foi realizada no Parque de Exposições de Rio Branco e consolidou o evento como uma plataforma robusta para a ciência no estado, com a participação de mais de 30 mil pessoas. Anne relembra que foi uma das edições mais desafiadoras: “Produzir o evento no Parque de Exposições exigiu um grande esforço logístico, mas garantiu um impacto ainda maior na comunidade”.
Adaptação ao virtual
Com a pandemia de covid-19, as edições de 2020 e 2021 precisaram ser adaptadas ao ambiente virtual. No primeiro ano da pandemia, o tema abordado foi Inteligência Artificial: Preservação e Desenvolvimento da Amazônia e a mostra se transformou em uma gincana online, com desafios e atividades interativas.
“Foi uma gincana virtual grandiosa, que desafiou nossa equipe a encontrar novas formas de engajar os estudantes, mesmo a distância”, explica Anne Ruela. Em 2021, sob o tema A Ciência a Serviço da Vida, o evento virtual foi estruturado como uma série de atividades interativas realizadas via redes sociais e plataformas digitais.
Retorno ao presencial
Em 2022, a mostra retornou ao formato presencial, revitalizando o entusiasmo dos participantes com atividades interativas, oficinas e apresentações culturais e, em 2023, a 9ª edição trouxe o tema Inovação, Tecnologia e Sustentabilidade para o Futuro, reunindo 70 escolas que apresentaram 340 projetos científicos no Instituto de Educação Lourenço Filho, na capital.
Foi nessa edição que a estudante Ariel Cristine Souza, da Escola Estadual José Rodrigues Leite, teve a primeira experiência apresentando o projeto de astronomia Olhar de Galileu. “Foi emocionante, porque a gente teve contato e divulgou informações de que muitas pessoas têm carência. Na noite do primeiro dia, por exemplo, ensinamos as pessoas a usar o telescópio, e foi e primeira vez que vi Júpiter”, conta.
O professor que instruiu Ariel, James Barbosa, participou de todas as edições da Viver Ciência, com diversos projetos ao longo dos anos, tendo como destaque o de astronomia, que contou com apresentações em 2002 e 2023, e o Khan Academy, de matemática, que envolveu grande número de crianças e adolescentes do Instituto São José e escolas Boa União e José Rodrigues Leite.
“Tenho muito orgulho de falar que, de cada dez alunos que participaram comigo nos projetos, dez hoje cursam ou concluíram a universidade. São profissionais que foram colocados no mercado de trabalho, que ‘pegaram’ a paixão nas áreas de matemática, astronomia, ciências e tecnologia; e o ponto de partida foi a Viver Ciência”, celebra.
História de quem vive a ciência
A professora de química Abigail Santana começou a trajetória na Viver Ciência em 2018, como aluna, apresentando trabalhos do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação da Docência (Pibid) da Univeridade Federal do Acre (Ufac), e em 2019 foi voluntária da edição realizada no Parque de Exposições. “Participar da Viver Ciência me fez querer continuar minha licenciatura e de fato ser professora”, ratifica.
Hoje Abigail continua participando da Viver Ciência, agora como professora orientadora de diversos projetos da Escola Estadual Dr. João Batista Aguiar, entre eles a produção de bioplástico. O processo, feito a partir do amido da mandioca, com adição de glicerina, hidróxido de sódio e solução e ácido clorídrico em solução, forma um material biodegradável que pode ser utilizado como alternativa ao plástico derivado do petróleo.
A estudante Jennifer Mendes, que participa do projeto, relata que a intenção é introduzir ideias sustentáveis e uso de materiais biodegradáveis no meio da comunidade escolar. “Como o plástico convencional polui muito o meio ambiente, temos que começar a pensar em materiais que poluam menos”, explica.
Para Abigail, a mostra ajudou a consolidar o projeto de vida como profissional: “Participar da Viver Ciência como professor é recompensador. Os alunos se sentem protagonistas e divulgadores da ciência. Eles podem mostrar que as ideias e projetos são importantes e que a ciência está ao alcance de todos”.