Por: Luciney Araújo Leitão
A Umbanda é uma religião brasileira que mistura elementos de várias tradições religiosas, incluindo o catolicismo, o espiritismo kardecista, o candomblé e as religiões indígenas e africanas. Surgida no início do século XX, em 15 de novembro 1908 na cidade do Rio de Janeiro, quando o médium Zélio Fernandino de Moraes, deu passagem ao Caboclo das Sete Encruzilhadas, que declarou a criação de uma nova religião tipicamente brasileira, oriundo das camadas populares e local de acolhimento e de trabalho para as entidades que, até então, não eram aceitas ou consideradas nos cultos espíritas.
Como religião, traz em sua essência a paz e a caridade, baseada em fundamentos e mistérios, códigos e principalmente culto as ancestralidades, que trazem uma mistura sincrética com santos católicos, povos indígenas, povos ciganos, povo da rua, criança, marinheiros dentre outros que compõe suas diversas falanges.
A origem a legitimação da Umbanda é frequentemente discutida tanto na literatura de umbandistas como naqueles escritos acadêmicos, de um lado, o povo religioso apresenta as tradições orais, marco central da continuidade da fé religiosa, associando-a a características determinadas que buscam um legitimidade religiosa, por outro lado, uma tendência mais comum entre antropólogos e sociólogos, com descrições dos vetores socioculturais numa espécie de período de gestação para que, em determinado momento, que varia de uma versão para outra, em que houvesse uma constituição do nascimento da umbanda propriamente dita, ou seja, quando ela adquiriu o status sociológico de religião. Nesse aspecto, podemos identificar determinados consensos que circulam entre ambas as categorias na literatura umbandista que narram seu surgimento e sua expansão pelo território brasileiro.
A História da Umbanda suscita diferentes interpretações sobre a data de sua fundação, além de seus diversos sincretismos que absorvem o universo religioso brasileiro. Suas raízes africanas ou brasileiras, seus ritos e rituais, estão próximos das práticas derivadas de outras religiões de matriz africana e das pajelanças indígenas.
Para alguns teóricos, a origem da Umbanda remonta aos primeiros contatos culturais/religiosos em solo brasileiro entre brancos europeus e indígenas, e, em seguida, negros africanos1. Como descrito na tradição Bate-Folha do Candomblé de Angola, nessa tradição religiosa, narra-se que na chegada dos primeiros Povos Bantus em terras Brasileiras, saudou-se primeiro quem o povo da terra, o que demonstra que o sincretismo entre o Afro e o Indígena está presente na construção desse continuum religioso bem antes de 1908, essa constituição, é diferente daquilo que é narrado na literatura especializada de mito de origem, ou de fundação, da umbanda2.
Nesse sentido, Careli3 cita que a participação dos descendentes dos escravidos africanos foi fundamental para desenvolvimento da Umbanda como religião. Descrevendo que no período escravista pela perseguição seus senhores, que exigiam que eles praticassem a religião católica, as religiões de matriz-africana foram associando os Orixás aos santos católicos, de acordo com suas características de personalidade e histórias de vida, dando origem ao sincretismo religioso presente até os dias atuais.
A Umbanda é uma religião que prega o respeito pela natureza, pois trazem das folhas o poder para cura de determinados males. Em sua fé religiosa a Umbanda, considera-se que fora da caridade não há salvação, e aquele praticante que não estuda e nem se dedica ao labor mediúnico caritativo, não poderá ser chamado de umbandista, mas simplesmente de simpatizante4
Na atualidade, o estigma religioso, o preconceito e a intolerância religiosa, aliados à falta de conhecimento sobre as religiões, não é exclusividade da Umbanda e de outras religiões Afro-brasileiras. Estigma esse que persiste desde a época de Zélio de Moraes, e cabe a quem cultua a fé umbandista, a desconstrução de todo senso-comum negativo que carrega a religião.
Saravá Umbanda!
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[1] ROHDE, Bruno Faria. A umbanda tem fundamento, e é preciso preparar: abertura e movimento no universo umbandista. 2013.
[2] BROWN, Diana. Uma história da umbanda no Rio, In. Umbanda e política. Rio de Janeiro: Marco Zero, 1985. (Cadernos do ISER, 18)
[3] CARELI, Marcia Regina Padrini. A história da umbanda: ritos e rituais. 2021.
[4] RIVAS NETO, Francisco. Fundamentos herméticos de umbanda. São Paulo: Ícone, 1996.
Luciney Araújo Leitão – Ney. É Professor de Sociologia EBTT no – CAp/UFAC, Membro Núcleo de Estudos Afro-brasileiro e Indígena (Neabi/Ufac), pesquisador membro do Observatório da Associação Brasileira de Ciências Sociais (On-Abecs) e Pesquisador vinculado ao Laboratório de Estudos em Populações Negligenciadas da Amazônia – LEPONA da Centro Universitário São Lucas Educacional em Porto Velho/RO,