O dia 29 de janeiro marca a luta e a resistência da população trans e travesti no Brasil, reforçando os direitos conquistados e os desafios ainda enfrentados. No Acre, 2024 encerrou-se sem registros de assassinatos dessa população, segundo dados do Ministério Público, colocando o estado em uma posição positiva no ranking nacional de violência. No entanto, a ausência de homicídios não significa a eliminação das desigualdades que afetam diretamente a qualidade de vida dessas pessoas.
A marginalização social, a dificuldade de acesso a empregos formais e a barreira à educação são alguns dos entraves enfrentados. Para Rubby Rodrigues, assessora técnica do Observatório de Violência de Gênero do Ministério Público do Acre, a raiz do problema está no preconceito estrutural:
“Nossa sociedade aprendeu a ser preconceituosa, aprendeu a discriminar. Isso tudo é educação que precisa ser mudada. Dentro da sigla LGBT, as pessoas trans enfrentam limitações ainda maiores. É fácil se profissionalizar, mas conseguir uma vaga em qualquer empresa ou ambiente de trabalho ainda é um desafio quando seu corpo não corresponde ao que a sociedade dita como normal.”, enfatiza.
Em resposta a esses desafios, o Ministério Público do Acre desenvolve ações voltadas para a inclusão e conscientização. Em 2024, o Janeiro Transformador trouxe iniciativas para promover a visibilidade e os direitos da população trans. Já em 2025, será lançada a segunda edição da cartilha informativa sobre a mudança de nome e gênero para travestis e transexuais.
Para além da empregabilidade, a educação superior ainda representa um obstáculo. Kalil Jucá, representante do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (IBRAT-AC), destaca a necessidade de políticas afirmativas para garantir inclusão real:
“As cotas trans são uma iniciativa importante, mas o preconceito ainda impede a permanência e a ascensão dessas pessoas no mercado de trabalho. Muitas vezes, as empresas aderem às cotas sem se prepararem para criar um ambiente seguro e respeitoso. Não basta contratar, é preciso garantir condições dignas para o exercício profissional.”, diz.
A Universidade Federal do Acre (Ufac) ainda não implementou cotas específicas para pessoas trans e travestis. No entanto, histórias como a de Dhalia Pagu, primeira travesti formada em Psicologia pela instituição, demonstram a importância da representatividade e da luta por equidade:
“Foi um percurso solitário. Não havia identificação, nem garantia de que eu teria um espaço no mercado de trabalho. Consegui abrir portas, mas é preocupante pensar que, em dez anos de curso, eu fui a primeira. Não deveria ser assim. Precisamos lutar por políticas públicas que garantam a inclusão de pessoas trans e travestis na universidade e no mercado de trabalho.”, afirma.
A visibilidade trans vai além de uma data no calendário. Trata-se de uma luta contínua por direitos, dignidade e reconhecimento. A mudança só será efetiva quando a sociedade, as instituições e o mercado de trabalho se comprometerem a garantir oportunidades reais e um ambiente livre de discriminação para todas as pessoas, independentemente da identidade de gênero.
Com informações do repórter Marilson Maia para a TV Gazeta.