A delegada Carla Fabíola, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima (Decav), detalhou o trabalho desenvolvido pela unidade em Rio Branco e reforçou a importância das denúncias para combater crimes de violência e abuso infantil, na edição desta quinta-feira (6) do Gazeta Entrevista.
Segundo a delegada, os casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes ainda são, em grande parte, cometidos por pessoas do convívio próximo da vítima, como pais, padrastos, tios e vizinhos. “A criança nem sabe o que está acontecendo, muitas vezes ela chega na delegacia contando como se fosse uma brincadeira”, explica. Por isso, ela destaca a necessidade de atenção dos pais e responsáveis, além do papel essencial de professores e escolas na identificação de sinais de abuso.
Durante a entrevista, Carla Fabíola esclareceu que a contagem do prazo de prescrição para crimes de abuso sexual infantil só começa quando a vítima completa 18 anos. “Ela tem mais 20 anos pela frente para denunciar. Não é porque passou muito tempo que não vai ser punido”, afirmou.
A delegada também destacou a estrutura diferenciada da Decav, que conta com psicólogos e assistentes sociais para o atendimento de crianças e adolescentes. “Elas não são atendidas diretamente por policiais, e sim por uma equipe técnica preparada, para que se sintam mais acolhidas e à vontade para detalhar os fatos”, explicou.
Além disso, destacou a necessidade de um fortalecimento contínuo da rede de proteção à infância. “Já melhorou bastante, com o Ministério Público e a Defensoria Pública, mas todos nós precisamos nos juntar mais para proteger as crianças e adolescentes”, declarou.
Crimes cibernéticos e o papel dos pais
Outro ponto abordado foi o aumento dos crimes cibernéticos contra menores, incluindo assédio e chantagem. “Temos muitos casos de criminosos que fingem ser adolescentes e começam a pedir fotos íntimas, ameaçar. Muitas vezes, a pessoa está em outro estado”, explicou a delegada, reforçando que a identificação dos autores pode demorar, mas ocorre.
Ela alertou sobre a necessidade de supervisão parental no uso da internet. “Os pais precisam prestar atenção no que os filhos fazem no celular. Às vezes, eles estão conversando com um criminoso e ninguém percebe”, afirmou.
A delegada enfatizou que crimes como estupro de vulnerável têm penas severas, que podem chegar a 30 anos em casos que resultem na morte da vítima. “Mesmo em situações de toques inapropriados, já tivemos condenações de 9 a 10 anos de prisão em regime fechado”, disse.
Sobre a exposição pública dos criminosos, ela explicou que a divulgação de identidades pode prejudicar ainda mais as vítimas. “Ao expor o autor, automaticamente expomos a criança, que pode ser estigmatizada. Por isso, temos muito cuidado”, ressaltou.
Por fim, reforçou a necessidade de diálogo entre pais e filhos para prevenir abusos. “As crianças precisam saber que podem confiar nos pais, contar tudo. Qualquer situação estranha, qualquer toque inadequado, precisa ser relatado imediatamente”, concluiu. Ela reforçou a importância do Disque 100 para denúncias anônimas e do 190 para casos de flagrante.