Você já sentiu como se sua mente estivesse correndo, mesmo quando seu corpo está parado? Como se houvesse um turbilhão dentro de você que ninguém vê? Isso pode ser a ansiedade. E não só você sente isso. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil é o país com a maior taxa de pessoas ansiosas no mundo: cerca de 9,3% da população sofre de transtorno de ansiedade. Esse número representa mais de 19 milhões de brasileiros. A ansiedade é uma das principais causas de afastamento do trabalho e de procura por atendimento psicológico.
Ansiedade é um estado de alerta do corpo. É como se algo dentro de você estivesse dizendo: “algo pode dar errado”. Em doses pequenas, ela até ajuda: nos prepara para uma prova, nos deixa atentos em uma entrevista. Mas quando passa do limite, começa a atrapalhar.
Ela se manifesta de várias formas: Coração acelerado, pensamentos repetitivos, medo sem motivo claro, sensação de sufocamento, problemas relacionados ao sono, dificuldade de concentração, etc
Por que a ansiedade aparece?
A ansiedade costuma ser um reflexo da nossa tentativa de controlar o que não pode ser controlado: o futuro. Muitas vezes, ela está ligada a experiências do passado que nos ensinaram a temer o que vem pela frente. Carl Gustav Jung, psicólogo suíço, dizia que “aquilo que não enfrentamos em nosso interior, acabamos encontrando como destino”. Ou seja, a ansiedade pode ser um convite à escuta profunda de si mesmo. Ela carrega uma mensagem. Ignorar não resolve. Escutar pode transformar.
Como lidar com a ansiedade?
Vamos a alguns exemplos reais, com idade e nomes fictícios :
Marina, 28 anos, começou a sentir falta de ar e dores no peito toda vez que recebia mensagens do chefe fora do horário de trabalho. Após algumas sessões de psicoterapia, percebeu que sua ansiedade estava relacionada ao medo de ser vista como insuficiente. Com técnicas de respiração e organização de limites, conseguiu reduzir os sintomas.
João, 17 anos, parou de ir ao colégio por medo de falar na frente da turma. Durante a terapia, ele descobriu que desde pequeno se sentia julgado por erros. Com práticas de exposição gradual e fortalecimento da autoestima, voltou às aulas e até apresentou um trabalho.
Carlos, 45 anos, vivia preocupado com a saúde da família, mesmo sem motivos reais. A ansiedade fazia com que ele acordasse várias vezes à noite. No acompanhamento psicológico, aprendeu a diferenciar preocupações reais de catastróficas e passou a dormir melhor.
Esses exemplos mostram que a ansiedade tem rostos, histórias e soluções possíveis.
Depoimentos que inspiram
“Achei que estava ficando louca, até entender que era ansiedade. Quando comecei a me escutar de verdade, tudo mudou.” — Paciente anônima, 32 anos
“Eu achava que ansiedade era frescura. Hoje, depois de entender meu corpo e minhas emoções, tenho mais compaixão por mim mesmo.” — Paciente anônimo, 41 anos
“Falar sobre ansiedade me fez perceber que eu não era fraco, só estava tentando ser forte por tempo demais.” — Paciente anônimo, 19 anos
Respire e esteja presente
Técnicas de respiração e mindfulness ajudam a desacelerar a mente e voltar ao agora. Mindfulness é uma prática de atenção plena, que consiste em estar consciente e presente no momento atual, de forma intencional e sem julgamentos. Em vez de se perder em pensamentos sobre o passado ou o futuro, o praticante de mindfulness se concentra no aqui e agora — nas sensações, emoções, pensamentos e ambiente ao redor.
Nomeie o que sente
Dê nome à emoção. Dizer “estou ansioso” já é um primeiro passo para acolher.
Cuide do seu corpo
Sono, alimentação e exercícios físicos impactam diretamente na regulação emocional.
Escreva o que sente
Colocar no papel ajuda a tirar da mente o excesso de pensamentos.
Diminua o excesso de estímulos
Luz de telas, excesso de informações e pressa alimentam a ansiedade.
Procure apoio psicológico
Falar com alguém preparado para escutar sem julgar faz diferença.
Tipos mais comuns de ansiedade
Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
A pessoa sente preocupação excessiva quase todos os dias, por vários motivos. É uma ansiedade constante, mesmo sem ameaça clara.
Transtorno de Pânico
Crises súbitas de medo intenso, com sintomas físicos como falta de ar, palpitação e tontura.
Fobias específicas
Medos intensos de coisas específicas, como altura, insetos ou espaços fechados.
Fobia Social
Medo de ser julgado ou rejeitado em situações sociais, como falar em público ou conhecer pessoas novas.
Ansiedade de Separação
Medo exagerado de ficar longe de figuras importantes, como pais, filhos ou parceiros.
Mutismo Seletivo
Principalmente em crianças: conseguem falar em casa, mas não em ambientes como a escola.
Ansiedade Induzida por substância ou condição médica
Surge como efeito de medicamentos, uso de substâncias ou algumas doenças físicas.
Tarefas terapêuticas para aliviar a ansiedade
- Diário da Ansiedade
Reserve 10 minutos por dia para escrever como você se sente, o que está pensando e o que seu corpo está dizendo. Isso ajuda a externalizar e organizar.
- Respiração 4-4-6
Inspire por 4 segundos, segure por 4 segundos e expire por 6. Repita por 3 minutos sempre que sentir que a ansiedade está chegando.
- Cartão de Realidade
Escreva em um papel frases realistas que te tragam ao presente, como: “Eu estou seguro agora”, “Nem tudo o que penso é verdade”. Leve consigo para consultar quando precisar.
- Caminhada consciente
Durante uma caminhada, preste atenção apenas ao que está sentindo no corpo, nos pés, no ar. Isso ajuda a ancorar sua mente no agora.
- Prática da gratidão
Antes de dormir, escreva 3 coisas pelas quais você foi grato no dia. Isso muda o foco da mente da ameaça para a esperança.
A ansiedade não precisa ser um castigo. Ela pode ser um sinal de que algo em você está pedindo atenção, cuidado e escuta. Quando olhamos para ela com gentileza, descobrimos um caminho de reencontro com quem realmente somos. Procure um psicólogo que possa te ajudar a fazer esse caminho.
Buscar ajuda não é fraqueza, é coragem. É escolher caminhar com mais leveza, mesmo quando o mundo parece pesado. Se você se identificou com este texto, saiba: você merece se sentir bem, viver em paz e ser acolhido.
Por Francisco Souza – Psicólogo | CRP 24/02932