O episódio de racismo sofrido pelo jogador Erick Rodrigues da Silva, durante a partida entre Galvez e Santa Cruz, válida pelo Campeonato Acreano Sub-20, continua gerando repercussão dentro e fora dos gramados. Além dos relatos feitos pelo atleta e das providências anunciadas pelo Ministério Público do Estado do Acre (MPAC), a Federação de Futebol do Acre (FFAC) e o Galvez Esporte Clube protagonizaram uma troca de notas oficiais após o episódio.
Durante o jogo realizado na última terça-feira (17), no Estádio Florestão, Erick foi alvo de ofensas raciais por parte de dois jogadores adversários, segundo relato do clube e registro oficial da arbitragem. O árbitro da partida, Josué França de Castro, incluiu os insultos na súmula, reforçando a gravidade do ocorrido.
“Minha pele carrega história”
Em declaração emocionada, Erick falou sobre o impacto que os ataques tiveram em sua vida. “Queria dizer que fiquei muito ofendido no momento, mas tenho muito orgulho de ser negro, de ser preto mesmo. E o meu cheiro é de uma pessoa que trabalha todo dia para conquistar meu sonho, que é meu sonho desde novo, desde criança, desde moleque. E a minha pele carrega história, ninguém vai apagar isso”, desabafou o atleta.
O presidente do Galvez, em nome da diretoria, também se pronunciou de forma firme: “Atos como esse devem ser combatidos de maneira firme. Já estamos tomando todas as medidas cabíveis. Racismo é crime e deve ser combatido em todos os âmbitos”, destacou.
Ministério Público abre investigação
Diante da denúncia, o Ministério Público do Estado do Acre informou, por meio da Promotoria de Justiça Especializada de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, que instaurou um procedimento investigatório criminal para apurar o caso.
“O MPAC já expediu ofício à Polícia Civil solicitando informações e outras providências que possam contribuir para a apuração dos fatos. Se confirmado o crime de racismo, as medidas judiciais cabíveis serão adotadas”, informou o órgão.
Federação emite nota e Galvez reage com indignação
O posicionamento oficial da Federação de Futebol do Acre (FFAC), divulgado nesta quinta-feira (19), trouxe novo capítulo à situação. Na nota, a FFAC evitou se posicionar diretamente sobre o episódio registrado em súmula e destacou que a análise cabe ao Tribunal de Justiça Desportiva do Acre (TJD-AC).
“A Federação de Futebol do Acre reitera repúdio a todo ato ofensivo contra quem quer que seja, mas afirma que só um processo disciplinar justo e legal poderá aferir a veracidade dos fatos e punir os culpados, se houver”, disse o presidente da FFAC, Adem Araújo.
O tom da resposta desagradou à direção do Galvez, que, em nota, classificou o comunicado da Federação como “vago e evasivo”. O clube criticou a falta de menção direta ao caso de racismo e apontou omissão institucional.
“É no mínimo preocupante que, diante de um caso de racismo claramente relatado em súmula oficial, a Federação opte por um posicionamento vago, evitando qualquer menção direta ao ocorrido. Racismo não é interpretação. Racismo é fato. E crime. A omissão institucional, mesmo travestida de neutralidade, também é parte do problema”, afirmou o Galvez.
Enquanto a Federação e o Tribunal de Justiça Desportiva ainda não definiram prazos para análise disciplinar, o Galvez informou que vai registrar um Boletim de Ocorrência com base na súmula da arbitragem. A diretoria também reforçou que seguirá acompanhando o caso junto às autoridades policiais e ao Ministério Público.



