O nome Aurora, em latim, significa “o nascer do sol” — um novo começo. Para Bruna Laryssa Silva, de 29 anos, o nome também é sinônimo de força. Foi com a filha na barriga que ela encarou o curso de formação para a Polícia Penal do Acre. E foi com a recém-nascida em casa que ela concluiu a jornada. Entre provas, cansaço físico e os desafios de ser mãe, Bruna viveu uma história de luta, renúncia e esperança, e agora se forma policial penal com dois grandes orgulhos: a sua carreira e a maternidade.
Bruna foi uma das que formou na cerimônia que ocorreu nesta segunda-feira (7), na Maison Borges, em Rio Branco. Mas a vitória dela é coletiva. Ao longo do curso, seus colegas não só a apoiaram como também prestaram uma emocionante homenagem: reunidos, cantaram uma música feita especialmente para a bebê, ainda na barriga.
“Quase 9 meses! Estamos nos últimos dias, e estamos sempre empenhados em fazer o que é possível, as condições que a senhora se encontra, então eu, particularmente, me sinto representado pela senhora. Desde o primeiro dia, você sempre se empenhou, sempre esteve disposta a se entregar da forma que era possível. E, de fato, a senhora é um exemplo, e vai ser um exemplo do CFAPP 2025”, disse Leandro Santos, coordenador do curso após a homenagem.
Santos também reforçou que apesar dos desafios, ela mostrou um grande desempenho, alcançou a pontuação de 95 pontos em armamento de tiro. Além disso, como forma de auxiliar a conclusão, foi prestado todo apoio da coordenação, principalmente após o nascimento da pequena Aurora.
“Quero dizer que tenho muita admiração pela senhora e com certeza que os colegas também, pela canção que eu vi hoje. Parabéns a turma pelo reconhecimento que ela merece — um exemplo de dedicação e luta e, sempre com sorriso no rosto”, finalizou Santos.
“Foi tão bonito. Eu já estava muito cansada, emocionalmente abalada com o fim da gravidez. Aquilo me deu uma força enorme. Me fez seguir”, diz ela.

Uma história que começa muito antes
Bruna é mãe pela segunda vez. Aos 16 anos, teve seu primeiro filho, Pedro Guilherme, e enfrentou todas as dificuldades de estudar e trabalhar sendo mãe adolescente. Ela terminou o ensino médio, fez faculdade, e foi durante a pandemia que decidiu mirar nos concursos públicos. Estudou durante cinco anos, acumulou aprovações e se dedicou intensamente para a prova da Polícia Penal.
“Faz cinco anos que estudo pra concurso. Estudei durante a pandemia, trabalhando de dia e estudando à noite, muitas vezes com o fone no ouvido enquanto lavava roupa ou fazia comida”, conta.
A dedicação não era só nos livros. Bruna treinava fisicamente para o TAF (Teste de Aptidão Física) mesmo antes de saber se passaria na prova escrita. Ela lembra do apoio do marido, que saía do IFAC no intervalo das aulas para levá-la ao treino.
“Eu não queria repetir o que aconteceu no concurso dos Bombeiros, em que passei na prova e não compareci ao TAF por falta de preparo. Então, um ano antes, comecei a treinar. Corria 20 minutos todos os dias.”

A gravidez no meio do caminho
Depois da aprovação, veio o chamado para o curso de formação. Mas junto com a boa notícia, uma surpresa: a gravidez da segunda filha. Bruna já estava com sete meses de gestação quando começou a formação. Pensou em desistir. Temeu pelo esforço físico e mental que o curso exigia. Mas não recuou.
“Achei que nem ia ser chamada. Fui a última. Já tava grávida. Tive medo de não conseguir, mas meu esposo me apoiou muito e eu resolvi encarar.”
As aulas eram pesadas: manhã, tarde e noite. Saía de casa antes das 6h e voltava só à noite. Mesmo grávida, acompanhava todas as instruções. Nos momentos mais difíceis, quando o corpo cansava, era a filha quem a fazia resistir.

“A Aurora, mesmo na barriga, me dava força. Os chutinhos dela eram o que me mantinham firme.”
Aurora nasceu e, 15 dias depois, Bruna voltou ao curso. A rotina era puxada. De manhã, tirava leite e armazenava para o pai da bebê. No horário de almoço, ele levava a recém-nascida até o local do curso, onde Bruna a amamentava dentro do carro. À noite, voltava para casa e ficava com a filha o tempo que conseguia.
“O mais difícil foi depois que ela nasceu. Quando tava comigo, na barriga, eu sabia que tava tudo bem. Mas quando tive que deixá-la em casa, sentia a ausência. Me doía estar longe.”
Apesar das dificuldades, Bruna diz que teve total apoio dos colegas e instrutores. “Achei que sofreria preconceito, mas foi o contrário. Meus colegas carregavam minha mochila, perguntavam se eu precisava de água, me apoiaram o tempo todo.”

Duas vitórias, uma mulher
Hoje, Bruna celebra uma conquista dupla: a realização do sonho de ser policial penal e o nascimento da filha, que se tornou símbolo de superação e união entre a turma.

“Ela representa força. Me sustentou quando eu pensei em desistir. Eu segui por mim, mas principalmente por eles: pela Aurora, pelo Pedro Guilherme e por mim mesma.”
A cerimônia de formatura é só o começo. Ainda não há data para a posse, mas Bruna está pronta para assumir. Com a mesma coragem com que enfrentou a formação com um “buchão”, ela agora espera o momento de vestir a farda oficialmente — e, mais do que isso, seguir mostrando que sonhos não se anulam. Eles se acumulam.


Produção da reportagem: Gisele Almeida



