As investigações sobre a denúncia de estupro feita pela turista chilena Loreto Belen contra a liderança indígena Isaka Ruy, da Aldeia São Francisco, localizada no município de Feijó (AC), seguem em andamento. O caso, que envolve acusações de abuso sexual durante rituais da medicina tradicional do povo Huni Kuin, mobiliza autoridades locais.
Loreto relatou em depoimento à Polícia Civil que o crime aconteceu no dia 17 de junho, durante uma trilha a cerca de 20 minutos da aldeia, onde estaria sozinha com Isaka Ruy. Segundo ela, o líder espiritual aproveitou-se da situação e cometeu o estupro. A denúncia foi formalizada no dia 24 de junho, data em que a Justiça decretou a prisão do acusado.
Contudo, a defesa de Isaka anexou ao inquérito vídeos e fotos em que Loreto aparece participando de atividades na comunidade indígena após a data em que afirma ter sido violentada. Entre as imagens apresentadas, há um registro em que ela posa com as filhas do acusado no próprio dia 17, além de um vídeo com outro indígena no dia 18 e, posteriormente, imagens de uma cerimônia tradicional realizada no dia 19.
Para a advogada de defesa, Maria da Guia, há contradições na linha do tempo apresentada pela turista. “Houveram várias coisas depois do dia 16 de junho até 19 de junho. Foi dia 17, foi dia 16, foi dia 18, foi dia 19? Quando foi que aconteceu? Se houve uma sequência, por que continuou na aldeia, inclusive participando de festas?”, questiona.
A defesa sustenta que não houve crime sexual. Em relação a um episódio anterior, Loreto afirmou ter sido tocada por Isaka durante um banho medicinal. O indígena, por sua vez, alegou que houve consentimento. Segundo ele, o ritual exige contato físico para que o processo de purificação seja completo. “Inclusive esse banho foi autorizado a ser gravado. Nos causa estranheza: se foi permitido filmar, por que haveria estupro?”, argumentou a advogada.
Quanto ao estupro denunciado na trilha, Isaka nega e afirma que houve apenas um beijo, também consensual. Ele disse ainda que Loreto foi agredida pela esposa dele por ciúmes, o que teria motivado a denúncia, embora a defesa admita não saber o real motivo que levou a chilena a procurar a polícia.
Isaka Ruy se entregou à polícia na quarta-feira (10), mas obteve alvará de soltura horas depois. Ao lado de sua advogada, ele gravou um vídeo afirmando que sua imagem foi manchada e que agora luta para provar sua inocência. “Sou uma liderança que consagra a medicina há quase 20 anos. Tenho minha família, sou líder da minha comunidade. Tudo isso não contradiz com a minha realidade”, disse.
O delegado responsável pelo caso já ouviu mais de 15 testemunhas e deverá continuar as oitivas na próxima semana.
Com informações do repórter Adailson Oliveira para TV Gazeta



