Você deve ter visto, ou pelo menos ouvido falar, da mais nova polêmica entre Brasil e Estados Unidos: a abertura de uma investigação comercial sobre o Pix, liderada pelo governo Trump. E aí bate aquela dúvida: o que o Pix tem a ver com os EUA?
A investigação foi aberta pelo USTR, o Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos, que quer saber se o Pix, da forma como foi implementado no Brasil, estaria prejudicando empresas americanas do setor de pagamentos.
Segundo o argumento, o sistema brasileiro criaria uma espécie de barreira digital para a entrada dessas companhias no mercado, que hoje é amplamente dominado pelo Pix.
Mas antes de entrar no impacto político e econômico, vale lembrar o que é o Pix: lançado pelo Banco Central em 2020, ele virou rapidamente o principal meio de pagamento no país.
É gratuito, instantâneo, funciona 24 horas e já foi usado para movimentar mais de R$ 60 trilhões desde sua criação.
Hoje, quase metade de todas as transações no Brasil passam por ele. E não é só para transferências entre pessoas físicas: o uso por empresas também explodiu nos últimos dois anos.
Diante disso, não é difícil entender por que o sistema incomoda tanta gente, especialmente fora do Brasil. Para as empresas estrangeiras que operam com tarifas e intermediação financeira, o Pix representa uma ameaça direta ao modelo de negócio. É rápido, é estatal e, acima de tudo, é muito mais barato.
O incômodo se transforma em pressão, e a pressão agora se transforma em investigação. A lógica é clara: se o Pix deixasse de existir, o cenário voltaria a favorecer os antigos intermediários.
Cartões de crédito e débito retomariam o protagonismo, trazendo de volta as taxas por transação, as mensalidades de maquininhas e os custos embutidos para lojistas e consumidores. Isso significaria um retorno imediato da lucratividade para as grandes bandeiras internacionais, que hoje perdem espaço no Brasil.
Em outras palavras, o fim do Pix seria uma vitória comercial para as gigantes do setor e um retrocesso direto para a inclusão financeira no país.
Do ponto de vista diplomático, no entanto, a situação exige atenção. Assim como no caso das tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, esse movimento de Trump pode ser visto como uma tentativa de pressionar economicamente países emergentes.
A diferença agora é que estamos falando de tecnologia, soberania digital e autonomia sobre o próprio sistema financeiro. E isso pode mexer com muita gente.
No fim das contas, a tentativa de conter o Pix pode acabar gerando o efeito contrário: transformá-lo num símbolo de independência digital e reforçar seu papel como modelo de pagamento instantâneo.
Como se diz por aí, o tiro pode sair pela culatra. E a gente espera que isso aconteça mesmo.




