Por: Camila Holsbach
O filme Click, que pode ser assistido na Netflix e é estrelado por Adam Sandler, parece uma comédia leve, daquelas que ele costuma fazer e que garantem boas risadas — mesmo quando o longa não tem tanta graça assim – mas traz uma reflexão profunda sobre o tempo e nossas escolhas.
Michael Newman, o protagonista, ganha de Morty (Christopher Walken) um controle remoto mágico que permite pausar, adiantar ou voltar momentos da sua vida. No início, isso parece incrível, mas, aos poucos, ele percebe que “pular o tempo ruim” é também pular a vida com todas as suas dores e delícias.
Michael adianta brigas, doenças e dificuldades, mas também deixa de viver plenamente os momentos mais significativos devido ao modo automático adotado. Ele percebe, tarde demais, que o tempo vivido não pode ser acelerado sem consequências.
Para o filósofo alemão Heidegger, somos seres no tempo. Existir é saber que o tempo passa e que nós somos finitos. Já Henri Bergson faz uma distinção fundamental entre dois tipos de tempo: o tempo cronológico, medido por relógios e calendários, e o tempo vivido — aquele relativo, subjetivo, degustado e íntimo, que acontece dentro da consciência. Michael tenta fugir dessa realidade própria da condição humana, mas acaba enfrentando o vazio de uma vida “editada”.
Click pode ser visto como uma metáfora, até um tanto eufemista, da pressa pós moderna e da tentativa de eliminar tudo o que é incômodo. Mas a vida real não pode ser acelerada sem perder sua profundidade — e, quando isso acontece, nossa história se perde no mais abissal dos oceanos. Ao tentar evitar tudo o que considera desagradável, Michael também evita o aprendizado, o crescimento (dele e dos filhos) e, claro, o presente, além de perder o grande amor da sua vida.
O filme reforça a premissa de que não há controle remoto capaz de nos livrar da dor sem também nos roubar a alegria. O tempo, “senhor tão bonito quanto a cara do meu filho”, é uma fera indomável, mas que abre o coração para que possamos habitar e desfrutar de tudo aquilo que ele nos pode oferecer.
Na produção cinematográfica, Michael tem uma segunda chance, algo que não acontece na vida real. Então, eu te pergunto, caro leitor: o que você tem feito com o seu tempo?




