No dia 30 de agosto de 2002, uma das maiores tragédias aéreas do Acre marcou a história do estado. Um avião que partiu de Cruzeiro do Sul, fez escala em Tarauacá e caiu a poucos metros do Aeroporto Internacional de Rio Branco deixou 23 mortos e apenas seis sobreviventes. Entre eles estava a médica pneumologista Célia Rocha, que hoje, mais de duas décadas depois, encara a data como o dia em que nasceu de novo.
“A voz que dizia aqui no meu ouvido esquerdo, quando eu estava na UTI, dizia várias vezes ao dia: filha, força, você não tá só”, recorda.
O acidente ocorreu no fim da tarde, em meio a chuva e fortes ventos. Até hoje, as causas nunca foram totalmente esclarecidas. O relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) apontou fatores como condições climáticas e possíveis problemas relacionados à saúde mental dos tripulantes, mas não conseguiu determinar com precisão o que levou à queda.
Célia sobreviveu de forma quase inacreditável. “Eu fraturei todas as costelas, perfurei os dois pulmões, fraturei a coluna em dois lugares, tive hemorragia pulmonar, o baço rompeu, tive fraturas no olho, a minha mandíbula foi fraturada. O couro cabeludo foi todo arrancado”, relata.
Mesmo tão debilitada, conseguiu orientar o próprio resgate.
“Eu me identifiquei, falei como devia ser transportada, que eu não podia ser transportada deitada, e sim sentada. Agora é bênção divina.”
Foram 37 cirurgias até a recuperação. Anos depois, a médica enfrentou uma nova batalha: um câncer.
“Oito ciclos de quimioterapia. Não tive nenhuma reação, nada queimou com a radioterapia. Fazia quimioterapia, saía do hospital e ia comer no restaurante. Não tive enjoo, não caiu o cabelo. E hoje eu estou aqui.”
Para ela, a queda do avião não foi um fim, mas o início de uma vida diferente. Espírita, filha de nordestinos e apaixonada pelo Acre, Célia se dedicou a várias frentes: fundou a Escola Janela Mágica, participou da criação do Centro Espírita Irmão Gabriel e da primeira creche espírita do estado, além de ter atuado como diretora da Pronto Clínica, subsecretária de Saúde e vice-presidente de um clube de futebol.
“Todos os anos, nessa data, eu comemoro meu segundo aniversário. Se uma queda de avião não tirou minha vida, não vai ser a idade que vai fazer isso.”



