Nos últimos dias, o tema da greve no transporte público tem ganhado destaque nas ruas e nas redes sociais. No entanto, por trás dessa greve, há questões muito mais profundas do que apenas um reajuste salarial para motoristas. Um dos principais pontos em discussão é o subsídio tarifário. Mas o que é isso, e como afeta diretamente o seu dia a dia? Vamos tentar explicar de forma simples e clara.
O subsídio é, basicamente, uma ajuda financeira dada pelo governo para reduzir o custo de um serviço, ou produto, geralmente voltado para o público. No português “bem dizido” é o famoso “inteirar”.
No caso do nosso transporte público, a tarifa real de cada passageiro é de R$ 6,13, mas você não paga esse valor. O governo, por meio do subsídio, paga uma parte dessa tarifa – no valor de R$ 2,63.
Ou seja, a Prefeitura cobre R$ 2,63 de cada passagem, e o usuário paga apenas R$ 3,50. Esse subsídio tem o objetivo de tornar o transporte público mais acessível, especialmente para aqueles que têm menos recursos.
A ideia é boa: aliviar o bolso do cidadão e garantir que todos possam utilizar o transporte público, mesmo aqueles que, sem esse auxílio, não conseguiriam arcar com o custo integral.
Porém, até quando o subsídio vale a pena? Quando ele passa a se tornar insustentável? Essa é uma pergunta difícil, mas essencial para se pensar sobre a viabilidade desse modelo a longo prazo. O problema começa a surgir quando o subsídio começa a pressionar os cofres públicos de maneira significativa ou pior, quando não se vê, na prática, o impacto positivo desse subsídio na qualidade do serviço.
Do ponto de vista da qualidade do serviço, não há dúvidas sobre o que vemos todos os dias: ônibus quebrados, atrasos constantes, frota insuficiente, superlotação, condições precárias e, em casos não tão raros, salários e direitos dos trabalhadores em atraso. Isso é um reflexo claro de um sistema falido, que, apesar de receber recursos públicos, não entrega o mínimo esperado em termos de qualidade e eficiência.
Para piorar, a defesa do aumento do subsídio não está baseada em melhorias (ou promessas delas). A empresa, utiliza os funcionários como massa de manobra, explorando sua situação vulnerável para pressionar a Prefeitura e os vereadores a aumentarem o subsídio.
Muitos desses trabalhadores, cujos direitos frequentemente não são respeitados, estão sendo instrumentalizados como uma peça de negociação em um jogo político, onde a recomposição salarial é apresentada como uma condição para o aumento do subsídio.
É o uso da chantagem com o que deveria ser direito do trabalhador.
Do outro lado, é notório que a Prefeitura não tem, ou aparenta não ter, dinheiro suficiente para arcar com todos os gastos necessários. O que vemos são ruas esburacadas, creches fechadas por falta de profissionais, falta de médicos e medicamentos, e problemas constantes no abastecimento de água.
A pergunta que fica para a gestão é: vale a pena subsidiar mais a empresa de transporte público?
Vale lembrar que, ao aumentar o subsídio para cobrir as falhas do sistema, dois caminhos possíveis se abrem: aumento da arrecadação, ou seja, mais impostos para a população, ou então retirada de recursos de outras áreas essenciais, como infraestrutura, saúde, educação e saneamento básico.
Ambos os cenários têm uma consequência clara: a população é quem sai prejudicada. Em vez de ver melhorias nos serviços de saúde, educação e infraestrutura, o cidadão paga mais impostos ou sofre com a falta de investimentos nessas áreas cruciais.
No fim das contas, quem está no poder, sentado em seus escritórios com ar-condicionado e carros do ano, não sente o impacto real dessa situação. A caixa preta ainda está fechada e o máximo que eles chegam perto da realidade é quando veem um ônibus quebrado na rua.




