Durante a 72° sessão do Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC) ganhou repercussão após questionamentos sobre contratos do partido Republicanos-AC que apresentavam valores diferenciados conforme gênero e cor de pele. Para o juiz federal Jair Facundes, membro da Corte, a medida é “ofensiva” e com fez com que ele determinasse o envio do caso para investigação pelo Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF) e Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
“Isso me pareceu tão ofensivo, que no primeiro momento eu parei e digo, não, acho que eu que ando com muita sensibilidade. Imagine eu indo a um restaurante e o garçom dizendo: como o senhor é branco, 20 mil; como o senhor é pardo, 150 mil. Isso é crime”, afirmou o magistrado durante a sessão.
Defesa do advogado
O advogado Marcos Paulo Gomes, que atuou na defesa do Republicanos no período, contestou as críticas e alegou que houve uma interpretação equivocada dos contratos.
“É absolutamente falso que se tenha cobrado mais ou menos de algum candidato em razão de cor, sexo ou qualquer outro atributo. A diferença de valores é apenas em razão da quantidade total de candidatos de cada sexo e raça. O valor individual para cada candidato é exatamente o mesmo”, explicou em nota oficial.
Ele reforçou que os contratos foram elaborados conforme as regras do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que obrigam partidos a destinarem recursos específicos do Fundo Eleitoral para candidaturas de mulheres e pessoas negras, em contas bancárias separadas.
Em entrevista ao agazeta.net, Marcos Paulo afirmou que se sentiu injustiçado:
“Sou filho de mãe negra, pardo, defensor da causa e abomino qualquer prática racista. Houve um pré-julgamento que me revoltou. Sempre primarei meu trabalho pela honestidade e técnica.”
Advogado Marcos Paulo Gomes contestou as críticas e alegou que houve uma interpretação equivocada dos contratos – Foto: reprodução Redes Sociais
O que dizem os especialistas
Para esclarecer o tema, o advogado eleitoral, especialista em Prestação de Constas, Willy Paes explicou que a legislação eleitoral estabelece cotas obrigatórias. Pelo artigo 10 da Lei 9.504/1997, as chapas devem ter ao menos 30% de candidaturas femininas. Além disso, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) e resoluções do TSE, partidos devem destinar recursos do Fundo Eleitoral de acordo com a proporção de candidatos negros que lançarem.
Na prática, os contratos precisam especificar a distribuição por gênero e cor, já que os repasses devem ser feitos em contas bancárias distintas.
“Não existe diferença de preço por cor ou sexo. O que acontece é que algumas candidaturas recebem mais recursos do fundo, gerando maior volume de trabalho. Isso impacta nos contratos, mas não significa discriminação”, explicou Willy Paes.
Imagem da 72° sessão do Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE-AC) – Reprodução
Como funcionam os fundos partidários Fundo Partidário (FP): repasses mensais para manutenção dos partidos, formação política e, opcionalmente, campanhas eleitorais. Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC): verba pública usada exclusivamente em ano eleitoral para propaganda, materiais de campanha, transporte e alimentação de equipes.
Pelas regras, a distribuição do FEFC deve respeitar as cotas de gênero e raça, o que justifica contratos separados por grupos de candidatos.
A polêmica levantada no TRE-AC evidenciou a complexidade da legislação eleitoral e a necessidade de maior compreensão sobre como funcionam as cotas e os contratos partidários.
Segundo Marcos Paulo Gomes, o episódio acabou gerando “um pré-julgamento injusto”, enquanto especialistas defendem que situações assim mostram a importância de mais transparência e informação sobre o processo eleitoral.
“É um tema sensível e que precisa ser debatido com responsabilidade. A legislação muda rápido e exige dos partidos preparo, não só em questões referentes a essa, mas de uma forma geral”, concluiu Willy Paes.
O agazeta.net entrou em contato com a direção estadual do Republicanos, mas ainda não obteve resposta. O espaço segue aberto para um possível pronunciamento do partido.
Produção feita pela jornalista Gisele Almeida para o site Agazeta.net
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