Uma em cada seis crianças de até seis anos já foi vítima de racismo no Brasil. A constatação é da pesquisa Panorama da Primeira Infância: O Impacto do Racismo, divulgada na última segunda-feira (6) pela Fundação Maria Cecília Souto Vidigal. O estudo, realizado em abril deste ano, ouviu 2.206 pessoas em todo o país, incluindo 822 responsáveis por crianças de zero a seis anos. As entrevistas foram feitas presencialmente em locais de grande circulação, o que garante, segundo os organizadores, um retrato fiel da realidade das famílias brasileiras.
Os dados chamam atenção porque apontam que a maioria das ocorrências de racismo acontece justamente em ambientes que deveriam ser de acolhimento, proteção e aprendizado: creches e pré-escolas.
Em Rio Branco, no Centro de Educação Infantil Olindina Bezerra, a coordenadora pedagógica Celina afirma que em cinco anos apenas um episódio de preconceito foi identificado. O caso, segundo ela, foi tratado com diálogo.
“Nos últimos cinco anos já teve só um registro. A gente chama a família, conversa sobre a situação para que elas possam estar nos apoiando e auxiliando, para que não ocorra novamente a questão do preconceito.”
Celina ressalta que toda a equipe escolar recebe formação para lidar com possíveis situações de discriminação.
“A gente sempre está sentando e conversando, trazendo informações para que os educadores trabalhem de acordo com as situações que surgem ao longo do ano.”
Para a especialista em apoio pedagógico da unidade, Angélica Dourado, a parceria com as famílias é fundamental no enfrentamento ao racismo desde a infância.
“Começa aqui, mas se estende para fora. As famílias são disseminadoras dessa educação pautada em ética e respeito. Recebemos o feedback delas e percebemos o impacto positivo desse trabalho coletivo.”
A advogada e ativista Lúcia Ribeiro avalia que os números reforçam a urgência de políticas públicas específicas e de ações de conscientização.
“Infelizmente, a sociedade brasileira ainda entende que a criança negra não é destinatária de afeto e de proteção. O racismo se manifesta em todos os espaços: na creche, na escola fundamental, no ensino médio, na universidade.”
Ela ressalta que valorizar a diversidade é o caminho para uma educação mais justa e igualitária.
“As crianças percebem a diferença de cor, sabem que existem crianças brancas, pretas, pardas, indígenas e asiáticas. Essa diferença precisa ser exaltada e valorizada, mas nunca inferiorizada.”
O estudo reforça que combater o racismo desde os primeiros anos de vida é essencial para garantir uma infância plena, saudável e com igualdade de oportunidades.
Com informações do repórter Marilson Maia para TV Gazeta e editada pelo site Agazeta.net


