A maior delegação indígena da história do Acre já está em Belém (PA) para participar da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que ocorre entre 10 e 21 de novembro. São cerca de 200 indígenas, representando 13 povos de sete municípios acreanos, que se uniram para levar à conferência a voz dos povos da floresta.
Entre os povos representados estão Huni Kui, Puyanawa, Shanenawa, Nukini, Nawa, Shawadawa, Apolima Arara, Noke Koi (Katukina), Ashaninka, Xixinawa, Manchineri e Yura, este último participando pela primeira vez de um evento internacional. A caravana acreana reúne lideranças tradicionais, pajés, jovens e comunicadores que viajam por estrada e avião para garantir a presença do estado nas discussões climáticas globais.
De acordo com o cacique Ninawa Huni Kui, a participação do Acre na COP30 tem um valor simbólico e político sem precedentes.
“É a primeira vez que uma delegação tão representativa do Acre participa de um evento mundial como esse. Nossa mensagem é clara: é urgente demarcar e proteger nossos territórios. Essa é a ação que garante nossa sobrevivência e a do planeta.”

Demarcação e protagonismo como caminho para o futuro
Os representantes indígenas do Acre chegam à COP30 com uma pauta definida: demarcação das terras, reconhecimento dos direitos indígenas e valorização dos saberes tradicionais como soluções reais para o enfrentamento da crise climática.
O comunicador indígena Samuel Arara, que integra a delegação, explica que o protagonismo dos povos da floresta é essencial nas discussões ambientais.
“Vamos mostrar que os povos da floresta são parte da solução. Somos nós que cuidamos da biodiversidade e mantemos o equilíbrio da Amazônia. É preciso que o mundo nos escute e que as decisões tomadas aqui cheguem às aldeias.”
Parte desse protagonismo vem sendo fortalecido pela comunicação indígena, que tem ganhado espaço nas conferências climáticas. Onze comunicadores do coletivo Tetepawa Comunica estão em Belém produzindo vídeos, textos e registros fotográficos diretamente dos espaços da zona azul, cúpula dos povos e zona verde.
“Quando comunicamos com nossa própria voz, mostramos que a floresta fala através de nós”, completou Samuel.
Além da defesa dos territórios, os povos acreanos também apresentam experiências de gestão ambiental e planos de vida, projetos que unem tradição e sustentabilidade. “Queremos sair daqui com compromissos concretos”, diz Ninawa. “Sem os povos da floresta, não há Amazônia.”

Presença na COP30 é símbolo de resistência e união
A presença dos povos indígenas do Acre na COP30 representa resistência e união em um dos momentos mais importantes das discussões climáticas mundiais. Muitos participantes enfrentaram longas viagens, algumas de mais de dois dias, até Belém. A conferência, realizada no coração da Amazônia, dá novo peso às pautas históricas dos povos originários.
“Pela primeira vez, estamos falando da floresta dentro da floresta”, afirmou Ninawa. “Não podemos permitir que decidam sobre o nosso futuro sem nos ouvir.”
A delegação acreana leva ao evento uma mensagem de esperança, mas também de alerta: a defesa dos territórios indígenas é essencial para conter o avanço do desmatamento e garantir o futuro do planeta.
“O que está em jogo na COP30 não é só o futuro dos povos indígenas, é o futuro da humanidade. Quando defendemos nossos territórios, estamos defendendo a vida”, concluiu o cacique.

Produção: Danniely Avlis para o site Agazeta.net



