Os números relacionados ao suicídio entre jovens acendem um sinal de alerta no país. Dados da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) apontam que essa faixa etária apresenta risco elevado, com destaque para homens adultos e jovens, que concentram a maior parte das ocorrências fatais. A taxa chega a 31,2 mortes por 100 mil habitantes, índice considerado alto por especialistas.
Além da população urbana, o problema também atinge jovens indígenas, mesmo em contextos culturais distintos, conforme destacam pesquisadores que acompanham o avanço da violência e da vulnerabilidade social nos territórios tradicionais.
Crime e drogas ampliam vulnerabilidade
A pesquisadora Ketlen Apurinã ressalta que o cenário vai além de questões individuais e está diretamente ligado à ausência de políticas públicas eficazes.
“A gente tem que pensar nas políticas públicas, saúde, educação, porque o tráfico está chegando muito perto da população indígena, das comunidades indígenas. O crime organizado visa a juventude”, alertou.
Segundo o levantamento, o abuso de substâncias psicoativas aparece como a principal causa de internação de jovens em leitos de UTI, agravando quadros de sofrimento psíquico e aumentando o risco de comportamentos autolesivos.
Homens são maioria nas internações
A pesquisa da Fiocruz mostra que o sexo masculino representa mais de 60% das internações por saúde mental. O problema, segundo especialistas, é que após a alta hospitalar, muitos desses jovens não mantêm acompanhamento médico e psicológico, o que aumenta as chances de recaídas.
Contrariando o senso comum, profissionais reforçam que o suicídio não está ligado apenas ao uso de álcool ou drogas. Antes de uma tragédia, há o que a psicologia chama de ideação, caracterizada por sinais e mudanças de comportamento que, muitas vezes, passam despercebidos.
Pressão social e desigualdade
Para a psicóloga Ghabriely Freitas, fatores como pressão familiar, cobrança social e desigualdade econômica pesam de forma significativa sobre os mais jovens.
“Existe uma pressão social muito grande: o que vai ser, o que vai fazer. Quando falamos de famílias que não têm poder aquisitivo, isso pesa ainda mais, porque faltam referências e oportunidades”, explicou.
Ela destaca que o sofrimento é intensificado em contextos de vulnerabilidade financeira e social, onde o acesso à informação e ao cuidado especializado é limitado.
Rede pública sobrecarregada
Especialistas apontam que a falta de políticas públicas ou o sucateamento dos serviços existentes tem tornado os jovens ainda mais vulneráveis. Em Rio Branco, por exemplo, o Caps Infantil, que poderia atender crianças e adolescentes, ainda não foi inaugurado.
Já o Caps Samaúma enfrenta sobrecarga de trabalho, com número insuficiente de profissionais para uma demanda crescente, dificultando o acesso de quem depende exclusivamente do serviço público.
“Muitas vezes eles não pedem ajuda. Precisamos estar atentos aos sinais, mas a maioria das pessoas não percebe, porque está focada apenas nas redes sociais, que são superficiais e não mostram o que realmente acontece nos bastidores da vida”, completou Ghabriely.
Especialistas reforçam que falar sobre saúde mental salva vidas. Pessoas que estejam passando por sofrimento emocional ou conheçam alguém em risco podem buscar apoio gratuito e sigiloso por meio do Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo telefone 188, disponível 24 horas por dia, ou pelo site oficial da instituição.
Com informações de João Cardoso, para a TV Gazeta.



